O padre afastado pelo Patriarcado de Lisboa por suspeita de violação, que esta segunda-feira tornou o caso público e anunciou ter feito denúncia às autoridades competentes, é da zona de Cascais e a sua alegada vítima é uma mulher, avançou a TVI e a CNN. O Observador sabe que foi a própria mulher, maior de idade e que já teria uma relação de longa data com o padre, a apresentar a queixa de ter sido violada à GNR, tendo-se também deslocado ao hospital. Mas a PJ não tem conhecimento do caso, nem recebeu até à data qualquer informação.

Patriarcado de Lisboa afasta padre após receber denúncia de violação — e comunicou o caso à polícia

À TVI, a alegada vítima acusa o padre — identificado pela estação como sendo o capelão do hospital de Alcoitão, João Cândido da Silva –, com quem mantinha um caso amoroso secreto, de a ter agredido e não ter correspondido aos pedidos para que parasse. “Ele quis sexo à bruta, queria que eu fosse a escrava sexual dele. Bateu-me, deixou-me toda negra. Eu gritava para ele parar — ‘Pára, João! Pára, João!’ – e ele não parou”, relatou, garantindo que os exames feitos no hospital constam do processo.

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A mulher, viúva, diz que o padre tentou comprar o seu silêncio, tendo-lhe dado um “rolo de notas” no dia seguinte e pedido perdão. Algo que recusou prontamente, garante: “Tu vais preso. Vais pagar pelo que me fizeste a mim e a mais alguém”.

Na entrevista à mesma estação televisiva, a alegada vítima diz que o Cardeal Patriarca de Lisboa, a quem denunciou o caso, lhe terá dito apenas para não tornar o caso público – “Não vá com isso para a televisão”. À TVI, D. Manuel Clemente negou a acusação. “Não foi pedida qualquer ocultação”, garantiu.

O Patriarcado de Lisboa anunciou o afastamento do padre depois de ter recebido a denúncia sobre um “possível crime de violação” praticado pelo sacerdote num comunicado de imprensa. Nesse mesmo comunicado, indicava ter comunicado o caso “às autoridades civis competentes” e sublinhava não se tratar de um crime contra um menor de idade.

De acordo com a Rádio Renascença, tratar-se-á de um caso muito recente, deste mês de julho, e o conhecimento entre a vítima e o padre tinha ocorrido antes da ordenação sacerdotal.

“Ouvida a vítima e o sacerdote, o Patriarcado de Lisboa decidiu dar início aos procedimentos canónicos previstos para este tipo de casos e afastou o padre de todas as suas funções até ao apuramento dos factos”, acrescentava a nota da instituição liderada pelo cardeal D. Manuel Clemente.

O comunicado surge uma semana depois de o Observador ter noticiado a ocultação de uma denúncia dentro do Patriarcado de Lisboa, em 1999, que nunca foi comunicada às autoridades civis — nem pelo antigo patriarca, D. José Policarpo, nem pelo atual patriarca, D. Manuel Clemente, que se reuniu com a vítima em 2019.

Patriarca de Lisboa recebeu denúncia de abusos e reuniu-se com vítima. Mas manteve padre em funções e não comunicou caso à polícia

Na sequência da notícia do Observador, o cardeal-patriarca de Lisboa escreveu uma carta aberta a justificar as suas ações. No documento, D. Manuel Clemente disse que considerava que, quando se encontrou com a vítima em 2019, não estava em causa uma nova denúncia contra o sacerdote (caso em que teria comunicado às autoridades), mas apenas uma partilha de um testemunho por parte de uma vítima de um caso já resolvido no passado.

Um caso resolvido no passado e os padrões que não correspondem aos de hoje. A carta aberta de D. Manuel Clemente nas entrelinhas

Ainda assim, na mesma carta aberta, D. Manuel Clemente sublinhou que o modo como o caso foi tratado na década de 1990 — o padre foi simplesmente transferido das paróquias onde trabalhava para uma capelania hospitalar — não corresponde “aos padrões e recomendações que hoje todos queremos ver implementados“.