As manifestações do “Dia da Disrupção Nacional”, em Tel Aviv (Israel), terminaram com uma forte carga policial sobre os manifestantes, apelidados de “anarquistas” pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu. Israel está em plena crise política, que se alastra agora às ruas, já que está é a primeira vez que se regista repressão policial sobre as manifestações contra a reforma judicial do governo de Netanyahu, que decorrem há cerca de dois meses.

Os vídeos do local mostram a polícia a usar gás lacrimogéneo e granadas de atordoamento, bem como a carregar a cavalo sobre a multidão, que gritava “democracia” e “estado policial”. Os agentes recorreram ainda a canhões de água.

De acordo com a polícia israelita, 39 manifestantes foram detidos. Segundo o Times of Israel, 11 pessoas terão sido hospitalizadas — entre elas um homem que terá ficado sem uma orelha, depois de uma granada de atordoamento ter explodido ao seu lado, numa situação confirmada pelo Jerusalem Post no local.

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As manifestações desta quarta-feira faziam parte dos protestos contra a nova lei judicial do atual governo de Benjamin Netanyahu, formado pelo seu partido, o Likud, e forças de extrema-direita como o Otzma Yehudit e o Partido Religioso Sionista. Os defensores da lei dizem que esta serve para reduzir a influência de juízes, por estes não serem eleitos; os críticos acusam o governo de estar numa via autoritária, ao atacar o poder judicial.

Ainda durante o dia, o ministro da Segurança, Ben Gvir, declarou que os agentes da polícia devem ter “tolerância zero contra anarquistas”, acusando os manifestantes de atacar os agentes. O líder da oposição, Yair Lapid, reagiu às declarações, classificando-as de “perigosas e irresponsáveis”, mas o primeiro-ministro deu respaldo a Gvir. “O direito ao protesto não é um direito à anarquia”, sentenciou Netanyahu, que acusou Lapid de estar ele a tentar “gerar anarquia” para derrubar o governo.

O líder do partido Unidade Nacional (e antigo candidato a primeiro-ministro) Benny Gantz apelou a Netanyahu que trave a lei judicial e se sente para negociar com a oposição.

A guerra civil está à nossa porta e esta coligação está a correr para ela de olhos fechados”, afirmou Gantz, segundo o Times of Israel.

A tensão que percorreu todo o dia em Israel não se limitou às manifestações e às cargas policiais. Dias antes, um grupo de colonos atacou a vila palestiniana de Hawara, sem ter havido resposta das forças de segurança para travar o ataque. Questionado sobre o caso esta quarta-feira, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich — também ele um colono — reagiu dizendo que Hawara deve ser “destruída”. Não por cidadãos privados, disse, mas pelo “Estado de Israel”.

Ao mesmo tempo, no Parlamento israelita, foi aprovada numa primeira fase uma proposta de lei para aplicar a pena de morte a palestinianos condenados por terrorismo contra cidadãos de Israel.

Ao final da noite, Benjamin Netanyahu fez uma declaração ao país. “Não aceitaremos violência em Huwara e não aceitaremos violência em Tel Aviv”, disse, colocando em pé de igualdade o ataque dos colonos — que matou uma pessoa e feriu outras 100 — com as manifestações. E voltou a apelidar os manifestantes de anarquistas, ao dizer que “a liberdade para protestar não é uma licença para levar o país à anarquia”.