O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa mandou a Renault e a financeira RCI, agora denominada Mobilize Financial Services, voltar a colocar em funcionamento as baterias dos carros elétricos de nove clientes. Em declarações ao Observador, a filial portuguesa do Grupo Renault esclareceu que a decisão avançada pelo JN, “está alinhada com a prática que a Mobilize já vinha a promover”, tendo já sido desbloqueadas as baterias de mais de 40 viaturas. A Renault Portugal garante ainda que “está, desde a primeira hora, ao lado dos clientes” que foram lesados.

“Tanto assim é que, já no verão passado, passámos a disponibilizar uma ferramenta online que permite, mediante a inserção do número do chassi, perceber qual é realmente a condição associada à bateria do veículo adquirido, isto é, se no processo que lhe está associado, há a indicação que a bateria foi alugada ou comprada”, explica Hugo Barbosa, diretor de Comunicação da Renault Portugal. Segundo este responsável, a Renault “é completamente alheia” a este processo de suposta burla levada a cabo apenas um concessionário, o E-Drive, de Vila do Conde — que poderá ter encaixado com este esquema perto de 1 milhão de euros, dado que a compra da bateria de um Renault Zoe exigiria um pagamento adicional a rondar os 10 mil euros. E são mais de 100 os veículos envolvidos — alguns deles parados há mais de um ano, por alegada falta de pagamento do aluguer.

O problema, a ser dirimido na justiça, está no facto de a Mobilize ter a indicação de que essas baterias eram alugadas, razão pela qual a empresa solicitou aos lesados que celebrassem novo contrato de aluguer, desembolsando mensalmente entre 69 e 119 euros, durante uma década, ou comprassem a bateria que custa agora, no mínimo, 7000€. Mas como os clientes já haviam pago a bateria, não querem voltar a pagar algo que já lhes pertence.

Na origem desta situação estará um negócio que, ao que o Observador apurou, estará já a ser investigado pela Polícia Judiciária e que tem como principal figura Alberto Ramalho, dono da E-Drive. Fonte próxima do processo, explica ao Observador que o referido empresário terá adquirido os carros à Mobilize, assinando um documento em que reconhecia ter conhecimento de que se tratava de viaturas com aluguer de baterias e que seria nessa condição que poderiam ser vendidas a terceiros. Mas não terá sido assim que o processo evoluiu, dando-se a coincidência de os Renault Zoe vendidos pela E-Drive terem sido adquiridos pela empresa Famaburgo, que depois os revendeu para uma outra empresa exatamente com a mesma sede social da Famaburgo, em Vila do Conde.

“Vamos para a justiça e será a justiça a repor a verdade dos factos. E a verdade é que a Mobilize também é lesada neste processo. A Renault Portugal não quer e tudo vai fazer para que clientes de boa-fé não saiam lesados desta lamentável situação. Tanto assim é que, ainda antes desta providência cautelar, já tínhamos recolocado em funcionamento mais de 40 baterias. Contactem-nos e tudo faremos para encontrar em conjunto uma solução aprazível para ambas as partes”, apela Hugo Barbosa.

No despacho a que o JN teve acesso, a juíza considerou que a intervenção remota nos veículos foi “ilícita” e deu cinco dias à Renault para desbloquear a bateria das viaturas que pertencem aos nove lesados que interpuseram a providência cautelar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR