O ministro da Justiça francês, Éric Dupond-Moretti, declarou que, a partir de agora, todos os projetos com o propósito de promover a reintegração dos detidos nas prisões francesas vão seguir regras bem definidas, sendo sempre “submetidos a validação” da direção da administração da administração penitenciária. “Na sequência do relatório de investigação, vou criar uma circular para definir claramente as condições necessárias para a realização de projetos de reintegração na prisão. Agora, todos terão que ser submetidos a validação expressa pela direção da administração penitenciária”, escreveu, esta terça-feira, na rede social Twitter.

Este relatório de investigação diz respeito a uma polémica que explodiu a 20 de agosto: um vídeo de 25 minutos mostrava prisioneiros da prisão de Fresnes, o segundo maior estabelecimento prisional de França, a participarem em vários jogos e atividades, incluindo num circuito de karts e numa piscina instalada no pátio desta prisão. Ao conjunto de jogos deu-se o nome de Kohlantess (numa alusão ao reality-show, baseado no formato survivor, Les Aventuriers de Koh-Lanta), tendo o mesmo feito parte de um evento que reuniu detidos com sentenças curtas, funcionários prisionais e jovens desta zona do sul de Paris.

Apesar de o objetivo passar por promover a reintegração social dos detidos, as imagens que foram divulgadas no Youtube geraram controvérsia dentro Governo francês. Apesar de o departamento de comunicações do Ministério da Justiça deste país ter aprovado o projeto e visto o filme antes de este ser transmitido, Dupond-Moretti descreveu o vídeo como “chocante” e ordenou, logo nessa altura, uma investigação interna. “A luta contra a reincidência envolve a reabilitação [dos prisioneiros], mas certamente não envolve karts”, declarou. “Depois das imagens chocantes da prisão de Fresnes, ordenei imediatamente uma investigação”, escreveu na rede social Twitter.

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Apesar do tom desconcertado, o jornal Le Figaro avançou que a aprovação daqueles jogos e o lançamento do filme foram uma decisão ao “mais alto nível” no Ministério da Justiça, ainda que sem o conhecimento do circuito de kart. “O que nos foi apresentado não mencionou o kart; falava de desafios desportivos, como saltar à corda”, disse um funcionário, que preferiu manter o anonimato.

Já Jimmy Delliste, diretor da prisão de Fresns, defendeu o evento, considerando-o um “momento fraterno”, agradecendo aos seus organizadores. O vídeo foi gravado a 27 de julho e, além dos detidos com sentenças curtas, estiveram presentes funcionários do estabelecimento prisional e jovens de  Frens. As receitas serviam para ajudar três associações de cariz solidário, tendo sido, de acordo com Delliste, angariados 1.700€. Além disso, salientou, o objetivo do evento servia ainda promover a reinserção dos detidos e sensibilizar os mais novos para a realidade da vida na prisão.

Os partidos franceses não demoraram a reagir às imagens. “As nossas prisões não são campos de férias onde prisioneiros e guardas fazem laços de amizade”, declarou Éric Ciotti, do partido de centro-direita francês Les Républicains. “Há uma forma de hipocrisia do ministro… ou ele foi informado ou não foi. Ele não pode exigir uma investigação se seu escritório foi informado. O ministro tem que explicar. Essas imagens chocaram muitos franceses e muitas vítimas”.

Hélène Laporte, deputada e vice-presidente do Agrupamento Nacional (RN) da extrema-direita, também mostrou indignação na rede social Twitter: “”Na prisão de Fresnes organizam-se atividades estivais para os detidos: ‘karting’, piscina, etc. Ao mesmo tempo, uma cada três crianças não vai de férias por falta de meios. Os contribuintes estarão muito felizes em saber para onde está a ir o seu dinheiro”.