O mayor de Lima, no Peru, encerrou o Lugar de la Memoria, la Tolerancia y la Inclusión Social (LUM), um museu que abriu em 2015 como forma de prestar tributo às vítimas que morreram nos conflitos no país entre 1980 e 2000. Um relatório do governo peruano revela que 69 mil pessoas morreram na guerra civil durante esse período.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, a razão oficial para o encerramento repentino do museu no final de março é o incumprimento de normas sanitárias municipais. No entanto, é conhecido que o autarca Rafael López Aliaga se opunha ao espaço cultural, que abriu há oito anos com fortes críticas “por parte de setores próximos das forças armadas e da polícia, que não reconhecem as violações de direitos humanos cometidas por alguns militares e agentes e, inclusivamente, recusam a designar o período como um conflito armado”, recorda a Agência EFE. 

Ativistas dos direitos humanos receiam agora que o fecho de portas do museu, na sua página oficial descrito como um lugar “para dialogar em torno de temas de direitos humanos, com foco no período de violência 1980-2000 no Peru, começado por grupos terroristas”, seja o princípio de um apagamento histórico. “A memória não esquece”, pode ler-se num cartaz num protesto contra o encerramento do equipamento cultural.

Rafael López Aliaga, conhecido como “Bolsonaro peruano”, foi eleito mayor de Lima em outubro e tomou posse em janeiro para um mandato de quatro anos. Em janeiro, o autarca acusou o museu de ser “uma ofensa para a nação” e de impor uma “falsa narrativa” sobre o período de guerra civil entre 1980 e 2000. Desde a sua abertura, o museu recebe cerca de 60 mil visitantes por ano, adianta o The Guardian.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A memória histórica é um valor fundamental de toda a democracia”, lê-se num tweet da página da União Europeia em Lima, que classifica o museu como “um espaço onde se preserva a memória do período de violência (1980-2000) que convoca a comunidade a informar-se e a refletir sobre o sofrido no Peru, para que não se repita nunca”.

Na mesma publicação, a delegação da UE no Peru assume “preocupação” com a decisão do encerramento “por questões técnicas”. “Estamos confiantes que as autoridades competentes estão a tomar as medidas necessárias para reabrir o quanto possível e de maneira segura este espaço vital para um debate social importante”, pode ler-se também.

Desde o seu encerramento que o museu tem prosseguido com atividades online. A 2 de abril, a ministra da cultura peruana, Leslie Urteaga, acreditava que dentro de uma semana poderiam chegar “boas notícias sobre a reabertura do LUM”. A ministra admitiu que outros museus também estavam em falta com certificados de segurança, mas nenhum outro além do LUM foi encerrado, aponta o The Guardian. Até à data de publicação deste artigo, o museu permanece de portas fechadas.

O Peru está numa situação política e social instável, numa crise desencadeada pela destituição e detenção do ex-Presidente Pedro Castillo, em dezembro, depois de uma tentativa falhada de dissolução do Parlamento. Desde então, a população tem tomado as ruas para exigir a demissão da presidente interina, Dina Boluarte, e eleições antecipadas. As manifestações têm sido reprimidas com violência por parte das forças policiais, levando o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos a condenar a atuação das autoridades e a lembrar o direito ao protesto pacífico. Pelo menos 66 pessoas já morreram durante os protestos, reporta a CNN.