O negócio de manutenção da TAP no Brasil nunca foi “um ativo estratégico”, mas sim um sorvedouro de dinheiro. O Governo do PSD/CDS chegou mesmo a dar ordem à empresa pública para travar as transferências de fundos de Portugal para esta operação brasileira, que então estava sob a responsabilidade do então administrador Luís Rodrigues e que será o futuro presidente da TAP.

A informação foi avançada pelo ex-secretário de Estado das Obras das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, Sérgio Monteiro, na audição na comissão parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, a requerimento do PS, sobre a privatização da TAP.

“Nunca considerámos que a manutenção do Brasil fosse um ativo estratégico”. Mas o ativo era justificado pela a empresa “como a única forma de fazer a operação no Brasil crescer, o que eu tenho para mim que não fosse assim”, se não outras empresas teriam de ter também manutenção no país, apontou Sérgio Monteiro, em resposta aos deputados.

“Houve um momento em que a tutela financeira deu orientações à TAP, em 2015, para impedir a remessa de receitas de Portugal para o Brasil […]. O Brasil era um sorvedouro de dinheiro”, porque a atividade de manutenção era reduzida e as contingências laborais eram muito grandes, defendeu. À data, Luís Rodrigues era administrador financeiro da TAP e tinha sob a sua responsabilidade a tutela da VEM da qual foi presidente, mas quando assumiu estas funções já a empresa tinha acumulado perdas avultadas.

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Sérgio Monteiro revelou ainda nesta audição que as companhias europeias que hoje são apontadas como interessadas na privatização da TAP — referindo a Air France/KLM, IAG e Lufthansa — manifestaram que apenas estavam interessadas na compra do negócio lucrativo, a aviação, deixando de fora a manutenção que tinha prejuízos acumulados de centenas de milhões de euros. Mas explica que o Governo recusou o caminho fácil de “nacionalizar os prejuízos e privatizar os lucros”.

O ex-secretário de Estado considera ainda que foi isso que veio a acontecer com a ajuda pública de 3,2 mil milhões de euros, dos quais quase um terço serviu para financiar os custos do encerramento definitivo da empresa no Brasil, o que só veio a acontecer em 2022, após terem sido acumulados prejuízos de aproximadamente 600 milhões de euros em 13 anos. O negócio contava com mais de 380 trabalhadores.

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