O grupo de transportes Barraqueiro terminou 2021 com um prejuízo de 12,4 milhões de euros, recuperando face aos -18,3 milhões de 2020, mas registando o segundo exercício consecutivo com resultados negativos devido ao “forte impacto” da pandemia.

De acordo com o relatório e contas do grupo, no exercício passado, o EBITDA (resultados antes de impostos, juros, amortizações e depreciações) somou 29,2 milhões de euros e o investimento ascendeu a 12 milhões de euros, dos quais dois milhões referem-se a investimentos realizados em 2020, mas pagos em 2021.

“O ano de 2021 foi ainda muito pautado por várias medidas de combate à pandemia com impacto significativo para o negócio rodoviário do Grupo”, lê-se no documento, segundo o qual, “no âmbito do Grupo Barraqueiro, como em todo o setor dos transportes coletivos de passageiros, a crise pandémica teve um forte impacto”.

Conforme explica, “sendo uma grande parte das empresas de serviço público muito dependentes do transporte escolar, as pausas letivas decretadas pelo Governo ao longo do ano para controlar a propagação da pandemia, bem como os períodos de telescola e teletrabalho obrigatórios, tiveram um impacto significativo no número de passageiros transportados ao longo do ano”.

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“Outra medida para evitar a propagação do vírus covid-19 mantida em 2021, com enorme impacto no número de passageiros transportados, foi a limitação da lotação dentro dos autocarros”, acrescenta.

Assim, apesar do aumento de 12,6% nos passageiros transportados em 2021 face a 2020, registou-se ainda uma redução de 34,4% relativamente ao ano pré-pandémico de 2019.

No exercício passado, os proveitos consolidados do grupo Barraqueiro aumentaram 11,6%, para 350 milhões de euros, mas ficaram ainda 26% abaixo de 2019.

Na componente de transporte rodoviário de passageiros, o grupo aponta o “evidente contraste na mobilidade do serviço público face ao serviço comercial”: “Em 2021, enquanto a faturação no serviço público se aproximou para os valores pré-pandemia, no serviço comercial os receios quanto à transmissibilidade do vírus continuou a impedir a recuperação dos níveis de mobilidade não pendular de 2019, com especial incidência no primeiro semestre, motivo pelo qual a receita deste serviço ficou ainda 94 milhões de euros abaixo da verificada no ano 2019”, explica.

Relativamente ao negócio da carga, registou uma receita de 36,8 milhões de euros, representando 10,5% da receita consolidada, sendo que, face a 2020, a receita do segmento de transporte de carga/mercadorias registou um acréscimo de apenas 2,7%, ficando ainda 22% abaixo do valor do ano 2019.

Segundo o grupo, “esta lenta recuperação prende-se fundamentalmente com a crise mundial de falta de microchips e semicondutores para os sistemas de gestão dos motores, multimédia, navegação e climatização, situação que teve um impacto bastante negativo na produção e transporte de viaturas, atividade desenvolvida pela Rodocargo e que representa cerca de dois terços da receita total do negócio de transporte de carga”.

Quanto à faturação relativa às participações no Brasil, teve uma ponderação de apenas 3,6% da receita consolidada, sendo que, em moeda local, as três empresas participadas pela Barraqueiro no Brasil apresentaram um total de proveitos de 186,3 milhões de reais, um acréscimo de 18% face ao ano 2020.

Dada a percentagem de participação em cada uma dessas empresas e a desvalorização média de 7,6% do real face ao euro, o contributo para a faturação consolidada do grupo foi de 12,5 milhões de euros, um acréscimo de 9,7% face a 2020.

Analisando o peso de cada segmento de negócio nos proveitos do grupo Barraqueiro, o serviço comercial de transporte rodoviário de passageiros respondeu por 31,7%, seguido do serviço público de transporte rodoviário de passageiros (29,3%), do serviço público de transporte ferroviário de passageiros (24,9%), da carga/mercadorias (10,5%) e do serviço público de transporte rodoviário de passageiros no Brasil (3,6%).

Em 2021, a dívida financeira do grupo Barraqueiro atingiu os 196,6 milhões de euros, menos 25 milhões do que no anterior.

“A performance económica e financeira do Grupo em 2021 correspondeu inteiramente à trajetória de recuperação pós-covid traçada pelo Conselho de Administração no início de 2021 para os próximos anos”, lê-se no relatório, segundo o qual, “sendo quase certo que o ano 2023 será o primeiro ano completo sem qualquer restrição à mobilidade resultante dos efeitos da pandemia, […] haverá uma retoma do serviço comercial”, já esperada, até, para o segundo semestre de 2022.

Quanto a ameaças, sabemos já que existe uma pressão inflacionista em curso, acentuada com a guerra na Ucrânia, que cria uma pressão adicional nos custos de exploração. No entanto, estão já em vigor apoios, e assumimos que nos próximos anos, quer seja por essa via indireta quer pela adequação dos preços dos serviços de transporte à inflação, é possível perspetivar um aumento gradual da rentabilidade do grupo”, avança.

Assim, “com a progressiva retoma do EBITDA e com a redução dos níveis de investimento”, o grupo antecipa “um desendividamento significativo nos próximos anos” que o fará “convergir para os rácios de financiamento e solvabilidade atingidos em 2018/19, os anos anteriores à pandemia do covid-19”.

Para o triénio 2022-2024, o grupo Barraqueiro prevê investir na renovação da frota de autocarros, perspetivando a compra de 124 viaturas este ano, 35 em 2023 e 84 em 2024. Deste total de 243 autocarros, 173 serão elétricos.

O grupo diz ter ainda celebrado um protocolo de colaboração com a Salvador Caetano para o desenvolvimento de uma viatura a hidrogénio “que possa dar resposta às necessidades do segmento de turismo/expressos, bem como no segmento urbano”.