O artista português Alexandre Farto (Vhils) apresenta esta semana em Lisboa, pela primeira vez, uma peça feita com recurso a uma técnica nova que tem vindo a desenvolver nos últimos anos, revelou o próprio.

A peça, que esta quarta-feira era apenas uma parede pintada de branco, “vai sendo revelada durante o festival Iminente”, que decorre entre quinta-feira e domingo e do qual Vhils é um dos fundadores.

“É uma camada de tinta hidrorrepelente, que é aplicada branco sobre branco. A parede vai absorvendo poluição e tudo aquilo que a cidade vai deixando no ar e a peça vai sendo revelada por tudo isso, pela absorção de toda a poluição que existe no espaço”, explicou o artista à Lusa, à margem de uma visita de imprensa ao recinto do festival Iminente.

Durante os quatro dias do festival, Vhils vai “acelerar um bocadinho esse processo, com um extintor e um aspersor, mas a peça vai continuar” depois criar-se sozinha, com o passar do tempo.

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“Gosto muito de utilizar o tempo e o caos da própria cidade como força que cria, não só destrói. E este trabalho vem um pouco nessa linha do que tinha feito até agora”, partilhou.

A nova técnica “demorou algum tempo a desenvolver”, cerca de três, quatro anos, com recurso “à ciência e com o departamento do ateliê”. “É um processo de utilização de um material muito usado na construção para isolamentos, que depois é usado para criar. Andámos a trabalhar com cales e com fungos, com aquilo que destrói e a guiá-lo um bocadinho para construir”, contou.

Esta nova técnica foi pensada para a criação de peças na rua, “para fazer diretamente na parede”.

“É uma tinta invisível, que não interfere com o que está e que me permite também fazer obras em sítios que não são expectáveis, e depois a peça vai-se revelando e aparecendo com o tempo, ou até mensagens diferentes ao longo do tempo”, disse.

Vhils decidiu apresentar a peça no Iminente por este ser, para si, “um espaço de experimentação”.

Depois do festival, à semelhança de outras obras ali apresentadas, a nova peça de Vhils ficará naquele espaço.

“A peça fica no espaço. Faço uma pequena intervenção agora e depois a peça há de eventualmente continuar a sua vida, como todas as peças que faço no espaço público. A poluição e as coisas que se vão agregando nas paredes, como a humidade, vão pintar a obra”, explicou.

Ao longo dos quatro dias do festival Iminente, Vhils estará no local, em vários momentos, a acelerar o processo de criação da peça, e para o primeiro dia, quinta-feira, preparou “uma pequena surpresa”.

O festival Iminente, que junta música e artes plásticas, decorre entre quinta-feira e domingo na zona da Matinha. O cartaz é composto por mais de 150 artistas, entre músicos, performers, artistas plásticos e bailarinos.