O que parece, não é. Parecia que o AC Milan não faria mal a ninguém na Serie A tendo em conta todas as escorregadelas na prova mas de repente foi buscar o melhor que tinha de si e goleou o líder Nápoles no sul de Itália. Parecia que o Nápoles não parava de fazer mal a tudo e todos na Serie A tendo em conta todo o passeio que tem sido a atual campanha mas de repente mostrou o pior que tinha de si e saiu goleado por uma equipa que sendo campeã já andou fora dos lugares de acesso à Champions. Esse 4-0, sendo apenas um 4-0 que não teve qualquer impacto naquilo que é e será o campeonato transalpino até final, tornou aquilo que seria quase uma exclamação óbvia num enorme ponto de interrogação. Era esse o contexto da primeira mão dos quartos da Champions em San Siro. Sem favoritos, sem previsibilidade, sem desfecho antecipado e com duas figuras que continuam a ser duas das estrelas mais cintilantes na constelação do futebol italiano.

Quanto mais falam, mais joga: Rafael Leão “atropela” Nápoles com segundo bis da época e AC Milan goleia líder

Cada vez mais próximo dos registos da última temporada em que duplicou os seus melhores números numa época (14 golos e 12 assistências em 42 jogos), Rafael Leão surgia como principal destaque do AC Milan na tentativa de acalentar o sonho de chegar a uma final europeia 16 anos depois ou não fossem os rossoneri o segundo clube com mais títulos e decisões na prova. Aliás, na sequência dessa goleada em Nápoles em que fez miséria com dois golos e a participação num outro, o avançado que leva 11 golos e oito assistências foi mesmo poupado na receção ao Empoli, saindo do banco apenas a 20 minutos do final sem conseguir inverter o nulo. “Comparação com Kylian Mbappé? São dois jogadores fortíssimos, incríveis. É sorte jogar com os dois. Mas o Rafa tem de melhorar alguns aspetos, deve ouvir o que o mister lhe diz. São os dois muito fortes”, comentara antes do jogo o internacional francês Theo Hernández, que é companheiro de ambos entre clube e seleção.

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Do outro lado estava Khvicha Kvaratskhelia, ainda mais referência de um Nápoles que continuava a não ter na frente de ataque o lesionado Osimhen. Também conhecido como Kvaradona em alusão a Maradona ou Kvaravaggio pelas obras de arte em campo, o georgiano que está a ser a principal surpresa da temporada nas grandes ligas europeias após ter sido contratado ao modesto Dínamo Batumi chegava a este confronto com 14 golos e 14 assistências numa época de sonho que levou a que os fanáticos adeptos napolitanos vissem nele uma versão 2.0 de Diego Armando Maradona (com todas as enormes diferenças entre ambos, claro). Tanto que, durante a semana, ficou conhecida uma história que revelou bem essa veneração: nasceu aquele que é o primeiro bebé chamado Khvicha em Nápoles, nome dado pelo pai que se chama Armando… por causa de Maradona. “Se não estivéssemos a ter uma época assim, iria chamar-se só Daniele”,  explicou.

Maradona, Messi ou Salah? Talvez Kvaratskhelia seja só um talento nunca antes visto

Era entre eles que se esperava que viessem as decisões do único confronto entre equipas do mesmo país, com essa particularidade de estarem em confronto uma equipa com enorme passado histórico a tentar mostrar que tem futuro (AC Milan) e uma formação com um prometedor futuro que queria ir mais longo do que a melhor geração do passado conseguiu alcançar (Nápoles). Rafael Leão, com uma assistência para o único golo da partida, acabou por levar a melhor. No entanto, a eliminatória está longe do seu fim…

Se dúvidas ainda existissem sobre a influência das duas estrelas nos conjuntos, os 25 minutos iniciais tiveram o condão de ver ambos muito próximos daquele que poderia ter sido o primeiro golo: logo na primeira jogada do encontro, Kvaratskhelia foi mais rápido ao segundo poste após cruzamento da direita, tocou para a baliza sem Maignan e viu a bola ser tirada em cima da linha por Calabria (1′). Estava dado o mote para uma entrada bem mais afirmativa do Nápoles, com o AC Milan a equilibrar e a passar para cima do encontro em termos anímicos na sequência de uma jogada fabulosa de Rafael Leão que ultrapassou tudo e todos em velocidade e força até ao remate a rasar o poste (25′). Os rossoneri ganhavam fôlego, sentiam o San Siro a crescer, iam conseguindo soltar Brahim Díaz e chegaram mesmo à vantagem, com Leão a assistir Bennacer para o tiro de primeira que fez o 1-0 (40′) antes de Kjaer, na sequência de um canto, cabecear à trave (45′).

Os visitados acabavam melhor (com algumas confusões à mistura no relvado e entre bancos), os visitantes voltaram melhor e Elmas, após um cruzamento de Kvaratskhelia, acertou também na trave logo a abrir ainda com Maignan a desviar a direção da bola. O Nápoles estava melhor e mais pressionante em busca do empate num jogo com momentos de maior tensão que se está a tornar o grande duelo transalpino da temporada e que mudou ainda mais a partir do momento em que Anguissa foi expulso por acumulação (74′). Maignan ainda viu a sua baliza voltar a ser ameaçada por duas vezes mas o 1-0 não seria desfeito, sendo que este é claramente o duelo mais em aberto depois da realização da primeira mão dos quartos da Champions.