É a pergunta que surge sempre que o assunto é o futuro da Fórmula 1: quando é que uma mulher vai integrar a grelha do Campeonato do Mundo? Os esforços nessa direção têm-se multiplicado nos últimos anos e 2023 parece ser a temporada que será recordada como o momento do ponto de viragem.

No passado mês de novembro, a Fórmula 1 anunciou a criação da F1 Academy, uma competição que terá como objetivo desenvolver e preparar jovens pilotos — todas mulheres — para a progressão para os escalões mais altos do automobilismo. A ideia é facilitar a transição dos karts para as Fórmulas, um salto que se tem comprovado muito complexo para a larga maioria das raparigas.

A temporada de estreia arranca a 28 de abril na Áustria, terá sete eventos com três corridas cada — chegando a um total de 21 corridas anuais — e vai contar com 15 pilotos espalhadas por cinco equipas: a ART Grand Prix, a Campos Racing, a Rodin Carlin, a MP Motorsport e a Prema Racing. A F1 Academy vai contar com monolugares da Fórmula 4 e motores com 165 cavalos de potência, sendo que as estruturas de apoio a cada equipa pertencem à Fórmula 2 e 3.

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A nova competição totalmente feminina vai receber apoio direto da Fórmula 1, que vai subsidiar cada carro com um orçamento de 150 mil euros, com as pilotos a cobrirem o mesmo montante de forma individual. Esta quarta-feira, foi ainda anunciado que a diretora-geral da F1 Academy será Susie Wolff, antiga piloto que foi a última mulher a testar para a Fórmula 1, na altura enquanto piloto de desenvolvimento da Williams.

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“A F1 Academy apresenta uma oportunidade de promover uma verdadeira mudança na nossa indústria, criando a melhor estrutura possível para encontrar e alimentar o talento feminino na sua viagem para os níveis de elite do desporto motorizado, tanto dentro como fora de pista”, explicou a britânica, que é casada com Toto Wolff, o conhecido diretor da Mercedes.

“Há muito trabalho a ser feito mas também há uma clara determinação para fazer isto bem. Ao fazê-lo, acredito que a F1 Academy pode representar algo para além das corridas. Pode inspirar mulheres em todo o mundo a seguirem os seus sonhos e a compreenderem que, com talento, paixão e determinação, não há limite para o que elas podem alcançar. Este é também o início de um novo e importante capítulo na minha carreira, combinando a experiência que desenvolvi até agora com a minha paixão pela diversidade e empoderamento”, acrescentou Susie Wolff, que competiu na Fórmula 3 do Reino Unido e mais recentemente foi diretora da Venturi Racing na Fórmula E.

De forma mais prática, a F1 Academy vem substituir a W Series, uma competição totalmente feminina que tinha começado em 2019 e que terminou na época passada. A grande diferença é que esta nova prova pretende preparar as pilotos para uma evolução que tem como último degrau a entrada da Fórmula 1, enquanto que a W Series não previa qualquer tipo de progressão. Mais: há quatro anos, quando foi anunciada, chegou mesmo a ser acusada de segregar as mulheres ao invés de as incluir.

De recordar que, há cerca de duas semanas e na apresentação dos novos carros para 2023, a Alpine revelou o projeto Rac(h)er, um novo Centro de Alta Performance que vai desenvolver um programa de treino individual para os pilotos e totalmente focado na performance. Ou seja, sem qualquer tipo de critério prévio no que toca ao género, com a Alpine a apresentar desde logo seis jovens que vão integrar o programa para se tornarem ” as campeãs de amanhã”.

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A aposta dos franceses na integração das mulheres no desporto automóvel é uma das prioridades para os próximos anos e o projeto Rac(h)er tem como objetivo final colocar uma piloto na Fórmula 1. Para isso, a equipa integrou Sophia Floersch na Alpine Academy na Fórmula 3 e Abbi Pulling na Fórmula 1, dois dos maiores talentos femininos da atualidade e tidas como as mulheres mais promissoras do automobilismo. O novo Centro de Alta Performance vai ainda contar com a contribuição inspiradora de Nicola Adams, bicampeã olímpica e a pugilista britânica mais bem sucedida de sempre, e Zara Rutherford, que aos 20 anos é a mais jovem de sempre a realizar sozinha um voo à volta do mundo.

A ideia é simples: pegar nas experiências de Adams e Rutherford e impulsionar a próxima geração de talento no feminino. “Como atleta de topo, os meus mentores tiveram um papel instrumental na minha carreira. Mal posso esperar por poder transmitir as minhas experiências, ajudar os pilotos e as equipas, dar conselhos. Quero ser uma contribuição para a Alpine e ajudar a aliviar as desigualdades de género no desporto”, explicou a pugilista de 40 anos no evento que decorreu em Londres.