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O Evangelho de Matheus numa equipa que não é só fé (a crónica do Sporting-FC Porto)

Este artigo tem mais de 1 ano

Clássico teve chances e momentos divididos mas ficou definido a partir do golo de Uribe, pelo que os leões não conseguiram fazer (entre erros de Amorim) e pelo que os dragões souberam fazer (1-2).

Uribe já tinha marcado no jogo da primeira volta no Dragão e voltou a abrir o marcador no clássico em Alvalade
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Uribe já tinha marcado no jogo da primeira volta no Dragão e voltou a abrir o marcador no clássico em Alvalade

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Uribe já tinha marcado no jogo da primeira volta no Dragão e voltou a abrir o marcador no clássico em Alvalade

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A parte ancestral de quase 250 clássicos de uma história que começou há pouco mais de um século quando o FC Porto venceu o Sporting em 1922 na final do Campeonato de Portugal no Campo da Constituição, o duelo relativamente recente mas que começa a ganhar história entre Rúben Amorim e Sérgio Conceição – que caiu mais para o lado dos lisboetas no início mas teve depois uma viragem de tendência para os nortenhos –, uma questão de orgulho de quem ambiciona todas as épocas ser o número 1 do país. Um clássico envolve tudo isto e muito mais mas, desta vez, a classificação estava acima do resto para definir o jogo no Estádio José Alvalade. E se os dois conjuntos atravessavam a melhor fase da temporada a nível de resultados (olhando para as exibições a realidade podia ser diferente), uma vitória seria o equivalente a mais do que três pontos.

Sporting-FC Porto. Diogo Costa defende remate de Trincão (0-0, 22′)

No lado do Sporting, a série recente de três vitórias consecutivas no Campeonato mostrou o melhor e o pior da equipa na presente temporada. Com o Vizela, a incapacidade de fechar jogos apesar das oportunidades para isso e a perseverança para não desistir até ao final para ganhar com um penálti nos descontos. Com o Sp. Braga, a evidente subida de rendimento que consegue ter nos encontros com adversários com objetivos semelhantes mesmo que isso nem sempre fique expresso no resultado. Com o Rio Ave, a bipolaridade das exibições cinzentas depois de uma goleada, neste caso resgatada com a estrelinha de Chermiti naquele que foi o único remate enquadrado em 90 minutos. Agora, por mais que Rúben Amorim quisesse aligeirar toda a pressão e relevância do resultado, não havia margem de erro. E das duas, uma: ou o Sporting entrava a sério na luta pelo segundo lugar, reduzindo para quatro pontos a distância para os dragões, ou tinha pela frente um caminho onde na melhor das hipóteses poderia lutar para chegar ainda à terceira posição.

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“Não vejo grandes diferenças na preparação do jogo. Conhecemos bem o FC Porto, eles também. Podemos fazer alterações nas características dos jogadores mas a forma de jogar das duas equipas está bem presente nas cabeças dos treinadores que prepararam este jogo da mesma maneira que prepararam o jogo da Taça da Liga. São dois clubes que têm sempre de vencer, independentemente da importância do jogo. Não vejo assim tantas diferenças. Será um jogo muito competitivo como sempre, esperamos desta vez ganhar”, comentara o técnico leonino à luz da última final da Taça da Liga, marcada também pelas críticas feitas à arbitragem. “A revolta é jogar futebol, focar nas tarefas que temos a fazer, temos de aprender a lidar com todos os momentos do jogo. Mais motivação? No início do jogo só têm de pensar que têm de ganhar, mais nada, e que se não ganharmos que será o fim do mundo. É assim que temos de levar até ao final da Liga”, destacara.

Da parte do FC Porto, a imagem de uma parte da maratona que é uma temporada em que a equipa seguia num ritmo de grande confiança à sombra de oito vitórias consecutivas, que permitiram reduzir as distâncias no Campeonato como valeram a conquista de mais um troféu (Taça da Liga) e o apuramento para as meias da Taça de Portugal, mas com uma maior possibilidade de risco de abrandamento não pelo que a equipa faz em campo mas pelo número de opções mais limitado num ciclo particularmente denso do calendário quando a Liga dos Campeões também está mais próxima do regresso. No entanto, e à semelhança do seu rival, não havia margem de erro. E das duas, uma: ou o FC Porto somava mais um triunfo no clássico que iria permitir uma nova aproximação ao primeiro lugar do Benfica com cinco pontos de distância ou ficaria refém dos insucessos dos encarnados perante uma segunda volta teoricamente mais difícil para os azuis e brancos.

“Espero um adversário difícil, uma equipa que luta pelos mesmos objetivos do que nós. É um jogo sempre competitivo, um clássico. Se o jogo vai mudar muito ou não… Defrontámo-nos há pouco tempo e sabemos que temos algumas coisas para trabalhar, melhorar e evoluir mas isso faz parte do processo. Em termos de opções, não podemos esconder que temos jogadores de fora. Ficamos com menos soluções. Apesar disso, não faço disso algo que seja decisivo para o encontro. Quando o meu discurso normalmente é acreditar sempre em toda a gente, basta ter onze jogadores e alguns no banco, se bem que nem sei se consigo completar o banco… Estamos aqui para dar luta, trabalhar e lutar pelos três pontos. Estão os sete jogadores de fora, o único que pode recuperar é o Eustáquio”, referira Sérgio Conceição, que entre baixas como as de Fábio Cardoso, Wendell, Gabriel Veron ou Evanilson não poderia contar de novo com o sub-capitão Otávio.

Perante essa ausência do internacional português, Pepê voltou a assumir um protagonismo maior até por pisar terrenos mais centrais que lhe permitem fazer a diferença pela qualidade técnica e dimensão tática que foi ganhando desde que chegou ao Dragão e marcou mesmo o golo que sentenciou o jogo mas foi Matheus Uribe outra vez a assumir o principal papel de protagonista pela dimensão tática que conseguiu dar ao encontro pelo meio, pela capacidade que teve de ler os momentos de jogo atuando muitas vezes à frente de Grujic e pela perseverança com que ganhou com alguma sorte à mistura o ressalto que veio de um corte de Ugarte e permitiu com que fizesse com um remate em arco o 1-0 (que fez toda a diferença no final), pelo que o Sporting nunca conseguiu fazer e pelo que o FC Porto soube sempre fazer para a vitória. Cada vez mais os leões são uma equipa de fé. Num golo de Chermiti, num rasgo de Marcus Edwards, num pontapé de Pedro Gonçalves. Os dragões são muito mais do que isso, a todos os níveis. E isso voltou a ficar bem patente.

Ficha de jogo

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Sporting-FC Porto, 1-2

20.ª jornada da Primeira Liga

Estádio José Alvalade, em Lisboa

Árbitro: Artur Soares Dias (AF Porto)

Sporting: Adán; Gonçalo Inácio, Coates, Matheus Reis (Diomande, 70′); Bellerín (Ricardo Esgaio, 55′ e Arthur Gomes, 70′), Ugarte, Pedro Gonçalves, Fatawu (Nuno Santos, 46′); Marcus Edwards, Francisco Trincão (Paulinho, 35′) e Chermiti

Suplentes não utilizados: Franco Israel, St. Juste, Tanlongo e Mateus Fernandes

Treinador: Rúben Amorim

FC Porto: Diogo Costa; João Mário (David Carmo, 89′), Pepe, Marcano, Zaidu; Uribe, Grujic, André Franco (Wilson Manafá, 83′); Pepê, Galeno (Toni Martínez, 75′) e Taremi (Eustáquio, 83′)

Suplentes não utilizados: Cláudio Ramos, Rodrigo Conceição, Danny Loader, Gonçalo Borges e Bernardo Folha

Treinador: Sérgio Conceição

Golos: Uribe (61′), Pepê (90+4′) e Chermiti (90+7′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Matheus Reis (42′), Galeno (44′), Ugarte (67′), Marcus Edwards (78′) e Adán (90+5′)

Para todos aqueles que se consideram reis nas apostas feitas em relação aos onzes iniciais, Rúben Amorim foi uma espécie de desmancha prazeres. Sérgio Conceição tinha várias opções possíveis perante as muitas ausências, as principais com a colocação de Danny Loader na frente ou a permanência de André Franco na equipa. Ganhou a segunda opção, com a aposta no jogador que decidiu a eliminatória da Taça em Viseu e que tenta ainda assumir outro papel nos azuis e brancos. No caso do Sporting, nada bateu certo até porque havia algo que ficou blindado no balneário dos leões que foi a gestão física de Morita. Assim, e além da saída do japonês (entrou Trincão, com Pedro Gonçalves a recuar no campo), Bellerín ganhou o lugar a Ricardo Esgaio, Chermiti manteve-se no onze à frente de Paulinho e Fatawu foi a surpresa em vez de Nuno Santos. Mesmo sendo o terceiro clássico da época e o segundo em duas semanas, há sempre surpresas na calha.

A vontade de surpreender estava lá, a capacidade para surpreender nem por isso. O Sporting ainda teve um período inicial com a conquista de cantos e livres laterais onde colocava a bola na área contrária mas sem grande perigo, com Pedro Gonçalves a assumir também uma tentativa direta mas que saiu por cima da trave da baliza de Diogo Costa (8′). O FC Porto aproveitou depois um período com o jogo mais partido para lançar João Mário na profundidade pela direita mas ou Adán conseguia tirar de forma atabalhoada ou os remates saíam em rosca sem perigo (9′ e 12′). Só mais tarde surgiriam as primeiras grandes oportunidades do clássico, com Edwards a surgir isolado na área a rematar de pé esquerdo ao lado após uma jogada de envolvimento na esquerda entre Fatawu e Matheus Reis (20′), Galeno a atirar por cima em boa posição após corte incompleto de Coates na área (21′) e Trincão a tentar fraco na passada após centro de Bellerín (22′).

[Clique nas imagens para ver os melhores momentos do Sporting-FC Porto em vídeo]

As características do encontro mantiveram-se até ao intervalo, que chegou sem golos mas com algumas oportunidades para os dois lados. Quando o meio-campo portista falhava ou quando Bellerín conseguia dar profundidade ao jogo do Sporting, os leões conseguiam ter chegadas com perigo ao último terço com Marcus Edwards a ter mais um remate em boa posição mas por cima (26′) antes de Rúben Amorim mexer logo na equipa com Trincão a sair pouco depois da meia hora para dar lugar a Paulinho quando se pensava que era Chermiti o “sacrificado” por motivos físicos. No entanto, e quando o FC Porto conseguia lançar as transições, ganhava muitas vezes vantagem até chegar à área contrária, tendo uma oportunidade soberana num remate de Taremi à trave que Marcano não conseguiu desviar para a baliza na recarga (33′) antes de Pepê atirar enquadrado para defesa de Adán (40′). O primeiro tempo fecharia com os leões de novo por cima, com Chermiti a ver Marcano tirar um golo feito na área (42′) antes de Diogo Costa fazer a melhor intervenção do encontro num livre direto de Edwards e Taremi desviar no ataque seguinte ao lado (45+1′).

Rúben Amorim não demorou muito mais para tentar procurar outros equilíbrios na equipa, tirando logo ao intervalo Fatawu para colocar Nuno Santos. João Mário deixou de ter a passadeira estendida sempre que tentava subir pelo flanco direito mas nem por isso o FC Porto abdicou de uma entrada mais forte no jogo, com várias recuperações de bola no meio-campo leonino e tentativas de colocar mais em campo Galeno pela esquerda e Pepê pelo meio ainda que sem chances para visar a baliza de Adán. O Sporting equilibrou, já com Ricardo Esgaio no lugar de Bellerín presumivelmente por mera gestão física, e até foi conseguindo ter mais bola no meio-campo contrário mas chances, nem vê-las. Quando apareceu, deu golo: Grujic encontrou Uribe mais à frente, o passe cortado por Ugarte “fintou” Gonçalo Inácio, funcionou quase como uma assistência e o médio colombiano só teve depois de colocar em jeito descaído na esquerda da área (61′).

Enquanto Sérgio Conceição recolocava os jogadores num esquema adaptado à vantagem, mexendo na forma como os alas se posicionavam sem bola, Rúben Amorim estava de cabeça em baixo sentado no banco quase que a pensar naquilo que poderia fazer tendo em conta o momento em que sofreu o golo e o contexto que iria ter no clássico daí para a frente. Ainda congelou as substituições pensadas, acabou mesmo por avançar com as mesmas mas tirando jogadores que não estavam inicialmente nas opções como Ricardo Esgaio (além de Matheus Reis) para as entradas de Arthur Gomes e Diomande. Ou seja, cerca de 15 minutos depois, o lateral que tinha sido preterido das escolhas iniciais entrou para sair quase a seguir. Não é normal haver este tipo de decisões mas não é a primeira nem a segunda vez que o técnico mostra este tipo de inconstâncias que não têm em nada a ver com aquilo que era seu costume nos anos iniciais em Alvalade.

O FC Porto dava a iniciativa de jogo ao Sporting, tentava aproveitar os espaços que se iam destapando na retaguarda e na recuperação dos verde e brancos, geria o clássico como queria sem que as alterações que os leões iam fazendo tivessem qualquer tipo de impacto no jogo ofensivo da equipa. Mais: quando Conceição trocou Taremi e André Franco por Wilson Manafá e Eustáquio, aos 81′, a formação da casa não tinha sequer feito um único remate desde que estava em desvantagem, conseguindo apenas essa “façanha” a dois minutos do final da partida com um grande cruzamento longo de Marcus Edwards da direita a encontrar Chermiti ao segundo poste para o desvio travado por Diogo Costa, sendo que o jovem avançado ainda iria mesmo marcar em cima do minuto 90 mas com o lance a ser anulado por fora de jogo de 61 centímetros. Jogo acabado? Longe disso: Pepê fez o 2-0 com muita classe após assistência de Toni Martínez (90+4′), Chermiti reduziu para 2-1 após cruzamento de Arthur Gomes (90+7′) e não haveria tempo para mais.

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