A tarefa é complexa e nem se sabe exatamente onde é que o submersível Titan, desaparecido no domingo, deve ser procurado, uma vez que tanto pode ter chegado ao fundo do mar e aos destroços do Titanic como não ter atingido sequer essa profundidade. Por isso mesmo, os esforços que se estão a colocar nas buscas são muitos, com valências diferentes: há navios, robôs submarinos — um deles consegue ir até seis quilómetros de profundidade –, guindastes e até aviões envolvidos na mega-operação para procurar as cinco pessoas cujas reservas de oxigénio já deverão ter acabado.

Esta quinta-feira, dia considerado “crítico” pela própria empresa que promove as viagens turísticas aos destroços do Titanic, já foram enviados vários robôs de buscas para dentro de água, tendo um deles chegado mesmo ao fundo do mar. Mas as dificuldades acumulam-se e não há sequer certezas sobre o local onde o Titan e as cinco pessoas que transportava pode estar (os restos do Titanic situam-se a 700 quilómetros a sul de St. John’s, Newfoundland, no Canadá). Afinal, em que é que consistem exatamente estas buscas?

Um robô com câmaras e “braços” para afastar obstáculos

Neste momento, a operação de buscas está a ser centralizada em Boston, Massachussets, mas integra ajuda enviada por vários países, conta o The Guardian. Há vários barcos envolvidos, mas a função mais importante de vários deles será transportar e lançar ao mar os robôs operados remotamente (os ROV) que podem procurar o Titan. Isto porque estes equipamentos têm câmaras que permitem, mesmo sem tripulação, observar destroços que se encontrem a grande profundidade, ao contrário dos barcos.

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A maior esperança está depositada num robô submarino enviado por França que consegue descer até seis mil metros de profundidade — ou seja, desce além do local onde se situam os destroços do Titanic.

Trata-se do Victor 6000, um veículo submarino operado remotamente que foi transportado pelo navio francês L-Atalante, tendo mergulhado nas águas do Atlântico para começar as buscas pelas 13h de Portugal — a Marinha portuguesa estima que demore três horas a chegar ao fundo do mar.

Normalmente, este aparelho, enviado depois de um pedido de ajuda da Marinha norte-americana, é usado para pesquisa e estudos geológicos, uma vez que está equipado com câmaras e sensores que permitem captar imagens e dados científicos em mares profundos. Também pode servir para fazer reconstituições tridimensionais das áreas que esteve a observar, permitindo estudar posteriormente essas zonas.

Como explica o Globo, este aparelho é controlado remotamente a partir de um navio de apoio, neste caso o L-Atalante, ao qual está ligado por “cabos umbilicais” para obter energia e manter as comunicações com o navio, onde segue uma equipa de 25 pessoas. Já o Victor 6000 viaja sem qualquer tripulação, escreve a Reuters.

O robô, que está ligado ao navio por um cabo de oito quilómetros que o segura e puxa para a superfície quando for necessário, conta também com uns “braços” mecânicos que podem servir para ajudar a desbloquear outros aparelhos que estejam presos, por exemplo, removendo os obstáculos que encontre.

O chefe das operações navais na Ifremer (o instituto do Estado francês que opera este robô), Olivier Lefort, explicou à Reuters que o Victor 6000 não é capaz de “levantar o submarino sozinho”, mas pode ajudar a prendê-lo a um navio que consiga fazê-lo, depois de fazer as suas “explorações visuais” e perceber a localização do submersível.

Médicos e uma equipa que já desceu ao Titanic

Mas o Victor 600 não é o único robô de buscas que já está em águas profundas à procura do Titan. Aliás, existe um equipamento que já chegou mesmo ao fundo do mar, ao início da tarde desta quinta-feira: é o robô ligado ao navio canadiano Horizon Arctic. O barco tem 94 metros de comprimento e tem um sistema para lançar ao mar dispositivos destes e recuperá-los a seguir, explica a CNN.

Outro dos robôs que podem ser úteis às buscas é o britânico Magellan, que pode mergulhar em grandes profundidades e é operado por uma equipa que conhece a área detalhadamente: já passou 200 horas no local onde o Titanic está afundado, para um projeto de digitalização dos destroços do navio.

Entre os outros barcos que estão a participar nas buscas conta-se o Deep Energy, que consegue colocar tubos em águas muito profundas, e outros dois barcos comerciais, o Skandi Vinland e o Atlantic Merlin, que também transportam ROVs.

Do Canadá chegarão esta quinta-feira mais dois navios que pertencem à Guarda Costeira canadiana, chamados Anna Harvey e Terry Fox. E ainda o Glace Bay, que vai especificamente para providenciar ajuda médica: segundo a Guarda Costeira, segue no navio uma equipa médica com conhecimento sobre “águas profundas”.

Além disso, o barco transporta também uma câmara hiperbárica, que permite absorver altas concentrações de oxigénio em pressões superiores à atmosférica normal. Isto serve para assistir pessoas que tenham sofrido uma mudança de pressão no ar repentina.

Tecnologia sonar, aviões e um guindaste

Entre os barcos que estão a ser usados no resgate conta-se também o próprio navio que lançou o Titan, e que é operado pela empresa que faz estas viagens turísticas até aos restos do Titanic, a OceanGate. O Polar Prince continua, conta o The Guardian, perto do sítio onde lançou o submersível e estará a ser usado como uma “unidade de comando” no local pela Guarda Costeira norte-americana.

Às buscas soma-se ainda o barco da Guarda Costeira canadiana John Cabot, equipado com tecnologia sonar para tentar detetar ruídos no mar que possam indicar onde se encontra o Titan.

Porém, mesmo com todos estes robôs que se destinam às buscas submarinas, o equipamento que mais hipóteses deverá ter conseguir mais informações e contribuir para o resgate é mesmo o Victor 6000, indicam os especialistas que se têm pronunciado nos últimos dias, dada a grande profundidade que consegue atingir.

Além dos barcos, ROV e aviões, há um sistema em particular que pode ajudar ao resgate e que, escreve o Guardian, estará a ser transportado pelo navio Horizon Arctic e pela Marinha norte-americana. Trata-se do Flyaway Deep Ocean Salvage System, conhecido como Fadoss, que funciona como uma espécie de guindaste capaz de levantar pesos do fundo do oceano que pesem até 27.200 quilos, além de no passado já ter chegado a profundidades de quase seis mil metros.

O Fadoss pode conseguir levantar um submersível, desde que o robô submarino que o acompanha seja capaz de colocar a carga que se pretende levar até à superfície no gancho da grua. Neste sentido, um aparelho como o Victor 6000 e os seus braços mecânicos poderia ser usado em conjunto para tentar resgatar o Titan.

Dos esforços de resgate fazem ainda parte aviões modelo C-130 enviados tantos pelos Governos norte-americano como canadiano. O Canadá disponibilizou ainda modelos P3 e P8, aeronaves de patrulhamento marítimo, para ajudar nas buscas.