A direção do PS decidiu ficar em silêncio e não reagir, em nenhum dos palcos, à declaração do Presidente da República ao país desta noite. A indicação foi dada esta quinta-feira e acabou por deixar uma cadeira vazia na SIC-Notícias, num debate com a social-democrata Margarida Balseiro Lopes, onde estaria o dirigente nacional do partido Eduardo Vítor Rodrigues. A ideia é não agravar a tensão, segundo apurou o Observador junto do partido.

O Observador confirmou, junto de fontes socialistas, que o partido decidiu adiar qualquer reação em representação da direção para outra altura, que não as horas imediatamente a seguir às palavras do Presidente da República, quando a temperatura política ainda está elevada. Um sinal que os socialistas estão dar ao partido para não alimentar o debate com Marcelo, nesta fase, agravando a crispação.

Ainda esta tarde, depois da reunião do Conselho de Ministros, a ministra Mariana Vieira da Silva tinha afirmado que a “estabilidade política e a boa relação interinstitucional é um elemento fundamental que foi decisivo nos últimos anos, no enfrentar de problemas difíceis”, como a pandemia. E acrescentou: “É algo que Governo respeita, defende e faz tudo para contribuir que permaneça”.

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Na intervenção que fez, o Presidente fez questão de afirmar que não contem com ele mesmo “para criar esses conflitos” institucionais, deixando, no entanto, um aviso a uma eventual resposta do PS (mesmo sem fazer menção ao partido) que possa passar por “enfraquecer a função presidencial”.

“Comigo não contem para criar esses conflitos [institucionais]. Ou para deixar crescer tentativas isoladas ou concertadas para enfraquecer a função presidencial, envolvendo-a em alegados conflitos institucionais”, disse na mensagem. E lembrou mesmo que “todos sabemos bem como foram e acabaram esses conflitos no passado”, apontando (sem referir) os tempo da tensa relação entre o Presidente Mário Soares e o primeiro-ministro Cavaco Silva — em que as Presidências abertas promovidas por Soares ganharam uma dimensão (entre outros fatores) que levou Cavaco a falar em “força de bloqueio”. E, já depois de ter deixado funções, na Autobiografia que escreveu, a admitir mesmo que o PSD “chegou a ver no Presidente da República o principal agente da oposição”, no seu segundo mandato em Belém.

O PS tem controlado a tentação de ir a confronto com o Presidente e isso foi visível na altura em que Marcelo, numa entrevista à RTP, descreveu a maioria de Costa como “requentada” e “cansada”. Mas nos tempos mais recentes, algumas vozes do topo do partido surgiram a verbalizar publicamente o desconforto com a insistência de Marcelo em falar na dissolução da Assembleia da República. Esta decisão pretende, assim, travar o crescimento de uma onda de ataques ao Presidente na sequência desta crise desencadeada pela afronta pública de António Costa a Marcelo ao não exonerar o ministro João Galamba.

Socialistas entusiasmados com travão de Costa a Marcelo, mas veem risco em Galamba