Jerónimo de Sousa foi líder do PCP durante 18 anos, tempo em que o partido subiu a um planalto de bons resultados, até 2015, para cair a pique em 2022, com o pior resultado de sempre, 4,4%.

O operário e deputado à Assembleia Constituinte, em 1975, foi eleito secretário-geral do partido no Congresso de 2004, em Almada, distrito de Setúbal, sucedendo ao economista Carlos Carvalhas, ainda o PCP vivia o rescaldo da crise dos renovadores, na origem da expulsão de ex-dirigentes como Edgar Correia e Carlos Luís Figueira e da suspensão do ex-líder parlamentar do PCP Carlos Brito.

As primeiras eleições disputadas sob a sua liderança foram as legislativas de 2005, em que o PS e José Sócrates conseguem a sua primeira maioria absoluta. A Coligação Democrática Unitária (CDU), liderada pelo PCP, e que inclui Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), obteve 7,5% e elegeu 14 deputados, mais dois do que em 2002, quando as eleições foram ganhas pelo PSD e governou com o CDS-PP.

Um ano depois, em 2006, as eleições são presidenciais e é Jerónimo que avança como candidato. E foi ele a recolher o maior número de votos neste período: 474 mil, com 8,6%. O Presidente eleito foi Cavaco Silva.

Seguem-se três legislativas em que os comunistas conseguem manter-se num “planalto” eleitoral acima dos 440 mil votos numa altura em que são oposição e conseguem subir a sua representação no parlamento.

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Em 2009, quando o PS perde a maioria absoluta, a CDU obteve 7,8% e elegeu 15 deputados. Em 2011, PSD e CDS voltam ao poder para formar governo, num momento de crise e intervenção externa da troika, a bancada do PCP e do PEV tem mais um deputado (15) e recolhe 7,9% dos votos. Quatro anos depois, em 2015, a CDU ganha mais um deputado (17) e o partido sob a liderança de Jerónimo de Sousa atinge o ponto mais alto dos seus resultados, com 8,2%.

Nestas eleições, PSD e CDS-PP, juntos em coligação, vencem as eleições, conseguem mais votos, mas perdem a maioria absoluta no parlamento. O PS, agora liderado por António Costa, ficou em segundo.

Nessa noite de 4 de outubro, Jerónimo de Sousa disse uma frase-chave que é considerada o princípio do acordo à esquerda com PS, PCP, BE e PEV. O PS, disse o líder comunista, “só não forma Governo se não quiser”.

Seguem-se quatro anos de entendimentos, de reversões nos cortes salariais e de pensões feitos durante o tempo da troika, mas também foram tempos de declínio eleitoral para comunistas.

Nas eleições seguintes, em 2019, a CDU perde cinco deputados, fica com 12, e cai dos 450 mil votos para os 332 mil. E três anos depois, com o fim da “geringonça” e do “chumbo” do Orçamento do Estado de 2022, que uniu a oposição, da esquerda à direita, a CDU atingiu o seu pior resultado de sempre: 4,4%, 238 mil votos e apenas seis deputados, o grupo parlamentar mais pequeno da sua história desde 1975.

A linha eleitoral das presidenciais também é descendente e os candidatos a Belém apoiados pelos comunistas nunca conseguiram atingir o score de Jerónimo em 2006 – 8,6%.

Em 2011, Francisco Lopes, dirigente comunista influente, consegue 7%, e cinco anos depois Edgar Silva, ex-deputado na Madeira, bate no fundo com 3,9%. João Ferreira, eurodeputado e vereador em Lisboa, sobe ligeiramente para 4,3%, à frente da candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda, Marisa Matias.

Outrora um partido autárquico, o PCP e a CDU também perdem votos e câmaras desde 2016, ano um da “geringonça”.

Nas eleições locais do ano seguinte, em 2017, a CDU começou a queda: perde dez câmaras, entre elas, bastiões comunistas no Alentejo, como Beja, e no distrito de Setúbal, como Alcochete, Barreiro ou Almada. Quatro anos depois ficam com apenas 19 e as perdas foram em Mora, Montemor-o-Novo, Alvito e Loures para o PS e também Vila Viçosa.

Jerónimo de Sousa cessa o mandato no próximo sábado, com a eleição de Paulo Raimundo pelo Comité Central do partido, a seguir ao encerramento da Conferência Nacional que decorrerá em Corroios, Seixal.