Vinte e três mil no primeiro treino aberto aos adeptos na Luz, pelo menos o dobro com a perspetiva de casa cheia (tecnicamente, tendo em conta que muitos bilhetes de época vendidos podiam não ter a sua cadeira ocupada por ser uma altura de férias) no primeiro jogo da temporada na Luz. Quatro anos depois, estava de regresso a Eusébio Cup, desta vez com o Newcastle – de quem se esperava muito no mercado depois da compra pelo fundo soberano da Arábia Saudita mas que garantiu apenas até ao momento Nick Pope, Sven Botman e Matt Targett – como adversário naquele que seria num plano teórico o teste mais complicado do Benfica nesta fase a uma semana da estreia oficial em 2022/23 na pré-eliminatória da Liga dos Campeões.

Foi até ele agarrar na Bahtuta para a reviravolta (a crónica do Benfica-Girona)

Até agora, Roger Schmidt levava quatro jogos à porta aberta nesta nova era iniciada pelo técnico alemão: 2-0 com os ingleses do Reading, 3-0 frente aos franceses do Nice, 5-1 diante dos ingleses Fulham, 4-2 ante os espanhóis do Girona. E que notas principais ficaram? A facilidade que a equipa num 4x2x3x1 tem de criar oportunidades (e concretizar parte das mesmas), a capacidade de pressionar alto numa reação à perda que não só condiciona a construção contrária como permite ficar mais perto da baliza com bola em caso de recuperação, a importância que Enzo Férnandez terá na estratégia com e sem posse, alguns problemas nas bolas paradas defensivas que valeram três golos sofridos. Para primeiro retrato, era este o resumo.

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No encontro com o Newcastle, mesmo estando em jogo um troféu por uma questão de prestígio também, o antigo treinador do PSV procurava mais do que um retrato e queria um esboço de filme que lhe permitisse tirar as dúvidas ainda existentes para o início da terceira pré-eliminatória de acesso à fase de grupos Champions, o primeiro grande objetivo dos encarnados. E já tinha um ponto de partida, tendo em conta que começou sempre com o mesmo onze nos últimos três encontros à exceção do guarda-redes onde ia alternando entre Helton Leite e Vlachodimos. De resto, Gilberto, Otamendi, Morato, Grimaldo, Florentino Luís, Enzo Fernández, David Neres, Rafa, João Mário e Gonçalo Ramos, com Alexander Bah, Vertonghen e Henrique Araújo a saírem do banco na segunda parte para deixarem também boas indicações em campo.

Assim, foi quase de forma natural que Schmidt voltou a apostar nos mesmos dez jogadores pela quarta vez consecutiva, juntando desta vez Vlachodimos, que pode estar de saída, na baliza. E a primeira parte, entre alguns erros sobretudo pelo lado esquerdo da defesa que também existiram porque o conjunto inglês já tinha outros argumentos para criar problemas, voltou a confirmar as boas indicações com Rafa e Enzo Fernández como principais destaques, sobretudo o argentino que se mostra cada vez mais confiante e com capacidade de arriscar no comando do jogo em posse e sem bola. Depois, no segundo tempo, a qualidade caiu mas a vitória acabou mesmo por chegar à beira do fim e por Henrique Araújo, o jovem avançado que está prestes a renovar oficialmente o contrato com os encarnados e que é a grande aposta dos responsáveis a nível de formação a breve prazo, que marcou o 3-2 e carimbou a Eusébio Cup.

A explorar muitas vezes a profundidade com Callum Wilson e o imprevisível Saint-Maximin, o Newcastle até foi a primeira equipa a beneficiar de uma boa oportunidade para inaugurar o marcador com Almirón a fazer a diagonal de fora para dentro, a aparecer nas costas de Grimaldo (que não ficou nada bem no lance) e a desviar em posição privilegiada ao lado da baliza de Vlachodimos (4′). No entanto, e com os passar dos minutos, o Benfica foi conseguindo agarrar no controlo do jogo, teve um primeiro aviso numa combinação entre Neres e Gilberto com cruzamento sem finalização de João Mário (9′) e inaugurou o marcador de bola parada como já acontecera antes, com Gonçalo Ramos a desviar de cabeça ao primeiro poste um canto de João Mário que conseguiu surpreender a defesa à zona montada pela equipa inglesa (15′).

Só nos dez minutos iniciais, o Benfica conseguiu recuperar quatro bolas no primeiro terço ou à saída do Newcastle. Só nos 20 minutos iniciais, Rafa encontrou o espaço entre linhas para sair rápido virado para a baliza e ser carregado em falta para amarelo ou iniciar jogadas de perigo. Os encarnados conseguiam deixar algumas das principais marcas da ideia de jogo montada por Roger Schmidt, com o internacional português a ser o foco no ataque com Enzo Fernández a tomar conta dos ritmos no meio-campo, mas numa jogada bem trabalhada mas com vários erros de marcação e compensações a terminar com Trippier a aparecer nas costas de Grimaldo surgiu mesmo o empate, com Almirón a encostar sozinho na área (22′).

O jogo estava bom, era disputado com um apreciável ritmo tendo em conta a fase da temporada em que era jogado mas a maior qualidade do Benfica acabou por vir ao de cima de forma natural. Quando os ingleses adiantavam linhas, Gonçalo Ramos e Rafa desciam e encontravam aí o tempo e espaço para receberem e dispararem em direção da baliza de Nick Pope; em ataque organizado, a velocidade de circulação entre os três corredores conseguia criar desequilíbrio sempre com Enzo Fernández como o pêndulo nas variações e na procura da profundidade (a arriscar muito mais no passe). O 2-1 surgiria num grande golo de livre direto de Grimaldo (32′) mas também de bola corrida houve oportunidades travadas por Pope até novo empate perto do intervalo com Almirón a ganhar de novo espaço na esquerda para o remate cruzado (44′).

No segundo tempo, o Newcastle, com várias alterações, conseguiu entrar melhor e beneficiou de uma boa oportunidade pelo avançado Chris Wood mas os minutos foram passando sem mais chance e com a equipa da casa, mesmo nos momentos em posse, a encontrar muitas mais dificuldades para entrar no último terço contrário. Foi também por isso, olhando ainda para a vertente física, que Schmidt trocou David Neres, Enzo Fernández e Gonçalo Ramos por Weigl, Chiquinho e Yaremchuk a meia hora do final. No entanto, os encarnados pouco ou nada melhoraram no plano ofensivo e o empate foi-se mantendo com os adeptos a fazerem a festa por si nas bancadas sem motivos para fazer a festa pelo que viam em campo.

A 15 minutos do final, já depois de uma grande intervenção de Vlachodimos a evitar o golo de Murphy que surgiu isolado na área descaído sobre a esquerda, o técnico alemão voltou a mexer, lançando em campo Henrique Araújo para o lugar de Rafa entre mais duas mexidas na equipa (Bah por Gilberto, Diego Moreira por João Mário). E seria mesmo o jovem avançado, numa altura em que Joelinton já tinha sido expulso por uma entrada muito dura sobre Florentino Luís, a fazer o 3-2 final aos 89′ após assistência de Yaremchuk naquele que foi o único remate feito no segundo tempo. À beira de renovar contrato pelos encarnados, Henrique Araújo, a grande aposta de futuro a nível de formação, “ofereceu” a Eusébio Cup.