Um acordo de mobilidade laboral com o Vietname e o alargamento dos setores do investimento tailandês em Portugal são algumas das possibilidades abertas pela visita, em curso, do ministro português dos Negócios Estrangeiros a três países do sudeste asiático.

Terminadas as reuniões em Banguecoque e Hanói, João Gomes Cravinho destacou esta quarta-feira, em declarações à Lusa, que a relação histórica e sem conflitos com Tailândia e Vietname é “um ativo” que dá “vantagem” a Portugal para estreitar relações políticas, económicas e culturais com uma região de grande dinamismo económico.

Estes dois países “olham para Portugal como um parceiro antigo com quem nunca tiveram conflitos e em quem podem confiar“, sublinhou o chefe da diplomacia portuguesa.

O ministro português teve reuniões com o seu homólogo e também vice-primeiro-ministro da Tailândia, Don Pramudwinai, e com um conjunto de empresários que têm investimentos em Portugal, encontros todos “muito positivos”, referiu.

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O ministro adiantou que o grupo tailandês Minor, dono dos hotéis Tivoli, pretende internacionalizar a marca, e que ouviu “satisfação generalizada” dos investidores tailandeses já presentes em Portugal – nas áreas das pescas, automóvel e outras – e que querem reforçar essa presença, também em áreas como as energias renováveis.

“Fizemos o mapeamento para o futuro”, disse Gomes Cravinho à Lusa, referindo o interesse demonstrado nas áreas do retalho, centros comerciais, e turismo, onde “a oferta que Portugal e Tailândia têm não é concorrencial e por isso permite cooperação”, nomeadamente através das escolas de turismo e na gastronomia.

Se os investimentos tailandês em Portugal é significativo, a presença portuguesa na Tailândia “é extremamente reduzida” e o governo quer promovê-la aproveitando a relação histórica, “uma base de trabalho que dá vantagem”, destacou.

Símbolo da relação histórica – os portugueses foram o primeiro povo ocidental a contactar com os antepassados dos tailandeses em 1511 e a embaixada portuguesa é a mais antiga na Tailândia – há um bairro no centro de Banguecoque com uma população que se identifica com descendentes de portugueses do século XVI, que João Cravinho visitou antes de seguir para o Vietname.

A ideia de um “acordo de mobilidade laboral com o Vietname” surgiu na reunião com o seu homólogo, Bui Thanh Son, do chefe da diplomacia portuguesa, que também teve um encontro separado com o primeiro-ministro, Ph?m Minh Chính.

Concordámos que os ministérios respetivos, da nossa parte o Ministério do Trabalho e Segurança Social, vão analisar essa possibilidade”, revelou o ministro, considerando que Portugal “pode beneficiar desta disponibilidade de mão-de-obra vietnamina”.

O ministro dos Negócios Estrangeiros salientou que viu “um forte interesse de reforço das relações” nos vários domínios e, a nível económico, de reforço das relações nos setores marítimo, portuário, energias renováveis e turismo.

Além dos temas bilaterais, foi abordado o tema da guerra na Ucrânia e também a tensão na região do sudeste asiático relacionada com o mar da China, e as reivindicações de território por parte de Pequim que afetam o Vietname e outros países da região.

Os interlocutores vietnamitas mostraram interesse em conhecer melhor os arquivos históricos portugueses, pela importância que podem ter, nomeadamente mapas, nestas disputas jurídicas, tendo João Cravinho manifestado a disponibilidade portuguesa para receber os especialistas que Hanói queira enviar.

No Vietname também há um apego à relação histórica, “o que me foi transmitido por diversos interlocutores”, afirmou o ministro nas declarações à Lusa.

João Gomes Cravinho recordou, neste contexto, a situação única do Vietname de ter a tradução, num registo romanizado, da língua escrita do Vietname, distinta do chinês, o que se deve ao Padre jesuíta Francisco de Pina, um português, natural da cidade da Guarda.

A visita do ministro português á região termina esta sexta-feira em Singapura, onde se destaca o investimento de uma empresa do grupo EDP em renováveis, igualmente com intuito de estreitar relações políticas, económicas e culturais, bilaterais.