O atual bispo do Porto, Manuel Linda, não se consegue “recordar minimamente” de há 18 anos ter ouvido e ignorado uma denúncia de uma rapariga com entre 13 e 14 anos, que lhe terá confessado ter à época uma relação com um padre 20 anos mais velho, chamado Heitor Antunes.

A reação de Manuel Linda, feita em comunicado enviado ao Observador, surge na sequência de uma notícia do Correio da Manhã, que esta sexta-feira avançava que há 18 anos, Ana (nome fictício), abordou à saída de uma aula Manuel Linda, então seu professor de Educação Moral e Religiosa na Escola Secundária Camilo Castelo Branco, em Vila Real. “Contei-lhe que, mesmo sendo menor, tinha um envolvimento com o padre Heitor. Ele disse que a culpa era minha, que eu é que andava atrás dele”, acusou “Ana”, em declarações ao Jornal de Notícias.

Reagindo à notícia, o bispo do Porto escreveu: “Não me consigo recordar minimamente de nada parecido com essa denúncia. Se alguma vez tivesse recebido alguma denúncia, teria reportado imediatamente ao meu Bispo”.

Agora, e como Bispo do Porto, espero que nunca uma denúncia como esta fique sem resposta e que qualquer vítima possa denunciar e partilhar essa dor. Se alguma vez uma denúncia não teve acolhimento pela Igreja, só posso pedir perdão por essa falha”, escreveu ainda.

O bispo do Porto considera também que neste momento, cabe à Comissão Independente que investiga casos de abusos sexuais na Igreja a tarefa de investigar o caso. “É público que o caso [do padre Heitor Antunes] está a ser investigado e é assim que deve ser”, refere Manuel Linda, acrescentando: “Esse trabalho de investigação, no qual tenho toda a confiança, é muito importante, e é o que pode trazer luz sobre toda esta dor, principalmente a das vítimas”.

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Em 2019, o Observador noticiava que, enquanto era pároco de Vila Real, Heitor Antunes começou uma relação com uma menor, uma jovem catequista de quem se aproximou quando esta tinha 12 anos e com quem começou a ter uma relação física quando a rapariga tinha 14 anos — o então padre tinha, na altura, 34. Doze anos depois, viriam a ter um filho. Um ano após o nascimento da criança, o padre viria a ser transferido para uma paróquia portuguesa no Canadá.

Um dia depois da notícia do Observador, a diocese de Vila Real abria uma investigação à conduta do padre Heitor Antunes e à sua transferência de paróquia. Na altura, ainda não existia a atual Comissão Independente, formada para investigar casos de abuso sexual na Igreja.

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Já esta quinta-feira, o Observador noticiou que Heitor Antunes, que entretanto abandonou o sacerdócio, requereu a guarda da filha que teve com a mulher, que alega ter sido vítima de abuso sexual e que seria menor de idade quando começou uma relação com o pároco.

No início de este mês, Manuel Linda defendera, em declarações à CNN Portugal, que ainda hoje não existe obrigatoriedade legal de um padre comunicar uma denúncia de abuso sexual de crianças que lhe chegue.

Como “o crime de abuso não é um crime público”, “não há obrigatoriedade de denúncia”, disse mesmo Manuel Linda, contrariando o entendimento de penalistas e mostrando pouca sintonia com a tónica reforçada pelo Papa, de necessidade imperiosa de denúncia de casos de abuso sexual na Igreja.

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