Há um ano, uma das maiores estrelas do ténis mundial, Novak Djokovic, viveu durante cinco dias no mesmo lugar que Mehdi Ali, um árabe de Ahvaz, uma minoria perseguida no Irão por ser acusada de separatismo. Mehdi cumpriu o seu 24.º aniversário no Park Hotel em Melbourne. Desde os 15 que assinalava a data privado de liberdade e debaixo do controlo do sistema de imigração australiano, após ter chegado ao país de barco em 2013, como conta o The Guardian. Mehdi foi um dos 32 refugiados da unidade hoteleira onde o atual número cinco do ranking ATP esteve detido.

Agora, acabou: Djokovic foi deportado, está fora do Open da Austrália e seguiu para o Dubai antes do arranque do torneio

Em janeiro de 2022, a Austrália encontrava-se sob fortes medidas políticas de combate à pandemia da Covid-19 e todos os jogadores que participassem no primeiro Grand Slam do ano eram obrigados a estar vacinados. É pública a posição de Djokovic contra as vacinas que combatem o desenvolvimento de doenças associadas ao vírus e sua recusa em tomá-las. O tenista aterrou em solo australiano com uma isenção médica que, segundo os seus advogados, lhe permitia estar no país por ter testado positivo ao vírus em dezembro de 2021. Poucas horas depois, viu o visto ser anulado pelas autoridades australianas. Enquanto aguardava uma decisão definitiva quanto à deportação que lhe tinha sido decretada, esteve no Park Hotel, um “espaço com bichos, sujo e com comida horrível”, nas palavras da mãe do tenista, onde se encontravam migrantes e requerentes de asilo.

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Djokovic acabou mesmo por ser forçado a abandonar o país, cedendo o lugar no Open da Austrália ao lucky loser Salvatore Caruso. Além disso, o tenista de 35 anos ficou impedido de entrar no país por três anos.

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Quem agradeceu a passagem mediática do tenista pelo Park Hotel foram os migrantes e requerentes de asilo que lá se encontravam privados de liberdade. Por causa da atenção mediática que o inesperado “inquilino” trouxe aos movimentos ativistas contra as políticas de imigração australianas, os detidos acabaram por ser libertados, recebendo um visto de curta duração para permanecerem no país.

Djokovic não diz se está vacinado, foi barrado na chegada à Austrália e pode ser deportado. Mas porquê?

Num ano, tudo mudou. E de forma radical

Ao mesmo ritmo que o sérvio se tornara um ídolo dos opositores das vacinas, choveram críticas sobre a forma como o jogador tentou fintar as regras. Até o tenista espanhol Rafael Nadal, atual recordista de Grand Slams, deixou um reparo ao adversário. “Quem se vacina não tem qualquer problema em entrar na Austrália e jogar. Se te vacinas, jogas, por isso, vacina-te. O mundo já sofreu demasiado”, disse o jogador que procura agora o 23.º Major da carreira. Também o russo Daniil Medvedev afirmou, durante o torneio do qual o sérvio ficou impedido de participar, que “se Djokovic tivesse uma isenção justa, devia estar aqui. Se não, não devia estar”.

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As mudanças no governo australiano acabaram por beneficiar o jogador, que conseguiu perdão do novo ministro da Imigração, Andrew Giles, que em novembro revogou a decisão que impedia o tenista de entrar no país, permitindo a Djokovic participar na edição deste ano do Grand Slam com um visto temporário. O sérvio está assim em condições de conquistar o 22.º grande título da carreira (igualando Nadal) e bater o recorde de nove vitórias no Open da Austrália que lhe pertence.

No regresso à Austrália, Djokovic estreia-se diante do espanhol Carballés Baena. Ainda assim, uma sondagem do The Sunday Morning Herald revela que apenas 30% dos australianos inquiridos concorda com Djokovic entre no país.

O que já deu para perceber nos dias que antecederam o início do torneio foi que mesmo com toda a polémica que envolveu o tenista sérvio, o público está do seu lado. Perante 15.000 pessoas, o detentor de 92 títulos ATP defrontou Nick Kyrgios num jogo amigável. “Fiquei muito emocionado ao entrar no court com esta receção. Não sabia o que ia ser recebido depois dos acontecimentos do ano passado. Estou muito grato pela energia, pelo amor e pelo apoio que recebi”. Na antevisão ao torneio, teve também oportunidade de dizer ao 9NewsMelbourne que a situação do ano anterior “saiu do controlo” e “teve um impacto tão grande nos media” que o impediu de “lutar contra ela”.

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Desde maio, Djokovic venceu 39 jogos e perdeu apenas dois, um diante de Rafa Nadal em Roland Garros e outro na final do Masters de Paris contra Holger Rune. Na ausência de Carlos Alcaraz, tenista espanhol de 19 anos, número um do mundo, o sérvio é o principal favorito à vitória em Melbourne.