Apesar de um verão “difícil” com uma disrupção significativa da oferta de voos por causa dos cancelamento,a TAP bateu vários recordes nos resultados do terceiro trimestre que ficaram 23% acima dos alcançados em 2019. Foi um trimestre “histórico”, afirmou a presidente executiva da empresa na conferência de imprensa realizada esta quarta-feira após a divulgação dos resultados até setembro.

TAP com lucros no terceiro trimestre. Conjunto do ano ainda é marcado por prejuízos

Christine Ourmières-Widener afirmou que o plano de reestruturação “é bom e está a produzir resultados” e estamos até a “fazer melhor que o plano” aprovado no final do ano passado pela Comissão Europeia, destacou o administrador financeiro Gonçalo Pires.

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Há mais receita — está 7% acima da alcançada no terceiro trimestre de 2019 — com menos capacidade porque a TAP “está voar menos aviões, mais cheios e com mais receitas”. O gestor destacou também o crescimento da margem, graças ao controlo de custos, dando como exemplo a cobertura de custos com o petróleo, que conseguiu uma margem de quase 100 milhões de euros, tendo tido um impacto relevante nos resultados operacionais do terceiro trimestre de 150 milhões de euros positivos.

A TAP apresentou lucros de 111 milhões no terceiro trimestre, apesar de nos primeiros nove meses do ano  ainda ter prejuízos de 91 milhões de euros. A administração acredita que a empresa chegará ao final do ano com resultados melhores do que os previstos no plano de reestruturação aprovado no ano passado — o qual apontava para prejuízos de 55 milhões de euros em 2022 — mas não avança valores, para já.

Apesar de uma margem EBITDA de 511 milhões de euros, o mesmo valor do que o obtido em 2018, mas “ainda não é suficiente”, realçou Gonçalo Pires que culpa o peso da dívida de mais de três mil milhões de euros. “A empresa cresceu muito e rapidamente e isso foi feito com dívida” o que torna a TAP numa empresa mais alavancada do que os concorrentes. Por isso, assinala, o mandato da administração “é entregar resultados consistentemente bons. Mas para reduzir a dúvida precisamos de tempo”.

A inflação, a subida do preço do petróleo e do dólar (que tornam a dívida mais cara) e as perspetivas de uma recessão, são os maiores riscos externos, mas para já a procura continua forte, sublinhou a gestora. Os preços mais altos não estão para já a fazer com que as pessoas voem menos.

A tarifa média da TAP e da aviação geral subiu 23% nos primeiros nove meses do ano, face ao mesmo período do ano passado. A culpa, diz o administrador financeiro, é da subida brutal do preço do petróleo e a TAP como todas as companhias aéreas teve de rever os preços para não perder dinheiro de cada vez que levanta voos. E toda a indústria está a fazer o mesmo”.

Christine Widener acrescentou que está a fazer uma gestão dia a dia dos preços praticados pela concorrência e que não irão tomar decisões (de preços) que prejudiquem a companhia. Mas do ponto de vista da TAP, não faz sentido baixar os preços quando a procura existe.

Privatização. Interesse de grupos internacionais é positivo, mas não vai acontecer amanhã

A presidente executiva da TAP não quis comentar o anunciado processo de privatização da companhia, mas considerou que o interesse manifestado por grupos internacionais como a IAG da British Airways e a Air France KLM é uma “notícia positiva”. Apesar de assinalar que não cabe à gestão decidir “quem é a melhor noiva”, também considera que o processo não vai acontecer amanhã. Os resultados apresentados esta quarta-feira tornam mais fácil um eventual processo de privatização.

Depois de o primeiro-ministro ter indicado em setembro que era intenção do Governo lançar a privatização da TAP nos próximos 12 meses, o ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos veio esclarecer que o processo ainda não teve início.

Até ao final do ano a TAP vai receber a última tranche da ajuda do Estado no valor de 990 milhões de euros que será realizada através de aumento de capital. A transportadora ainda tem de ir ao mercado levantar um financiamento de 370 milhões de euros para o qual estava previsto um aval público, mas só o irá fazer em 2023.