Os provedores dos animais das câmaras de Almada, Lisboa, Santa Maria da Feira e Ovar classificaram esta sexta-feira de “deselegantes” as críticas do bispo do Porto ao afeto dos seres humanos pelos seus animais de estimação.

“Os cidadãos com responsabilidades na sociedade civil, sejam políticos, membros da Igreja Católica ou de outra religião, dirigentes desportivos e associativos ou qualquer protagonista com intervenção no espaço público, têm o dever e a obrigação de fazer tudo ao seu alcance para promover o respeito pelo bem-estar entre seres humanos e animais contribuindo, assim, para fortalecer os alicerces das sociedades que se querem evoluídas”, referiram os provedores, numa recomendação extraordinária assinada pelos quatro, e a que a Lusa teve acesso.

Numa publicação na sua página da rede social Twitter, na quinta-feira, o bispo do Porto escreveu que “todos os contactos e relacionamento criam especiais laços de amizade“, mas “os laços de sangue entre pais e filhos possuem uma tal força que nada os desfaz”.

“Nunca os substituamos pelo apego a um qualquer animal de estimação, típico das sociedades decadentes”, acrescentou Manuel Linda nesta publicação, na qual faz ligação para um texto publicado no ‘site’ da Diocese do Porto.

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Os provedores destes municípios, os únicos em Portugal que têm esta figura, consideram estas críticas “deselegantes” e lembram que promover o respeito pelo bem-estar entre seres humanos e animais será sempre um “cntributo incontornável na relação de harmonia que qualquer ecossistema necessita para sobreviver em paz”.

Também o PAN criticou o bispo por considerar “típico das sociedades decadentes” a substituição dos laços entre pais e filhos pelo apego a animais, afirmando que os abusos a menores são do “mais abjeto que há”.

Nessa mensagem publicada no “site” da Diocese do Porto, intitulada “laços”, conta-se a história de um pai que pediu ao bispo que rezasse pelo seu filho mais novo que estava doente e que, passado algum tempo, a família foi ter com Manuel Linda para “agradecer” porque a criança “se salvou”.

“Definiu-me mais o que é um pai do que toda uma enciclopédia sobre o tema”, refere neste texto, considerando que “é o mistério da paternidade, algo que a inteligência raciocinante não explica, mas o coração sente com uma intensidade só comparável à beleza que exprime”.

O bispo continua, indicando que presenciou, no mesmo dia, “um homem e uma mulher, na casa dos trinta, empurrando, cada um deles, um carrinho onde não iam bebés, mas… cães” e “como se fosse pouco, à noitinha, mais outra cena: dois atletas em bicicleta, cada uma delas com atrelado” onde estavam “outros dois cães”.

Manuel Linda termina a mensagem referindo: “‘Adorarão animais‘, dizia o Cura d’Ars. Para desgraça de quem troca a humanidade pela animalidade”.

Nas últimas semanas, o bispo Manuel Linda tem estado envolto em polémicas com declarações que fez a propósito de casos de abuso sexual de crianças na igreja.

Manuel Linda, bispo do Porto, não se recorda “minimamente” de ter ouvido e ignorado denúncia de abuso sexual

Já neste dia, e num comunicado enviado às redações, na sequência de notícias publicadas na quinta-feira que o envolvem por suspeitas de ter ocultado o envolvimento entre uma jovem de Vila Real e um agora ex-padre, Manuel Linda referiu-se à situação como “um caso muito doloroso“, que é “público” e que está em investigação.

Sobre a publicação na rede social Twitter, a Lusa tentou obter esclarecimentos por parte do bispo do Porto, mas sem sucesso até ao momento.