O padre Mário Rui Pedras, que tinha sido afastado pelo Patriarcado de Lisboa depois de ter sido acusado de abusos sexuais, vai voltar a celebrar missa em público, avança a Renascença. O regresso daquele que também é diretor espiritual do líder do Chega, André Ventura, foi confirmado pelo Observador, que teve acesso à carta que o próprio endereçou aos paroquianos das igrejas de São Nicolau e Santa Maria Madalena, situadas na zona da baixa pombalina.

Mário Rui Pedras foi um dos quatro padres afastados do exercício de funções em março, na sequência da entrega, pela Comissão Independente, ao cardeal patriarca de Lisboa, da lista com os nomes dos padres referidos pelas vítimas de abuso sexual na Igreja, e que fora ouvidas pela referida Comissão.

Na carta, o padre diz-se vítima de “uma difamação anónima” e de uma “gravíssima injustiça”, ao ter sido afastado pelo cardeal patriarca, D. Manuel Clemente. “A denúncia que, cobardemente, me atingiu, foi a de ter cometido crimes terríveis e eu não os cometi”, refere o sacerdote, acrescentando que o autor da denúncia “totalmente falsa”, “fica entregue ao cuidado e ao juízo misericordioso de Deus”.

“Choca-me particularmente”. André Ventura reage ao afastamento de funções do padre Mário Rui Pedras

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Mário Rui Pedras informa, nesta carta, que a investigação do Patriarcado de Lisboa terminou a 12 de junho, tendo-se concluído que as denúncias contra si não eram verdadeiras. “Dada a inverosimilhança da denúncia”, o instrutor do processo “propôs ao Bispo que fosse levantado o ‘afastamento preventivo’”.

O padre refere-se aos abusos sexuais como um “cancro moral” e pede que “às verdadeiras vítimas inocentes, que exigem justiça”, não se somem “outras vítimas também elas inocentes”, como o próprio, diz. Apesar de ser agora reintegrado na Igreja, o sacerdote sublinha que “a justiça foi reposta, mas o dano manter-se-á”.

Mário Rui Pedras faz críticas à forma como a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica conduziu este caso. “Recebeu e transmitiu a denúncia, fazendo de mera caixa de correio e dando ressonância à calúnia”, realça o padre. “Lavou as mãos como Pilatos, e integrou esta denúncia soez na listagem dos eventos que anunciou, de forma estridente e sensacionalista”.

As críticas do sacerdote estendem-se à Comissão Diocesana criada pelo Patriarcado de Lisboa para investigar os alegados abusos sexuais. “Cedeu à fortíssima pressão mediática. Não teve a ponderação exigida diante de uma denúncia anónima, difamatória e sem verosimilhança. Recomendou o meu afastamento do exercício público do ministério, insensível às consequências que daí derivariam inevitavelmente para mim”, queixa-se o padre. “Pergunto-me, amiúde, o que teria ocorrido se o caluniador tivesse visado mais 20, 30, 50 ou 100 sacerdotes, ou um ou mais bispos. Seriam todos afastados do ministério?”, questiona Mário Rui Pedras.

O padre admite agir judicialmente. “Compreenderão, certamente, que não me resigne perante esta enormidade e tente encontrar vias legais de reparação”, escreve. Já em março, quando foi afastado, o padre escreveu aos paroquianos afirmando que a acusação que o atingia era “falsa e caluniosa”.

Mário Rui Leal Pedras é o confessor e diretor espiritual de André Ventura. O presidente do Chega e deputado confessou, na altura, estar chocado com o afastamento e as suspeitas que pendiam sobre o sacerdote. “É sabido que o padre Mário Rui é próximo de mim, casou-me, esteve comigo também quando era estudante universitário. Portanto, é uma notícia que me choca bastante”, sublinhou André Ventura.