O contexto, por vezes, é inibidor da criação de condições necessárias para alcançar da excelência. Chegar a um nível bom pode ser a única meta possível de atingir. É por isso que a estreia de Andy Murray na edição de 2023 do Open da Austrália esteve ao nível das suas maiores conquistas.

Era um ponto cuja decisão não oscilava apenas entre a vitória e a derrota. Andy Murray colocou a bola a girar a 191 km/h no campo de Matteo Berrettini para dar aos saudosistas a versão do ténis que mostrara em tempos e que ainda traz amarrado à raquete. O italiano respondeu ao serviço com uma pancada curta. O escocês subiu no court e obrigou o número 14 do ranking a fazer o mesmo. Berrettini viu a metade direita do campo disponível para chegar à vitória no encontro. Com uma esquerda a duas mãos, procurou esse espaço, mas a rede intercetou o destino final da bola. Murray salvara assim o match point que encerraria o encontro no quinto set.

Foi uma prova de resistência do antigo número um do mundo que ganhou os dois primeiros sets com um duplo 6-3 e perdeu os seguintes por 6-4 e 7-6 (9-7 no tie break). Apesar de Berrettini ter voltado ao jogo, Murray dava sinais de que não tinha desperdiçado todas as forças no início do encontro, guardando reservas para sair por cima. Salvar o match point deu alento a Murray para fechar o parcial em 7-6 (10-6) e vencer a partida.

O britânico aguentou quatro horas e 49 minutos para garantir a primeira vitória num Grand Slam contra um jogador do top 20 mundial desde 2017, quando bateu Kei Nishikori em Roland Garros. Longe do melhor rendimento devido a uma lesão na anca que quase lhe colocou fim à carreira, Murray obteve o melhor resultado dos últimos cinco anos na Rod Laver Arena. Para isso, contribuíram os 59 erros não forçados do italiano contra os apenas 34 do agora número 66 do ranking mundial.

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Em 2019, queixava-se que a dor era demasiada, o que o impedia de praticar o seu melhor ténis. O joelho a sangrar com que terminou o jogo demonstrava não só o sacrifício que colocara no court na primeira ronda do Open da Austrália, mas também nos últimos anos da carreira.

“Fiquei impressionado comigo próprio. Costumo ser duro comigo mesmo, mas tenho que dar crédito a mim próprio. Nos últimos anos perdi alguns jogos deste tipo. As coisas podiam ter corrido de outra forma hoje, mas mantive-me forte e mereci vencer”, afirmou no final do encontro.

Andy Murray conquistou três Majors – US Open (2012) e Wimbledon (2013 e 2016) –, mas nunca se sagrou campeão do Open da Austrália. O adversário que derrotou, Matteo Berrettini, era um dos principais candidatos a vencer a prova este ano, após ter sido semi-finalista em 2022.