Foi adiado o lançamento da missão Artemis I, o primeiro passo do programa da NASA para regressar aos voos tripulados até à Lua. Um minuto depois da hora agendada para o lançamento, que deveria ter acontecido às 13h33 desta segunda-feira, o veredito chegou: os problemas técnicos que tinham sido detetados horas antes eram incontornáveis. A missão Artemis I tinha de esperar.

Lançamento da missão Artemis I adiado por causa de sobreaquecimento de motor

Depois de a agência espacial norte-americana ter enchido o tanque de combustível do foguetão Space Launch System (SLS), foi detetado um problema de sobreaquecimento num dos quatros motores principais, os RS-25, que impediu o funcionamento do propulsor de hidrogénio em temperaturas criogénicas. O problema obrigou à suspensão da contagem decrescente para o lançamento, que acabou por ser adiado.

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Esta parte do processo não foi testada nos ensaios feitos em junho, confirmou a NASA. “Isto é algo que eles queriam testar durante o quarto ensaio, mas não conseguiram. Esta foi a primeira oportunidade para a equipa ver isto em ação ao vivo. Obter esta temperatura é uma questão particularmente complicada, de acordo com os engenheiros”, disse o porta-voz da NASA, Derrol Nail.

Bill Nelson, administrador da NASA, já reagiu ao adiamento da missão Artemis I. Em conferência de imprensa, disse que “isto faz parte do negócio espacial e particularmente de um voo de teste, estamos a testar a nave de uma maneira que não faríamos se houvesse tripulação humana a bordo, esse é o objetivo”.

“Não lançamos até ao momento certo, não acendemos a vela até estarmos prontos”, explicou o administrador da agência espacial norte-americana: “Acho que ilustra que esta é uma máquina muito complicada, um sistema muito complicado e todas estas coisas têm mesmo de funcionar”.

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Numa nova conferência de imprensa esta tarde, Jim Free, co-administrador para o Desenvolvimento dos Sistemas de Exploração da NASA, explicou que os motores do foguetão precisam de estar a uma temperatura suficientemente baixa para não entrarem em choque térmico com a circulação do hidrogénio criogénico.

Mas explicou também que, mesmo que este problema não tivesse acontecido, o lançamento teria de ser adiado. Além de uma série de problemas técnicos menores que estavam a ser detetados já perto da janela de oportunidade (entre as 13h33 e as 15h33 de Portugal Continental), as condições meteorológicas começaram a deteriorar-se com o surgimento de tempestades no mar, a curta distância da base de lançamento.

Outro problema técnico marcou as últimas horas de verificações em torno da missão Artemis I: o surgimento de uma fissura nas costuras do poliuretano que envolve o estágio principal do foguetão — uma espuma cor de laranja que funciona como um escudo térmico para o aparelho e que também existia no programa Space Shuttle. A NASA já veio explicar que o gelo acumulado nessa fissura era, na verdade, ar que tinha escapado da espuma e arrefecido.

Ainda não se sabe quando será então o lançamento da missão. A próxima janela de oportunidade é na sexta-feira, 2 de setembro, das 17h48 até às 19h48; e há outra de 90 minutos a começar às 22h12 de 5 de setembro. Mas a NASA ainda não confirmou que algumas destas datas está no horizonte da missão Artemis I, porque não tem ainda a certeza se o problema de sobreaquecimento ficará resolvido nos próximos dias.

Ainda assim, admite a possibilidade de lançar a missão Artemis I na sexta-feira, às 17h48 de Portugal Continental: “Neste momento, os sistemas não apontam para um problema no motor”, explicou Mike Sarafin, gestor de missão da Artemis. O engenheiro explicou que a agência espacial norte-americana nunca testou a resiliência dos motores a eventuais fugas de combustível durante os testes. “Já tínhamos falado deste risco na revisão de preparação e já tínhamos combinado que não lançaríamos se não houvesse as condições térmicas adequadas”, revelou Mike Sarafin.

A busca por uma data para o lançamento depende de quatro fatores: a posição da Lua na órbita em torno da Terra, a posição do Sol ao longo da trajetória da nave Orion e no momento da reentrada; e a posição da Terra na sua rotação. Primeiro porque o estágio superior do foguetão tem que realizar uma manobra num ponto específico para catapultar a nave numa trajetória que lhe permita realizar uma órbita distante na Lua.

Depois porque a nave Orion não pode estar mais de 90 minutos sem receber luz solar, uma vez que depende dela para funcionar e manter a temperatura ideal da cápsula. A reentrada na atmosfera no fim da missão também tem de acontecer num momento específico, de modo a garantir que a nave aterra no oceano Pacífico, exatamente no local combinado e durante o dia, para facilitar a recuperação da Orion.