“Corsage — Espírito Inquieto”

De que serve ter o maior cuidado a fazer uma recriação histórica, e ser fiel aos factos biográficos da personagem retratada num filme, se depois se estraga tudo com atitudes anacrónicas e alusões contemporâneas? É precisamente o que sucede em “Corsage — Espírito Inquieto”, passado em 1887, na altura em que Isabel, imperatriz da Áustria e rainha da Hungria, mais conhecida por Sissi, e interpretada por Vicky Krieps, faz 40 anos. A realizadora e argumentista Marie Kreutzer quebra o efeito de época e estraga a caracterização bastante fiel de Sissi, quer quando a põe de repente a comportar-se — e desnecessariamente —, de forma absurda, para fazer dela uma figura “cool” e “moderna”, quer pelo uso de uma banda sonora desadequada (isto sem falar na referência “queer” final, metida a martelo). Não contente com tudo isto, Kreutzer deixa que o filme seja invadido pelo tédio da vida na corte austro-húngara que pretende retratar.

“Os Irmãos de Leila”

O novo filme do iraniano Saaed Roustayi (“A Lei de Teerão”) tem como heroína Leila (Taraneh Alidoosti), uma mulher de 40 anos que nunca casou, sofre de dores de costas crónicas e sustenta toda a família, que vive numa apertada casa num bairro pobre de Teerão: o pai, homem mesquinho, viciado em ópio e obcecado em ser nomeado patriarca após a morte do primo mais velho, a mãe, que a despreza, e os seus quatro irmãos, falhados, inúteis e endividados. Além de uma trabalhadora incansável e uma campeã do estoicismo, Leila é inteligente e tem iniciativa, e engendra um plano para sair da miséria e levar a família com ela. Alugar, a meias com os irmãos, uma nova loja que vai ser construída no movimentado centro comercial onde trabalha. Mas para isso é preciso ter o dinheiro do depósito. “Os Irmãos de Leila” foi escolhido como um dos dois filmes da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ruído Branco”

Noah Baumbach adapta o livro homónimo de Don DeLillo publicado em 1985. Jack e Babette Gladney (Adam Driver e Greta Gerwig) têm ambos um medo doentio da morte e vivem com os quatro filhos (apenas o mais novo é deles, os outros são dos seus três casamentos anteriores) nos subúrbios de uma cidade do interior dos EUA, daquelas que costumam aparecer nos filmes de Steven Spielberg e epígonos. Ele ensina na universidade local, sendo um dos maiores especialistas americanos em Adolf Hitler e ela cuida da casa, dos filhos e dá aulas de ioga e de ginástica a idosos no centro comunitário da igreja local. De repente, um possível desastre ecológico, sob a forma de uma enorme nuvem tóxica causada pelo choque entre um camião e um comboio que transportava químicos, vai abanar seriamente a rotina da família Gladney. “Ruído Branco” foi escolhido como um dos dois filmes da semana pelo Observador e pode ler a crítica aqui.