Quase 30.000 pessoas em Sheffield, um ambiente fantástico nas bancadas que contavam com a presença de muitas caras conhecidas (uma delas era Harry Maguire, internacional inglês do Manchester United), um grande jogo de futebol que começou com uma cara de total domínio sueco mas que teve sobretudo o rosto de uma Inglaterra a dominar até chegar à goleada. O arranque das meias-finais do Campeonato da Europa feminino não poderia ter sido um exemplo melhor do crescimento e da competitividade da prova, com a equipa da casa a voltar a um encontro decisivo em busca da primeira vitória na competição depois dos desaires com Suécia (1948) e Alemanha (2009). Seguia-se agora um jogo ainda mais de cartaz.

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De um lado, e com aparente favoritismo teórico até por questões históricas, estava a Alemanha. A equipa comandada por Martina Voss-Tecklenburg, que tem apenas duas jogadoras fora do país entre as 23 eleitas para a competição (Sara Däbritz do PSG e Ann-Katrin Berger do Chelsea), teve adversárias fortes logo na fase de grupos como Espanha ou Dinamarca mas foi somando por vitórias todos os encontros disputados e com a particularidade de não ter sofrido qualquer golo ao longo de 360 minutos realizados (marcou 11). Desde 1989, quando se sagrou pela primeira vez campeã ainda como RFA, as germânicas nunca estiveram mais do que uma edição sem ganhar entre os seis troféus consecutivos entre 1995 e 2013 apenas travados em 2017 com uma eliminação nos quartos com a Dinamarca (ganharam os Países Baixos).

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Do outro, com muitos a apostarem no ano da “afirmação”, encontrava-se a França. A formação de Corinne Diacre, que em comparação com as rivais alemãs surgia com mais jogadores em ligas internacionais mas a base assente em Lyon e PSG, ganhou o grupo D sem deslumbrar diante de Itália, Bélgica e Islândia, tendo depois afastado nos quartos a equipa campeã em título, os Países Baixos, com um único golo surgido no prolongamento numa grande penalidade de Périsset. Agora, tinha pela frente uma espécie de momento da verdade para quebrar aquilo que surgia quase como um paradoxo entre clubes e seleção: se nas últimas 13 edições da Champions houve pelo menos uma equipa francesa em 11, a equipa A nacional nunca tinha às meias-finais de um Europeu e nunca atingiu também a final em Mundiais e Jogos Olímpicos.

Era neste contexto que surgia o encontro marcado para Milton Keynes, com essa notícia de última hora da ausência de Klara Buhl, uma das principais estrelas da Alemanha, por ter testado positivo à Covid-19. E foi neste contexto que apareceu de novo aquela que está a ser a grande figura das germânicas, a capitã de equipa Alexandra Popp, para decidir o jogo com um bis quando, caso não existisse adiamento da prova devido à pandemia, nem sequer estaria presente perante uma lesão grave contraída no joelho. Se quando era mais nova já tinha uma autorização especial para jogar com os rapazes, a jogadora do Wolfsburgo foi crescendo depois na seleção enquanto realizou o sonho de se tornar tratadora de animais no Jardim Zoológico de Essehof (onde estagiou durante três anos) após um ano a estudar fisioterapia.

Ao contrário do que tinha acontecido na véspera no Inglaterra-Suécia, que teve logo quatro oportunidades e uma bola na trave nos dez minutos iniciais, o arranque do Alemanha-França foi bem mais contido nesse ponto, com as germânicas a demonstrarem grande capacidade de travarem o perigo francês através das transições e as gaulesas a tentarem defender de forma organizada até as alemãs começarem a conseguir encontrar os espaços entre linhas para passarem para outro nível de perigo alavancado no maior domínio de jogo, ficando perto do golo num livre direto de Alexandra Popp para grande defesa de Pauline Peyraud-Magnin (22′). Ficou o aviso mas a vantagem não demoraria muito mais, com a jogadora do Wolfsburgo a fazer o quinto golo no Europeu surgindo de forma oportuna ao segundo poste para o 1-0 (40′).

Até pelo momento do jogo em que surgiu esse golo, tudo apontava para que o intervalo chegasse com a Alemanha na frente mas foi aí que a França teve aquela dose de fortuna que lhe faltou depois no segundo tempo: Diani arriscou um remate forte de meia distância, a bola bateu no poste, foi. às costas da guarda-redes Merle Frohms e entrou mesmo na baliza germânica para o 1-1 com que se atingiu o descanso (44′). Mais do que isso, e apesar de uma boa oportunidade desperdiçada por Huth, foi o dínamo para a equipa gaulesa aparecer de forma bem mais pragmática no ataque, criando ocasiões para marcar por Diani, Wendie Renard e Bacha que só não deram a reviravolta pelo brilho de Frohms na baliza.

Estava tudo em aberto para o último quarto de hora, com esse ascendente anímico de uma França que acreditava cada vez mais ser possível bater a toda poderosa Alemanha. No entanto, acabou por imperar na fase decisiva a eficácia e mais uma vez com Popp como protagonista, aparecendo no segundo andar na área para desviar de cabeça um cruzamento da direita e fazer o 2-1 (76′). As gaulesas ainda tentaram, Bacha rematou a rasar o poste de fora da área mas estava mesmo confirmada a reedição da final de 2009, com a Alemanha a tentar o seu nono título europeu frente a uma Inglaterra que nunca ganhou a prova.