Quatro minutos. Foi este o tempo que durou o aplauso do Comité Central à intervenção de Jerónimo de Sousa na reunião deste domingo, em que o órgão do PCP “concordou” com a decisão de sair e ser sucedido por Paulo Raimundo — mesmo que o nome tenha provocado “alguma surpresa” até entre os dirigentes comunistas.

“O Comité Central resolveu concordar comigo em termos de substituição na tarefa aplaudindo-me quatro minutos de pé”, referiu Jerónimo. “Sabe mesmo muito bem sentir o abraço solidário afetivo dos meus camaradas da direção do partido, tal como os militantes, os amigos do partido e muitas vezes alguns até diria adversários”.

Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre a saída de Jerónimo de Sousa.

O que muda no PCP?

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As relevações foram feitas, este domingo, por Jerónimo de Sousa na conferência de imprensa em que explicou as razões da sua saída. Aos jornalistas, o líder cessante do PCP disse que fez uma “avaliação própria” sobre a sua saúde e a exigência das tarefas como secretário-geral e que, concluída a “devida auscultação”, Paulo Raimundo foi o escolhido para o substituir — muito embora também tenha admitido que até no Comité Central a escolha causou “alguma surpresa”.

Mas no fim, mesmo que sem unanimidade, a escolha gozou de “ampla convergência”, garantiu. E traçou o perfil do sucessor a quem, como a generalidade dos portugueses, não o conhece. “É um camarada de uma geração mais jovem, com um percurso de vida marcado por uma experiência diversificada, com capacidade, inserção no coletivo, preparado para uma responsabilidade que associa a dimensão pública com a ligação, contacto e identificação com os trabalhos e as massas populares, com o trabalho do partido, as suas organizações e militantes.”

Jerónimo precipitou a saída e esteve envolvido na escolha de Raimundo, o desconhecido que o PCP conhece bem

Já durante o período de questões, Jerónimo de Sousa alongou-se nos elogios e nas justificações para a escolha de Paulo Raimundo, um “camarada estudioso”, que “conhece os problemas” e há muito tinha “tarefas de reforço da organização do partido”.

“É um homem sensível que compreende as coisas de uma forma célere, é um camarada modesto, que ouve muito os outros”, completou.

Paulo Raimundo é um conhecido nas bases comunistas, mas o universo de eleitores é muito maior e para captar mais votos e reforçar o partido nessa dimensão o futuro secretário-geral terá de se mostrar: “Não se pode ser conhecido se, naturalmente, não aparecer. Quem não aparece esquece”, disse.

O próximo líder, de 46 anos, “é uma solução segura, uma solução que corresponde às necessidades” do partido centenário. “Tenho a profunda confiança de que ele vai ser capaz de dar conta do recado […]. Paulo Raimundo tem uma garantia que poucos podem ter”, reforçou.

O secretário-geral cessante tinha mandato até 2024 e vai ser substituído por um dos poucos dirigentes que faz parte dos órgãos mais restritos do partido – a Comissão Política e o Secretariado. Paulo Raimundo é uma figura proeminente para as bases comunistas, mas desconhecida na esfera mediática.