É quase um paradoxo mas os méritos de 100 jogos no Campeonato acabaram por ditar essa diferença de 180º a nível de perceção. Quando chegou a Alvalade vindo do Sp. Braga, numa contratação que entrou para o top 5 das transferências mais caras de sempre de um treinador (de longe a mais cara na realidade nacional), Rúben Amorim já era contestado à boleia dos dez milhões que se transformariam em mais de 12 e do clima em torno da Direção do Sporting liderada por Frederico Varandas; quase três anos depois, esses resquícios de contestação ainda existem concentrados sobretudo nas claques mas o técnico é o último a ser colocado em causa, tanto que tem um contrato válido até 2026, blindando por uma cláusula de rescisão alta e sem sinais para já de qualquer desgaste que faça pensar duas vezes. No entanto, o momento é tudo menos o melhor.

Um homem de Vidago a curar a ressaca de Paulinho (a crónica do Desp. Chaves-Sporting)

“100 jogos? O que sinto é que estragámos um bocado a média… É um orgulho estar num clube tão grande como o Sporting. Não gosto de escolher o melhor momento mas ser campeão traz realização a qualquer treinador. O pior… são vários. Mesmo quando jogámos bem e sinto que a equipa não dá tudo, são sempre maus momentos. Há sempre bons e maus. Diria que o melhor foi quando fomos campeões. A vida familiar é sempre a minha prioridade. Não ia para lado nenhum sem a minha família. Vamos ver quanto tempo aguento essa vida mas sou bastante jovem e sinto-me bastante realizado. Achava que tinha nascido para ser jogador, mas se calhar nasci para ser treinador…”, tinha confidenciado o técnico antes do jogo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A marca redonda acabou por ser assinalada por mais uma vitória fora, a segunda consecutiva depois do 1-0 em Vila do Conde frente ao Rio Ave, que quebrou uma série com uma derrota frente ao FC Porto e o empate com o Midtjylland. E, com isso, o Sporting passou a ter um saldo positivo nos encontros feitos como visitante nesta Liga entre cinco triunfos, dois empates e quatro derrotas. Contudo, e entre todas as boas notícias, a equipa voltou a consentir dois golos, levando já tantos golos sofridos em 21 jornadas do que em todo o último Campeonato (23) além dos oito pontos de diferença para o terceiro lugar do Sp. Braga.

“É óbvio que é uma situação complicada [na classificação]. Ainda há muito Campeonato mas o que temos de fazer é pensar que isto não acaba esta época. Há muito por conquistar esta época, mas temos de preparar o futuro. Temos de imaginar que corra bem ou mal, estamos a preparar a nova época. Estamos a preparar o futuro, podemos sempre melhorar. Temos de encaixar os maus momentos que nos ajudam a crescer. Vamos ser melhores no futuro”, destacou na flash interview da SportTV após o encontro em Trás-os-Montes.

“Na primeira parte voltámos a entrar bem como costumamos entrar. Tínhamos muitas vezes dúvidas em relação em como jogar a bola e isso foi uma evolução muito grande em relação ao último jogo. Sentimo-nos mais confortáveis neste jogo mas se temos oportunidades temos de fazer o segundo golo. Depois, torna-se muito complicado. A verdade é que com uma falta rápida a isolar jogadores, com o Desp. Chaves a lançar jogadores em transição para o nosso lado esquerdo, criaram-nos algumas dificuldades. Quando estivemos em vantagem, devíamos ter mantido mais a posse de bola. Começámos a ter mais problemas mas acaba por ser uma vitória justa numa segunda parte onde controlámos. Defensivamente, fomos mais coesos. Voltámos um bocadinho à nossa forma de jogar. Fizemos três golos mas devíamos ter feito mais. Depois, o último golo sofrido é um bocado o espelho da época. O jogo ainda não acabou, não sabemos o que vai acontecer e estamos numa fase em que não podemos facilitar nada”, resumiu ainda sobre o triunfo em Chaves.

Em paralelo, Rúben Amorim abordou também a situação de Pedro Gonçalves, não só o regresso às grandes exibições que lhe valeram o prémio de MVP como a grande penalidade que decidiu oferecer a Chermiti com o resultado em 3-1, que poderia ter valido a ascensão a melhor marcador do Campeonato.

“Substituição na segunda parte? O Pedro Gonçalves é mais um homem a chegar à área, o Morita dá-nos mais consistência. O Pote define melhor naqueles momentos. Foi aquilo que procurámos fazer. Com a não validação do golo [de Paulinho] eu quis esperar mais um bocadinho mas pensei que mesmo sem golos nós jogaríamos melhor desta maneira. O espaço estava pelos corredores e as transições estavam a sair muito pelo meio para os corredores. Tentei dar mais estabilidade. O Morita é um jogador que chega, o Pote tem muito golo”, explicou a propósito da substituição que foi determinante para a decisão do jogo.

“Penálti para o Chermiti? São as mesmas regras… Da outra vez disse que o Pote acertou e agora ele voltou a acertar porque ele decide se na altura está confiante ou não e se quer dar o penálti. Nesta época, tudo acontece ao contrário. Quando estava 4-0, com o Sp. Braga com menos menos jogador, ele não deu o penálti. Hoje deu o penálti, quando nós temos de matar o jogo, dê por onde der. Qualquer coisa nos pode fazer abanar, o futebol é mesmo assim. O Pote ia para melhor marcador. Não marcando, é um grande sinal da época. Pelo menos, sei que não olhou tanto para ele, olhou mais para a equipa. Isso é bom sinal”, concluiu o treinador sobre o lance que acabaria por ser desperdiçado depois pelo jovem avançado dos leões.