A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, apresentou a agenda para os “cem dias de apaziguamento” decididos pelo Presidente, Emmanuel Macron, que inclui uma ampla gama de “medidas concretas”, mas nenhum projeto de lei sobre a imigração.
Num discurso dirigido aos cidadãos franceses a 17 de abril, o Presidente francês – reeleito há um ano – concedeu a si mesmo “cem dias” para avançar com novos projetos e apaziguar o país, com um “primeiro balanço” a 14 de julho, Dia Nacional de França.
Este programa tem como objetivo tentar virar a página após a promulgação da altamente contestada revisão da lei das pensões, que fragilizou o executivo.
No final do conselho de ministros, Borne especificou esta quarta-feira diversas medidas, frisando: “Só acredito em resultados. Devemos obtê-los em todas as áreas, e espero que sejam concretos, tangíveis, visíveis para os franceses“.
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Acompanhado de um dossier de imprensa de 35 páginas, o plano governamental abrange medidas ou anúncios de calendarização ou de métodos de trabalho em muitas matérias: projeto de lei “indústria verde” apresentado em meados de maio, diplomas sobre o “pleno emprego” e sobre a “partilha de lucros” no mesmo período, projeto de lei da justiça analisado antes do verão, lei de diretrizes agrícolas no outono, futuro “acompanhamento personalizado” para a renovação térmica das habitações e ainda aumento das vagas para enfermeiros nos institutos de formação.
Borne anunciou, contudo, que o projeto de lei sobre a imigração pretendido por Macron não será, afinal, apresentado para já, por falta de maioria no parlamento, adiando para o outono um eventual diploma de contornos vagos.
“Atualmente, não existe maioria para aprovar tal texto, como pude ontem (terça-feira) verificar ao reunir-me com os responsáveis [do partido de direita Os Republicanos]”, cujo apoio é indispensável ao Governo, que só dispõe de uma maioria relativa na Assembleia Nacional, reconheceu.
Além disso, “não é o momento para lançar um debate sobre um tema que poderá dividir o país”, acrescentou Élisabeth Borne.
Mas, para mostrar que o executivo está a trabalhar nessa “prioridade” sem esperar por uma lei, a primeira-ministra anunciou o destacamento “a partir da próxima semana” de “mais 150 polícias e guardas nacionais” para a fronteira italiana, para fazer “face a uma pressão migratória acrescida”.
A oposição criticou veementemente o plano de Borne, classificando-o como “sem fôlego” e “oco”.
“Quando um Governo já não pode governar, ainda que por decisões estúpidas, por falta de maioria, deve ir-se embora, ele e as suas reformas”, escreveu o líder da esquerda radical, Jean-Luc Mélenchon, na rede social Twitter.
Quand un gouvernement ne peut plus gouverner, même pour des décisions stupides, faute de majorité, c'est qu'il doit s'en aller lui et ses réformes. https://t.co/g98FRK2bJK
— Jean-Luc Mélenchon (@JLMelenchon) April 26, 2023
Por sua vez, o comunista Ian Brossat criticou o “blah-blah tecnocrático”, lamentando que não haja “nada de concreto sobre os salários e o poder de compra” e “nem uma palavra sobre a revisão da lei das pensões”.
“O nível de impotência e de distanciamento da primeira-ministra é assustador”, observou, por seu lado, o deputado de direita Aurélien Pradié, membro do partido Os Republicanos, ao passo que o líder desse partido, Eric Ciotti, apelou para a realização de um “referendo” sobre a imigração.
“Emmanuel Macron e Élisabeth Borne já não têm nada para dizer ou para propor aos franceses. Já não há Governo a liderar França, só uma gestão das questões correntes“, sustentou, por sua vez, a dirigente parlamentar da extrema-direita, Marine Le Pen.
Desde a promulgação da revisão da lei das pensões, que aumentou de 62 para 64 anos a idade de aposentação sem penalizações financeiras, Macron iniciou uma série de deslocações pelo país para defender a sua atuação e tentar reconquistar a confiança dos franceses.
Mas essas deslocações têm sido sempre acompanhadas de manifestações de opositores e ruidosos concertos de tachos e panelas e vaias, tal como a maioria das visitas de ministros pelo país.
Quase três franceses em quatro estão descontentes com Macron, segundo uma sondagem do Instituto Francês de Estudos de Opinião e Marketing (Ifop) para o Journal du Dimanche divulgada no sábado.