De desequilibrador para goleador, de ala para avançado, sempre como opção inicial a partir de 2004 com a conquista da braçadeira durante o caminho. Era quase uma inevitabilidade assistir à quebra de recordes na Seleção por Cristiano Ronaldo, depois da estreia em 2003 que teve prolongamento em todas as fases finais de Mundiais e Europeus a partir daí (e foram dez, a que se juntou ainda a Taça das Confederações e a Liga das Nações). Com o tempo, todos esses registos foram alcançados. Primeiro, o maior número de golos que foi de Pauleta até 2014, quando o avançado marcou dois golos num jogo particular com os Camarões. Pouco depois, o maior número de jogos que foi de Luís Figo até 2016, quando o número 7 foi titular no encontro frente à Áustria durante o Europeu que terminaria com vitória de Portugal. Não ficou por aí. Longe disso.

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O “fosso” para os recordistas mundiais era grande, a longevidade ao mais alto nível de Ronaldo também. O que parecia à partida impossível há uns anos tornou-se mais possível. Provável. Inevitável. E após assumir que no seguimento do Campeonato do Mundo do Qatar ponderou a possibilidade de deixar a Seleção aos 38 anos, quis dar mais uma oportunidade a si e ao conjunto nacional. Com isso, cruzou-se com aquela que foi sempre a grande meta: bater recordes. “Eu não procuro os recordes, os recordes é que me procuram a mim”, disse no dia em que chegou ao 700.º golo da carreira, ainda em 2019. Agora alcançou mais um.

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A nível de seleções nacionais, Ronaldo torna-se a partir de hoje o detentor das duas grandes marcas. O avançado que se tornou o melhor marcador de sempre com um bis frente à Rep. Irlanda em 2021 na fase de qualificação para o Mundial de 2022, superando os 109 golos do iraniano Ali Daei, passa agora a ser também o jogador com mais internacionalizações, batendo o registo que pertencia a Bader Al-Mutawa, do Kuwait (196 jogos). Ou seja, além de ser o maior goleador de todos os tempos em jogos oficiais e o primeiro a passar a barreira dos 800 golos entre Sporting, Manchester United, Real Madrid, Juventus, Al Nassr e Portugal, Ronaldo, que mais recentemente se tornou no Qatar o primeiro a marcar em cinco fases finais de um Campeonato do Mundo, é o jogador com mais jogos e golos ao serviço de seleções.

“Se admiti em algum momento que o meu tempo na Seleção tinha chegado ao fim? Não vou mentir, na nossa vida temos de meter tudo em cima da balança. Pensámos, refletimos, estivemos bastante tempo a pensar, eu e a minha família, mas chegámos à conclusão de que, apesar das dificuldades, não podemos atirar a toalha ao chão. Conseguiu ver situações do Cristiano de diferentes ângulos, aprendi muito com isso. Estou muito contente por regressar à Seleção. O selecionador contava comigo e agradeço por isso, eu também quis sempre representar a Seleção. Consegui perceber que afinal ainda tenho muito para dar à Seleção. É isso que eu quero. Darei sempre o meu contributo quando precisarem de mim. Recorde? É a minha motivação, gosto de bater recordes e este é especial porque ser o jogador mais internacional é algo que me deixa bastante orgulhoso, além de já ser o melhor marcador também de seleções”, comentara Ronaldo na véspera.

Mas o capitão não ficou por aqui: depois de uma primeira parte em que teve três grandes oportunidades para marcar, uma delas flagrante isolado na área apenas com o guarda-redes pela frente, Ronaldo marcou o 119.º golo por Portugal na sequência de uma grande penalidade sobre João Cancelo e bisou pouco depois na marcação de um livre direto perto da entrada da área (60.º da carreira), com esse ponto curioso de ter estado vários jogos a fio sem brilhar de bola parada e agora marcar dois livres diretos de forma executiva (tinha feito o anterior na última vitória do Al Nassr). Em paralelo, este foi já o 20.º ano consecutivo em que o avançado marca pelo menos um golo por Portugal, sendo que no meio disso nasceu um novo recorde: CR7 tornou-se o primeiro jogador de sempre a marcar 100 golos por uma seleção em jogos oficiais (e a contar).