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"Importa percebermos que, por trás do jogador, primeiro está o homem": os bastidores do Estágio do Jogador (à espera de uma oportunidade)

Este artigo tem mais de 1 ano

No Estágio do Jogador, atletas sem clube trabalham em busca de uma "nova oportunidade". No entanto, o trabalho do Sindicato vai além das quatro linhas – e tem impacto direto na vida dos jogadores.

Treino no Campus do Jogador em Odivelas
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Manhã de treino no Campus do Jogador, em Odivelas, onde os atletas procuram "agarrar a oportunidade"

Manhã de treino no Campus do Jogador, em Odivelas, onde os atletas procuram "agarrar a oportunidade"

Há dez anos, Agostinho Cá assinou pelo Barcelona. Quando veio da Guiné-Bissau para Portugal, era para assinar pelo Benfica, foi recusado e acabou no Sporting, de onde acabaria por transferir-se com o então companheiro Edgar Ié para a Catalunha. Hoje, desloca-se todos os dias a Odivelas, ao Campus do Jogador, onde mantém a forma no Estágio do Jogador. No meio dos exercícios habituais, é um dos rostos familiares que saltam à vista: “Estava em casa, estava sem clube e um amigo disse-me que iam começar os treinos do Sindicato. Quis vir para manter a forma e, se surgir uma oportunidade, é para agarrar”.

Esta vontade de “agarrar uma oportunidade” é comum a todos os jogadores que participam no Estágio do Jogador. Até ao fim de agosto, o Sindicato dos Jogadores organiza treinos e jogos para um grupo de atletas que ainda não arranjaram clube. O objetivo é que os atletas estejam nas melhores condições físicas e se exibam a potenciais interessados, algo que tem acontecido com frequência em temporadas anteriores. No caso de Agostinho Cá, já não há essa grande ambição de atingir os maiores palcos do futebol. Neste momento, o médio tem apenas um desejo: “Trabalhar todos os dias para poder jogar futebol”.

Um desejo partilhado por todos os que com ele ali treinam, a começar pelo avançado Diogo Ramos. Depois de uma passagem de sucesso pelo futebol do Chipre – em três épocas marcou 60 golos –, o atleta decidiu voltar a Portugal e dar prioridade à família. No entanto, do ponto de vista desportivo, a opção não correu da melhor forma: apontou apenas um golo em 24 jogos pelo Anadia, clube que esteve na Liga 3.

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Agora, com 35 anos, encontra-se com dificuldades para encontrar clube. “Os projetos são cada vez mais difíceis para os jogadores com alguma idade. O nosso país é um país muito vendedor e que aposta muito na valorização de jovens. Fica difícil para jogadores na minha faixa etária”, explica.

Ainda assim, Diogo Ramos continua com a ambição de poder jogar futebol, mesmo que para isso tenha de, pela primeira vez na carreira, abdicar de ser profissional. “Sempre vivi do futebol, sempre fui profissional. Se calhar este ano vou ter de passar a ser amador. Mas quero jogar mais quatro ou cinco anos porque sinto-me muito bem fisicamente”, revela o atleta com formação no FC Porto.

Esta é a 20.ª edição do Estágio do Jogador, no ano em que o Sindicato dos Jogadores celebra o 50.º aniversário. Para orientar o grupo deste ano, os responsáveis escolheram Fernando Santos, um homónimo do selecionador nacional mas que é mais conhecido no mundo do futebol como Nandinho (antigo avançado que se notabilizou pelo Salgueiros, passou pelo Benfica, esteve em V. Guimarães e Gil Vicente). Para o treinador, o mais importante neste projeto é ser realista com os jogadores. “É importante percebermos que, por trás do jogador, primeiro está o homem. Não podemos iludir os jogadores. Se estão aqui, é porque a época passada não correu bem, porque vieram de lesões ou porque já estão em final de carreira. Nestes casos, a visibilidade é menor e as oportunidades acabam por escassear”, detalha o agora treinador que, nessa condição, passou por Gil Vicente, Famalicão e equipa B dos espanhóis do Almeria.

Ao longo das 19 edições anteriores, o Estágio do Jogador já valeu um contrato a mais de 600 atletas

Alguns membros do staff referem que os jogadores podem, por vezes, ter vergonha de participar no estágio, assumindo que se trata do reconhecer de que estão numa situação difícil. “Eu percebo a vergonha mas não faz sentido. Temos de lhes explicar o contexto mas isto não é o fim de nada”, sublinha Nandinho.

Mesmo que os atletas não consigam clube, o trabalho desenvolvido no Estágio do Jogador não se resume apenas à componente desportiva. Carlos Fernandes é o atual treinador de guarda-redes da equipa do Sindicato e não tem problemas em assumir a importância do Estágio numa fase particularmente complicada da sua vida.

Em 2019, fiquei sem clube e pensei em ‘pendurar as luvas’, como se costuma dizer. Fiquei sem saber o que havia de fazer. Isolei-me do mundo, fiquei fechado em casa. Nessa fase, foi como se os holofotes se tivessem apagado”, desabafa.

Carlos Fernandes assume que passou por problemas de saúde mental e aponta o “amigo” Joaquim Evangelista, presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, como uma ajuda fundamental. Depois de uma carreira de Primeira Liga, Liga dos Campeões, Taça das Nações Africanas (é internacional pela seleção angolana), o choque foi grande e o Sindicato foi uma espécie de tábua de salvação.

Ajudou-me no sentido de me aproximar da realidade que vivia, fez-me voltar a sentir o cheiro da relva, algo que me trouxe de volta as lembranças do passado”, indica.

Assegurar apoio para casos como o de Carlos Fernandes é a prioridade do Sindicato. “O nosso foco é o jogador e queremos que o estágio vá além da componente desportiva. Queremos que seja um espaço onde os jogadores tratem da saúde, da sua vida, do pós carreira”, explica Joaquim Evangelista.

Neste sentido, os jogadores que se deslocam todos os dias de manhã ao Campus do Jogador não vão necessariamente treinar. O programa do Estágio do Jogador inclui ações de formação para, nas palavras do presidente, garantir aos jogadores um “plano B”. Ainda assim, e naturalmente, a componente desportiva está sempre em evidência. Neste campo, Joaquim Evangelista considera que os resultados são positivos: “Nas 19 últimas edições, participaram na totalidade mais de 1.000 jogadores e mais de 600 desses celebraram contrato. Uma taxa de empregabilidade de 61%. É obra”, afirma.

Com estes resultados, o presidente deixa a garantia de pretender continuar a trabalhar em prol dos interesses dos jogadores e treinadores portugueses. E os atletas agradecem. “Não há que ter vergonha. Participar no Estágio é a maior oportunidade para o jogador português. É um privilégio”, sublinha o avançado Diogo Ramos.

Ouça aqui a Reportagem Observador no Estágio do Jogador.

Estágio do Jogador dá “oportunidades” para lá das quatro linhas. “Em primeiro lugar está o homem”

 
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