Quando teve conhecimento dos abusos a crianças praticados ao abrigo de iniciativa da organização, a diretora-executiva da Aldeias de Crianças SOS, Ingrid Johansen, ficou “devastada”, ordenando a elaboração de um relatório realizado por uma comissão independente para entender a dimensão dos casos. Dois anos depois, o documento foi publicado e mostra casos de abusos sexuais, gravidezes forçadas e até pornografia infantil.

“Peço desculpa a todos aqueles que foram magoados”, disse Ingrid Johansen num vídeo publicado na página da Aldeias de Crianças SOS, assegurando que foram identificadas as “causas de falhanços passados”, de modo a que episódios idênticos não “aconteçam outra vez”. “O relatório levou a entender-nos que temos muito trabalho a fazer”, salientou a responsável. “Devemos providenciar um apoio muito melhor aos cuidadores e assegurar que as políticas recomendadas devem ser adotadas no dia-a-dia.”

De acordo com o relatório, foram vários os locais onde ocorreram abusos às crianças: Panamá, Nepal, Serra Leoa, Quénia, Camboja, Síria, entre outros. Embora a Aldeias de Crianças SOS também tenha presença em Portugal, não houve registo — no relatório — de nenhum caso.

Por exemplo, no Nepal, um voluntário foi recebido num centro de crianças, tendo abusado de vários menores entre 2010 e 2014. No Panamá, a comissão fala numa “cultura de medo”, em que as vítimas de abusos sexuais, caso denunciassem a alguém o que lhes tinha acontecido, eram isoladas e até obrigadas a deixarem o país.

A par dos maus-tratos, o relatório enumera inúmeros casos de fraudes, abusos de poder, corrupção e irregularidade na cessação de contratos, que chegaram a “milhões de dólares”. Houve também registo de provas destruídas e de iniciativas para tentar afastar escândalos. Em resumo, o documento dá conta de uma “vontade de proteger a organização”, em vez dos interesses dos mais novos.

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