Ao intervalo da visita do FC Porto ao Rio Ave, quando os vilacondenses já venciam por três golos de diferença, existia um dado estatístico que permitia perceber que os dragões não estavam na máxima força: em 45 minutos, tinham feito apenas uma falta. Algo que nunca tinha acontecido com Sérgio Conceição e algo que, no próprio clube, não acontecia desde fevereiro de 2016.

Sérgio diz que adora ler mas está na hora de dar a volta ao texto (a crónica do Rio Ave-FC Porto)

Ora, essa ausência de faltas, que fez com que o Rio Ave terminasse com 11 cometidas e o FC Porto com apenas oito, era o espelho da escassez de intensidade da equipa. Os dragões pecaram na reação à perda de bola, pecaram no encurtamento de espaços e pecaram nas tarefas defensivas para fazer face às transições rápidas do adversário. Enquanto resultado, o FC Porto perdeu pela primeira vez no Campeonato após três vitórias consecutivas, já ficou com menos um ponto do que o Sp. Braga e pode ficar a três do Benfica se os encarnados vencerem o P. Ferreira na terça-feira.

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Há 18 anos que o Rio Ave não vencia o FC Porto, desde 2004 e dos tempos de Carlos Brito em Vila do Conde, e nunca os vilacondenses tinham marcado três golos aos dragões. Há oito meses que a equipa de Sérgio Conceição não sofria três golos, desde o encontro da Liga dos Campeões com o Atl. Madrid, e há quase dois anos que uma equipa não marcava três golos ao FC Porto no Campeonato, sendo que na altura foi o Tondela.

Na zona de entrevistas rápidas, Sérgio Conceição não escondeu o desagrado com a exibição da equipa, principalmente na primeira parte. “Já tínhamos passado por momentos iguais em Vizela, onde dissecámos ao máximo esse jogo. Na primeira parte faltou tudo. Não podemos ter intenção de pressionar e depois não sermos nem uma coisa nem outra. Temos uma falta na primeira parte, isto não existe. Os duelos perdidos, as segundas bolas perdidas. O 3-0 nasceu de uma segunda bola perdida por nós. Atitude muito distante no jogo. Em termos estratégicos, sou o culpado. Cabe-me a mim, que sou o treinador, assumir a responsabilidade pelo que se passou. O jogo que perdemos há um ano e pouco, em Braga, não foi merecido. Esta é a segunda derrota em mais de ano e meio. Há que dar mérito aos jogadores que não deixaram de saber fazer as coisas. Mas há que rever muita coisa, a começar por mim”, começou por dizer o treinador dos dragões.

“Só podemos meter a qualidade individual para fora dentro de um coletivo forte e hoje não fomos um coletivo forte. A mensagem é passada diariamente em cada treino. Hoje não tivemos… Há jogos assim. O futebol tem de ser sempre olhado de forma máxima e a verdade é que hoje não fomos dignos. Eu, sentado, no banco, não fui digno de comandar a equipa do FC Porto na primeira parte. E alguns jogadores não foram dignos de vestir esta camisola. Não fui digno de estar no banco a comandar a equipa pela primeira parte que fizemos. Não é possível uma equipa, campeã nacional, que praticamente não perde há um ano, fazer isto. Temos de olhar para o presente. Isto é um jogo para lembrar, não é um jogo para esquecer. Temos de baixar a cabeça e pensar no que não fizemos. A começar por mim”, acrescentou Sérgio Conceição, num claro puxão de orelhas para dentro do balneário.

Também Pepe, o capitão de equipa, reconheceu a exibição pouco conseguida na flash interview. “A primeira parte ficou muito aquém daquilo que somos. Desde o primeiro minuto que não conseguimos pressionar, não fomos a equipa que normalmente somos e que não deixa o adversário jogar. O Rio Ave saiu muito bem em contra-ataque e teve a felicidade de fazer três golos. A segunda parte foi diferente. A atitude pressionante veio ao de cima e viu-se o que somos como equipa. O penálti poderia ter sido o ponto de viragem. Infelizmente, não estivemos à altura do jogo, sobretudo na primeira parte. Hoje não entrámos bem. Temos de continuar a trabalhar, levantar a cabeça e tirar a conclusão de que temos de entrar com a atitude com que entrámos na segunda parte”, disse o central português.

“Não é normal sofrermos três golos como sofremos. O trabalho coletivo não foi bem conseguido. Sabemos o que falhou. Na segunda parte fomos a equipa a que habituámos os nossos adeptos, com o mister […] Uma derrota é sempre uma derrota. Não importa se é no fim ou no início da época, dói perder. Trabalhamos para que isso não aconteça. Não fomos uma equipa pressionante e perdemos um pouco a identidade como equipa. Hoje em dia, no futebol de hoje, isso paga-se caro. Temos de ser a equipa que somos: humilde, trabalhadora e que jamais baixa os braços”, acrescentou Pepe.