A instabilidade que se vive no Irão há quase duas semanas, na sequência da morte de uma mulher de 22 anos sob custódia policial por alegadamente não estar a usar o hijab da forma correta, já chegou ao futebol. A seleção iraniana, orientada pelo português Carlos Queiroz, já não esconde o desagrado com o regime do país e tem tomado posições de força e de apoio às mulheres.

Esta terça-feira, no jogo particular contra o Senegal, todos os jogadores do Irão — incluindo Mehdi Taremi, avançado do FC Porto — ouviram e cantaram o hino nacional com um blusão preto vestido, escondendo assim tanto as cores do país como o símbolo da Federação iraniana. O jogo foi disputado em Maria Enzersdorf, uma cidade austríaca às portas de Viena, e decorreu à porta fechada por decisão dos iranianos. Ainda assim, um número considerável de protestantes juntou-se nas imediações do estádio e conseguiu que as palavras de ordem fossem ouvidas durante as transmissões televisivas.

A morte de Mahsa Amini gerou uma onda de protestos pelos direitos das mulheres. “Pode ser o prenúncio de uma nova era no Irão”

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Antes da partida, ainda no domingo, o desagrado dos jogadores iranianos foi personalizado por Sardar Azmoun, avançado do Bayer Leverkusen que é uma das principais figuras da equipa de Carlos Queiroz. “Se eles são muçulmanos, que Deus me faça infiel! Estamos proibidos de falar até ao final do estágio mas não podia mais ficar em silêncio! O pior que me pode acontecer é ser expulso da seleção nacional. Sem problema. Sacrifico isso por um fio de cabelo nas cabeças das mulheres iranianas. Esta publicação não vai ser apagada. Eles que façam o que quiserem. Deviam ter vergonha pela facilidade com que matam pessoas. Longa vida às mulheres iranianas”, escreveu Azmoun no Instagram, que acabou mesmo por eliminar o post mas fez outro, menos direto e agressivo, com uma fotografia da seleção feminina de voleibol do Irão.

Também nas redes sociais, todos os jogadores da seleção iraniana trocaram as respetivas fotos de perfil por fundos negros, incluindo Taremi. Na semana passada, outro internacional pelo Irão, Zobeir Niknafs, partilhou um vídeo em que rapava o cabelo em solidariedade com os protestos. De recordar que a onda de manifestações começou já durante este mês de setembro na sequência da morte de Mahsa Amini, de 22 anos e sob custódia policial, depois de ter sido detida por alegadamente estar a usar o hijab de forma incorreta.

Apesar dos receios de Sardar Azmoun, é muito improvável que o jogador do Bayer Leverkusen fique de fora do Mundial do Qatar. O estágio da seleção iraniana não será realizado no Irão e o avançado atua na Alemanha, logo, muito provavelmente, viajará diretamente para a concentração da equipa sem passar pelo próprio país e sem sofrer eventuais consequências institucionais. O Irão de Carlos Queiroz está inserido no Grupo B do Mundial, em conjunto com Inglaterra, Estados Unidos e País de Gales.