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A Rússia acusou a Ucrânia de estar a preparar-se para usar uma “bomba suja” no próprio território num ataque de falsa bandeira para culpar Moscovo. No entanto, não ofereceu provas para apoiar as alegações. A tese é firmemente negada por Kiev e os seus aliados, que consideram tratar-se de alegações falsas e um pretexto para escalar o conflito.

O que é uma “bomba suja” e como funciona?

Conhecidos como dispositivos de dispersão radioativa, as dirty bombs (“bombas sujas”, em português) são armas relativamente primitivas e imprecisas que utilizam explosivos tradicionais, como a dinamite, para espalhar material radioativo.

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Em declarações à Associated Press, citadas pela ABC News, o especialista Scott Roecker explica que são muito mais baratas e fáceis de construir do que um dispositivo nuclear e menos perigosas porque, apesar de exporem áreas a contaminação radioativa, não têm o mesmo efeito devastador. A quantidade de material radioativo disperso, apesar de perigoso, pode não ser necessariamente letal.

O que é uma “bomba suja”?

“Uma bomba suja é realmente fácil de fazer, é um dispositivo grosseiro”, refere Roecker, vice-presidente do programa de segurança de materiais nucleares da Nuclear Threat Initiative (NTI), uma organização sem fins lucrativos sediada em Washington.

O número de vítimas e a extensão dos danos deste tipo de dispositivo depende de vários fatores, nomeadamente da quantidade e tipo de explosivos utilizados, que vão determinar a magnitude da explosão, da quantidade e tipo de materiais radioativos e das condições atmosféricas.

A maior parte das “bombas sujas” não iriam descarregar necessariamente radiação suficiente para causar mortes ou mesmo doenças severas e o seu impacto principal é psicológico, razão pela qual os dispositivos são referidos como “armas de disrupção em massa”. Segundo Roecker, não são armas para usar no campo de batalha, mas mais em áreas urbanas.

São mais uma arma psicológica. Quando se está a tentar assustar pessoas, intimidá-las, usa-se armas como esta.”

Segundo Roecker, a radioatividade pode espelhar-se por uma longa distância e é mais perigosa perto do epicentro da explosão, mas à medida que o material radioativo se espalha, torna-se menos concentrado e menos perigoso.

A contaminação poderia implicar que casas e serviços públicos ficariam durante meses de acesso vedado, no que seria uma operação de limpeza cara. “Ao contrário de uma arma nuclear, uma bomba suja não iria causar níveis catastróficos de mortos ou feridos, mas dependendo na química, forma e localização, poderia provocar estragos no valor de milhões de dólares devido aos custos de evacuação, relocação e limpeza, além das inevitáveis ameaças subsequentes que poderiam ter graves consequências económicas e psicológicas”, refere num artigo de opinião do Washington Post Sam Nunn, co-fundador da NTI e especialista em terrorismo nuclear e relações entre os Estados Unidos e a Rússia.

Moscovo insiste que Kiev está na fase final de preparação de “bomba suja”. Kiev pede missão para apurar a verdade

Esta segunda-feira, a Rússia insistiu que a Ucrânia está na “fase final” de preparação de uma “bomba suja”. “De acordo com as informações de que dispomos, duas organizações ucranianas têm instruções específicas para fazer a chamada bomba suja. O seu trabalho entrou na fase final”, afirmou o chefe da unidade de proteção radiológica, química e biológica das forças armadas russas, tenente-general Igor Kirillov.

Kirillov diz que Kiev pretende “acusar a Rússia de utilizar armas de destruição maciça” na Ucrânia e lançar, assim, “uma poderosa campanha antirrussa destinada a minar a confiança em Moscovo”.

“Bomba suja” ou “tentativa de dividir o Ocidente”?

A Ucrânia esforça-se para combater estas acusações e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Dmytro Kuleba, e da Defesa, Oleksii Reznikov, desdobraram-se em contactos internacionais. Com os responsáveis dos Estados Unidos e de França, Kuleba, falou sobre o que diz ser um “pretexto” para um ataque russo com base numa informação falsa e sobre a “campanha de desinformação” russa. Já Reznikov contactou os homólogos de França, Turquia e Reino Unido, insistindo que o país está disponível para receber qualquer “missão de monitorização” internacional e provar que a tese é falsa. A Ucrânia diz ter contacto inclusivamente Rafael Grossi, diretor geral da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), para o convidar a visitar o território ucraniano e apurar a verdade sobre as acusações.

NATO rejeita “falsa alegação”, EUA sem indicações de que Rússia vá usar armas nucleares

A tensão aumentou de tal maneira que os Estados Unidos, a França e o Reino Unido se juntaram para lançar um comunicado conjunto sobre o assunto. No texto, os três países frisam que os seus ministros da Defesa falaram com o homólogo russo, Sergei Shoigu, no domingo, a seu pedido, e “deixaram claro” que rejeitam a “acusação claramente falsa acusação da Rússia de que a Ucrânia está a preparar-se para usar uma bomba suja no seu próprio território”.

“O mundo perceberia qualquer tentativa de usar esta alegação como um pretexto para uma escalada [da guerra]. Rejeitamos qualquer pretexto para uma escala”, acrescentam os três países, garantindo que o seu apoio à Ucrânia se manterá.

Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, criticou as “alegações falsas” num telefonema esta segunda-feira com o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, o ministro da Defesa do Reino Unido, Ben Wallace.

“Os aliados da NATO rejeitam esta alegação. A Rússia não pode usar isto como um pretexto para escalar [o conflito]”, escreveu numa publicação no Twitter.

Os Estados Unidos disseram que não viram nenhuma indicação de que a Ucrânia esteja a construir uma “bomba suja”, nem que a Rússia vá atacar o território ucraniano com este tipo de equipamento.

Um oficial norte-americano, citado pela AFP, afirmou que não viram sinais de que a Rússia tenha decidido usar armas nucleares, biológicas ou químicas.