O presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, afirmou esta quarta-feira que o ministro das Infraestruturas devia ter mantido a decisão sobre a demissão, mesmo depois de o primeiro-ministro ter recusado aceitá-la. No programa “Grande Entrevista” da RTP 3, este foi um dos temas em destaque, com o militante do Partido Socialista a sublinhar que o caso que envolve João Galamba “tem claramente uma responsabilidade política”.

“Creio que tinha prestado um bom serviço, até ao bom relacionamento institucional do país, se tivesse tomado a decisão de dizer ao primeiro-ministro, António Costa, que ficou muito grato com a sua a solidariedade, mas que ia manter a decisão de pôr o lugar à disposição“, afirmou.

Durante a entrevista à RTP3, Francisco Assis também teceu considerações sobre a intervenção do Serviço de Informações de Segurança (SIS) na recuperação do computador levado pelo ex-adjunto de João Galamba do Ministério das Infraestruturas, Frederico Pinheiro, após ter sido exonerado. “É evidente que o que se passou é grave”, sublinhou, acrescentando que ficou com dúvidas sobre a atuação das “secretas” e que esta é uma questão que tem de ser resolvida.

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Sobre o caso Galamba, Francisco Assis disse ainda que a questão foi “instrumentalizada” e acabou por servir de “pretexto” para uma colisão entre Belém e São Bento, que o socialista não considera “surpreendente”. “Um pouco anormal foi até este relacionamento quase muito íntimo entre o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o primeiro-ministro e que, de certo modo, até pode ter conduzido a esta situação porque uma intimidade institucional a mais também pode ser negativa e pode originar, num primeiro momento de afastamento, uma certa tendência para dramatização excessiva”, apontou.

Face à ameaça de uma dissolução da Assembleia da República, o presidente do CES considera que houve uma “utilização excessiva” do tema e não tem dúvidas de que se avançasse seria prejudicial para o país. É um poder que, sublinha, “não pode ser usado nem sequer invocado de forma fútil” e que a palavra “deve ser exercida com mais parcimónia do que foi”.

A meu ver, como cidadão, considero que neste momento uma dissolução da Assembleia da República seria muito negativa para Portugal. O que não quer dizer, evidentemente, que ela não possa acontecer.”

Apesar de admitir que com a utilização excessiva do tema Marcelo Rebelo de Sousa possa ter perdido alguma legitimidade no discurso político, reforça que o chefe de Estado mantém o poder constitucional para o fazer.

A vida interna do partido e a questão da candidatura que não se coloca para já

Francisco Assis também deixou uma palavra sobre a vida interna do Partido Socialista. O presidente do CES começou por afastar para já uma candidatura à liderança do partido, apontando que esta “é uma questão que não se coloca” de momento. Defendendo a importância da estabilidade nas lideranças partidárias, apontou inclusivamente que a constante discussão sobre a sucessão é algo que pode prejudicar o debate político.

Já sobre uma eventual candidatura a Belém de Augusto Santos Silva, atual presidente da Assembleia da República, ou de António Seguro, antigo secretário-geral do PS, Francisco Assis afirmou que são dois nomes que poderão estar em cima da mesa. O importante, sublinha, é que exista no seio do partido uma preocupação em apoiar uma candidatura forte e em condições de vencer as presidenciais.

Questionado ainda sobre o futuro político do ex-ministro das Infraestruturas Pedro Nuno Santos, que se afastou na sequência de um dos escândalos políticos do governo, o socialista refere que continua a ser nome de peso e com qual o PS pode contar. “Muitas vezes o grande político é aquele que comete erros, que os supera e sabe dar a volta. E Pedro Nuno Santos é uma personalidade política do PS e da vida nacional”, destacou.

As críticas às tentativas dentro do PS para associar o PSD à extrema-direita

Durante a entrevista à RTP, Francisco Assis aproveitou igualmente para deixar críticas às vozes do Partido Socialista que têm tentado colar o Partido Social Democrata à extrema-direita. Sem apontar nomes, sublinhou que ninguém no PS tem legitimidade para dar lições de democracia ao PSD ou vice-versa.

Tenho o maior dos respeitos pelo PSD e não aceito e fico profundamente perturbado até quando vejo tentativas de colar o Partido Social Democrata à extrema direita.”

“É um erro trágico e criminoso, até por vezes, e acho que alguns cedem a essa tentação: procurar diminuir a direita democrática procurando artificialmente associá-la à extrema direita com o intuito de obtenção de vantagens eleitorais”, condenou.

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