O El País chamava-lhe esta quarta-feira “um sentimento de compaixão”. E um sentimento transversal a muita gente no Bayern, do presidente executivo Oliver Kahn a todo o staff do futebol, passando por Manuel Neuer e Thomas Müller, dois dos companheiros com quem tinha relações mais próximas: “Ele não merece jogar a Liga Europa”. Ele é Robert Lewandowski, jogador que a certa altura forçou a saída de tal forma da Baviera para Barcelona que gerou alguma insatisfação mas que ainda é visto como alguém próximo, que deu tudo pelo conjunto de Munique e que merece o melhor. No entanto, o melhor para Lewandowski não coincidia com o melhor para o Bayern. A sensação de objetivo europeu falhado emergia.

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O melhor exemplo dessa conexão teve um caso paradigmático na semana passada, perante a contestação de alguns adeptos na Assembleia do clube pelo posicionamento do polaco para sair para a Catalunha. Kahn elevou o tom e respondeu à letra. “O Robert foi uma máquina para o Bayern e agradeço-lhe tudo o que fez pelo clube”, atirou. Quem criticou, não gostou da resposta. Quem sabe o reverso da moeda, percebeu a resposta. Aos 33 anos (hoje 34), o avançado ainda rendeu 50 a 60 milhões de euros. Aos 33 anos (hoje 34), não levará a encargos de 110 milhões de euros brutos de ordenado a quatro anos como no Barça. Fica a amizade, prevalece o pragmatismo, mantém-se os elogios de todos os lados ao polaco.

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“Definir o Robert em três palavras? Ganhador, qualidade, goleador. Este será um jogo de vingança para nós e para ele também, não conseguiu marcar lá à sua ex-equipa e espera agora uma nova oportunidade para ele e para a equipa”, dizia Xavi antes da receção ao Bayern, marcada por um ambiente já de resignação pela eliminação da Champions depois do triunfo do Inter frente ao Viktoria Plzen em Milão. Assim, ainda mais, sobrava esse reencontro do ‘9’ (que pela primeira vez em mais de uma década estava condenado a jogar pela primeira vez a Liga Europa) com os bávaros após uma entrevista ao L’Équipe no seguimento de mais uma vitória no prémio Gerd Müller da France Football pelos golos… pelo Bayern.

“Tenho sempre fome. Posso ter marcado, feito um grande jogo, baixado a tensão mas há um depois e não pode demorar muito. Se ficas a pensar que és o melhor, não funciona. Não tenho medo, sabendo que não sou perfeito, porque o medo é um obstáculo e só essa ideia é um mau começo. Também não sou alguém que fique a pensar nas séries de jogos sem golos, procuro estar preparado em todas as áreas para tudo. O mais importante é estar no lugar correto ao ritmo correto quando tudo começa. Todos os goleadores são diferentes, nem sempre existem momentos fáceis mas é aí que deve aparecer algo único e instintivo. É preciso ter olhos na nuca. O meu instinto está sempre alerta, para pensar melhor e mais rápido. Também vejo as coisas de forma antecipada, o que permite estar um passo à frente e melhorar o tempo de reação”, explicou Lewandowski à publicação francesa. “É muito difícil estar sempre lá em cima”, acrescentou.

Tudo girava à volta do polaco mas foram os sucessores diretos do Bayern que acabaram por fazer toda a diferença num encontro em que os alemães deram sempre a sensação de controlar o jogo a gerir todos os momentos como mais convinha. Sadio Mané, após uma grande desmarcação na profundidade nas costas de Bellerín, inaugurou o marcador (10′), Choupo-Moting aumentou a vantagem pouco depois da meia hora (31′), Ter Stegen ainda evitou por três vezes no mesmo lance o 3-0, Gnabry viu um golo anulado no segundo tempo e Pavard sentenciou o resultado final aos 90+5′ entre mais um jogo europeu demasiado frágil dos catalães que voltaram a falhar o acesso aos oitavos da Champions e mostraram que, neste plano internacional, mesmo com nomes como Lewandowski, há sempre mais um bocado de fundo no buraco…