O futebol tem sido um lugar ambíguo para o racismo. Por um lado, jogadores ajoelham-se e erguem o punho contra episódios de discriminação. Por outro, Vinícius Jr. é testemunha de que os insultos a jogadores negros continuam. A UEFA e a FIFA multiplicam-se em campanhas “Não ao Racismo” cujo o efeito mostra ficar aquém a cada novo caso.

A nomeação do árbitro Szymon Marciniak para a final da Liga dos Campeões entre Manchester City e Inter que decorre em Istambul no dia 10 de junho revelou ser mais uma situação que escapa à mensagem das campanhas de comunicação. O jornal britânico The Guardian revelou que o polaco foi orador principal num evento do partido de extrema-direita do país, cujo lema é “Contra judeus, gays, aborto, taxas e União Europeia”. O evento em que o juiz de 42 anos participou foi descrito pelo partido populista liderado por Sławomir Mentzen como um encontro de pessoas complementado com um momento para beber cerveja. No entanto, diz a publicação inglesa, ativistas locais da organização “Never Again” referem que era uma ocasião para recolher apoio político.

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“A UEFA está atenta às alegações em torno de Szymon Marciniak e procura esclarecimentos urgentes. Toda a comunidade do futebol abomina os ‘valores’ promovidos pelo grupo em questão e levam essas alegações muito a sério”, comunicou o organismo que tutela o futebol europeu que pode vir a mudar o árbitro designado para a final da Liga dos Campeões.

Marciniak defendeu-se das alegações que o acusam de estar a promover o valores de extrema-direita. “Apesar das notícias, declaro que nunca apoiei o legitimei nenhum partido, organização ou político. Demarco-me, forte e claramente, de qualquer tipo de visão radical, racista ou antissemita, discursos ou ações”, escreveu no Instagram.

Após ter investigado o caso, a UEFA “levantou as preocupações iniciais sobre o envolvimento de Marciniak no evento” e confirmou que o polaco vai mesmo apitar a final da Liga dos Campeões. O juiz de 42 anos enviou um pedido de desculpas ao organismo. “Quero expressar as minhas mais profundas desculpas pelo meu envolvimento e qualquer aflição ou dano que possa ter causado”, começou por escrever.

“Após reflexão e investigação mais aprofundada, tornou-se evidente que fui seriamente enganado e completamente inconsciente sobre a verdadeira natureza e afiliações do evento em questão. Eu não sabia que estava associado a um movimento polaco de extrema-direita. Se soubesse desse facto, teria recusado categoricamente o convite. É importante entender que os valores promovidos por este movimento são totalmente contrários às minhas crenças pessoais e aos princípios que procuro defender na minha vida”, declarou Marciniak junto da UEFA. O árbitro disse-se ainda comprometido com os valores da UEFA. “Quero igualmente destacar o meu compromisso com o combate à discriminação no futebol”.

Szymon Marciniak apitou o FC Porto duas vezes esta temporada na Liga dos Campeões. A primeira na visita dos dragões ao Atlético de Madrid e a segunda, nos oitavos de final, na segunda mão com o Inter. O árbitro polaco esteve também na final do Mundial 2022 no Qatar.