Saul pede turmas mais pequenas para um “trabalho digno”, Ana alerta para a falta de funcionários nas escolas e Susana critica a falta de educação dos jovens, todos imploram “respeito” pela classe de professores.

Saul Falcão trocou esta segunda-feira a sala de aula na escola Básica de Alfornelos para estar na Praça do Rossio, em Lisboa, no protesto organizado por oito estruturas sindicais que exigem “respeito pelos professores“.

O professor de música era um entre as centenas de docentes que participaram na concentração e um entre os muitos que aderiram à greve que esta segunda-feira se realizou nas escolas do distrito de Lisboa.

Segundo estimativas do secretário-geral da Fenprof, Mário Nogueira, a greve teve “uma adesão acima dos 90%” e provocou o encerramento de mais de uma centena de escolas.

O novo modelo de seleção e contratação de professores é um dos principais motivos do protesto mas, à Lusa, os docentes falaram de outros problemas do dia-a-dia que também motivam o descontentamento de quem trabalha na escola.

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Saul Falcão poderia queixar-se de dar aulas há 20 anos e ainda estar no 3.º escalão (a carreira docente tem 10 escalões), mas o que mais o preocupa é “a falta de condições de trabalho”.

“Os professores em Portugal ganham muito abaixo da média europeia, mas o problema não é apenas esse”, disse à Lusa, defendendo que as escolas deveriam ter “turmas muito mais pequenas para poder fazer um trabalho digno e sério”.

O tempo que temos para estar fisicamente com eles é pouco e não é de qualidade, porque não podemos ser mais versáteis do que somos”, lamentou o professor, acrescentando ainda ser preciso reforçar a equipa docente e de assistentes técnicos e operacionais.

Saul Falcão lembrou que “as crianças precisam de mais apoio” e “para muitas crianças a escola é o seu único porto de abrigo”.

A posição é corroborada pela professora de Filosofia Ana Graça, que dá aulas há 34 anos e está no 7.º escalão.

A docente do agrupamento de escolas Humberto Delgado, em Loures, disse à Lusa que há “nas escolas pessoas que precisam de muita atenção, não são 20 alunos com um professor ou um auxiliar que podem ajudar estas crianças. Isto é indecente do ponto de vista social”.

Ana Graça que também fez greve e esteve esta segunda-feira na concentração acredita que os encarregados de educação estão ao lado dos professores, até porque não esqueceram o trabalho que os docentes desenvolveram durante a pandemia.

“Durante a pandemia estive a trabalhar de casa, a assistir aos meus alunos fora de horas, às vezes à meia-noite e outras vezes às duas da manhã, porque eles não estavam bem e os pais da sabem disso”, recordou.

Já a professora de História Susana Rei acrescenta outro problema: “a violência física e psicológica“.

Professora há 35 anos e “presa eternamente 6.º escalão”, poderia focar-se na luta pelo fim das vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões ou pela recuperação dos anos de serviço congelados, mas Susana Rei sente-se mais afetada pela “falta de educação dos alunos”.

“Nunca fui agredida fisicamente, mas já tive alunos a dar pontapés nos cacifos. Já dei aulas e morri de medo”, desabafa a docente da escola de Loures, que critica “a falta de educação e de penalização sobre os alunos que sentem que podem fazer tudo e dizer tudo”.

“É muito duro estar entre quatro paredes com adolescentes que nos gozam e nos maltratam desde que chegamos à escola até que saímos. É muito duro e muito triste e há muita gente doente psicologicamente”, lamentou.

“Respeito” era a palavra presente em quase todos os cartazes que os professores levaram para a Praça do Rossio, em mais um protesto que começou no final do ano passado e poderá prolongar-se até fevereiro, segundo os pré-avisos de greve.

No sábado, dezenas de milhares de professores e pessoal não docente saíram à rua para participar num protesto promovido pelo STOP. Esta semana, responsáveis do ministério da Educação vão reunir-se com as estruturas sindicais nos dias 18 e 20 de janeiro para retomar as negociações.