Daniel Ellsberg, antigo analista militar que em 1971 divulgou documentos confidenciais que continham evidências de que o governo dos EUA tinha mentido sobre a guerra do Vietname, morreu esta sexta-feira aos 92 anos na sua casa em Kensington, na Califórnia.

De acordo com o The New York Times, que cita um comunicado emitido pela mulher e pelos filhos, Daniel Ellsberg morreu de cancro do pâncreas. O ativista político norte-americano tinha anunciado, no passado dia 1 de março, que tinha um cancro “inoperável” e que os médicos lhe tinham dado uma estimativa de três a seis meses de vida. Recusou-se a fazer quimioterapia, dizendo que iria dedicar o tempo que lhe restasse a dar palestras e entrevistas sobre a guerra na Ucrânia e os perigos da guerra nuclear.

Daniel Ellsberg ficou conhecido pela divulgação dos “Pentagon Papers”, cerca de 7 mil páginas com revelações sobre a história e as atividades dos norte-americanos na guerra do Vietname. Com informações sobre enganos, sucessivos presidentes que excederam a sua autoridade e ainda má conduta durante o conflito, decidiu entregar os documentos a jornalistas do The New Tork Times.

Os documentos revelavam não só que sucessivos presidentes norte-americanos tinham ampliado a guerra, como também que sabiam que essa, provavelmente, não seria vencida. A divulgação dos “Pentagon Papers”, relembra o Washington Post, levou Henry Kissinger, conselheiro de segurança nacional do Presidente Nioxn, a rotular Daniel Ellsberg de “homem mais perigoso da América”.

Tinha todos os motivos para pensar que passaria o resto da minha vida atrás das grades. Era um destino que eu aceitaria de bom grado se isso significasse apressar o fim da guerra do Vietname por mais improvável que isso parecesse”, afirmou Daniel Ellsberg, que foi acusado de roubo, conspiração e violações da lei, mas um juiz rejeitou todas as acusações.

O antigo analista militar cofundou a Freedom of Press Foundation e, ao longo dos últimos anos, defendeu o trabalho da nova geração de denunciantes, como Edward Snowden. Uma decisão do governo norte-americano de impedir os jornais de publicar notícias sobre os “Pentagon Papers” estabeleceu um confronto que posteriormente chegaria às grandes telas com o filme “The Post”, de Steven Spielberg. Daniel Ellsberg foi interpretado pelo ator Matthew Rhys. No conflito entre a administração dos EUA e os jornais, o Supremo Tribunal defendeu a liberdade de expressão, direito que Ellsberg passou a vida a defender.

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