Vila Pouca de Aguiar perdeu cerca de 4.000 hectares de pinhal, mato e culturas agrícolas nos dois grandes incêndios que lavraram no concelho nas duas últimas semanas, com um prejuízo financeiro elevado para as populações locais.

“Com prejuízos muito significativos. Estamos a falar de uma área de pinhal adulto muito significativa, com pinheiros com mais de 20 anos e muitas dessas áreas com intervenções recentes, mas que não foram suficientes, devido aos ventos que tivemos, para evitar a propagação do incêndio“, afirmou o presidente da câmara de Vila Pouca de Aguiar, Alberto Machado.

Na quarta-feira deflagrou um fogo em Revel, que ainda está ativo. Entre 17 e 21 de julho um outro incêndio que começou em Cortinhas, Murça, evoluiu também para Vila Pouca de Aguiar.

No total dos dois incêndios o concelho já perdeu, segundo Alberto Machado, 4.000 hectares, cerca de metade em cada ocorrência.

O Gabinete de Apoio ao Agricultor do município já está a fazer o levantamento deste fogo mais recente que atingiu, para além da floresta, áreas de souto, olival e amendoal.

“Desses soutos atingidos, muitos deles estavam em produção”, afirmou Alberto Machado.

O presidente disse que se trata de “um prejuízo financeiro muito grande e que vai interferir muito na socioeconomia local“.

“Porque a atividade agrícola é muitas vezes complementar às pequenas reformas que têm os nossos mais idosos. A apicultura, a produção florestal, a produção agrícola, a castanha, os frutos secos, o azeite, a amêndoa, tudo isso são complementos muito importantes à sustentabilidade destes territórios“, sustentou.

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Por isso, à semelhança do que já aconteceu com o incêndio de Murça, o autarca reclama também apoios imediatos para os produtores que perderam o alimento dos seus animais, bem como para os apicultores porque as abelhas “perderam a flora e têm de ser alimentadas“.

“Dar uma resposta imediata a quem mais precisa e, depois, fazer uma planificação para que se possam atenuar estes prejuízos e ter uma visão, um planeamento do território diferente no médio e longo prazo”, frisou.

José Avelino Macedo foi só dar uma volta de trator pelos seus terrenos à volta de Revel. O regresso à aldeia foi triste. “Vem uma pessoa desanimada. Vi castanheiros todos queimados. O meu souto estava lavrado mas, mesmo assim, ficou tudo queimado. Ainda tivemos prejuízos” afirmou.

E continuou: “Uma pessoa anda a trabalhar, a trabalhar para chegar e ver as coisas estragadas”.

Maria Argentina perdeu um pinhal e cerca de 50 castanheiros onde colhia “25 a 30 sacas de castanhas”.

“Antes eles que nós. O terreno lá fica, que havemos de fazer”, salientou, recordando uma noite muito complicada na aldeia de Revel “cercada pelo fogo”.

O alerta para o fogo de Revel foi dado às 17h14 de quarta-feira, e, em pouco tempo, verificou-se uma grande mobilização de meios para esta ocorrência que teve uma progressão muito rápida em zona de pinhal e chegou a avançar em três frentes.

Segundo o “site” da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), o fogo mobilizava, pelas 16h00 deste dia, 443 operacionais e 136 viaturas e seis meios aéreos.

Fonte da GNR disse à agência Lusa que um homem na casa dos 50 anos foi constituído arguido pela suspeita de realização de trabalhos na floresta que poderão ter estado na origem deste incêndio.

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O homem estaria, segundo o presidente Alberto Machado, a fazer uma atividade de limpeza que não poderia fazer nesta altura e que poderá sido essa a “causa negligente” deste incêndio.