O São João em Angra do Heroísmo, ilha Terceira, é vivido com intensidade e nem o presidente do Governo dos Açores falta à festa, desfilando na marcha dos Coriscos, criada em 2010 para desfazer o bairrismo entre duas ilhas.

“Está o marchante Bolieiro que é presidente, e não o presidente que é marchante”, adianta, em declarações à Lusa, o chefe do executivo açoriano José Manuel Bolieiro, minutos antes do último ensaio da marcha dos Coriscos, na quinta-feira ao final do dia.

Aos primeiros acordes da filarmónica da Terra Chã, são muitos os curiosos que saem à varanda do hotel, em Angra do Heroísmo, para espreitar o ensaio, incluindo o presidente da Assembleia Legislativa dos Açores, Luís Garcia. Bolieiro acena e tira uma “selfie” com os colegas da marcha antes de ocupar o seu lugar, na segunda fila, acertar o passo e começar a cantar.

“Coriscos aqui estamos, pelos Açores união, às festas nunca faltamos, para dar vivas ao São João”, ouve-se, em coro.

A Marcha dos Coriscos, de São Miguel, é a quinta, em 35, a desfilar esta sexta-feira à noite entre o Alto das Covas e a Praça Velha, com desvio na Rua de São João, nas festas Sanjoaninas, em Angra do Heroísmo, onde milhares de pessoas a aguardam, com palmas e sorrisos.

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Em 2010, antes de ser presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada (2012) e presidente do Governo Regional (2020), José Manuel Bolieiro foi um dos fundadores da marcha, criada, precisamente, para desfilar nas principais festas da ilha “rival”. Em vez de “bairrismo”, os “coriscos” (alcunha dos habitantes de São Miguel), foram recebidos na Terceira com “muita emoção” e um “excelente acolhimento”.

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“Penso que o bairrismo é apenas na conversa, porque no sentimento das pessoas, a fraternidade, o acolhimento, a amizade supera o diz que disse do bairrismo (…) No jogo político ou no jogo mediático pode acontecer, mas na alma e no coração das pessoas não existe”, sublinha o chefe do executivo açoriano.

Em 2021, a pandemia da Covid-19 deixou a marcha em São Miguel, mas em 2022 Bolieiro já desfilou em Angra do Heroísmo como presidente do Governo Regional. Mais reconhecido nas ruas, garante que foi acolhido com a mesma “empatia e simpatia” de outros anos.

Quando o abordam para dizer que “apesar do cargo, está presente”, como se fosse um “exercício de humildade”, faz questão de explicar que o faz com “naturalidade”. Também secretários regionais, deste e de outros governos, já participaram nas marchas das Sanjoaninas, mas a política na noite de São João não é chamada para a conversa.

“A festa em Angra e na Terceira tem muito essa distinção. As pessoas não confundem trabalho com conhaque. Estão para divertir-se, para conviver e é neste quadro que a abordagem é feita. De vez em quando, simpaticamente, gostam de tirar uma ‘selfie’ comigo e eu faço sempre isso com enorme prazer e gosto”, afirma o presidente do Governo.

Na marcha, como na política, Bolieiro vai à direita, mas confessa que procura “ser centro”, porque é no centro que “estará a virtude”.

E acertar o passo da marcha será mais fácil do que acertar o passo da governação? O presidente ri e responde: “Como tudo, no início é sempre mais difícil, depois vai-se ganhando a rotina. A rotina e o ensaio permitem o aperfeiçoamento e as coisas vão”. Agora que lidera o executivo açoriano, com muitas viagens pelas ilhas, torna-se mais complicado chegar aos ensaios, mas assegura que não é “um faltoso” e que está “preparadíssimo mais uma vez para a marcha”.

“Estarmos em grupo ajuda, de vez em quando, esquece-se um verso, mas no conjunto vamo-nos sempre lembrando”, brinca, ressalvando que não é “um marchante profissional”, só o faz “por uma razão sociocultural”. Fátima Moreira, terceirense a residir há 49 anos em São Miguel e par de José Manuel Bolieiro na marcha dos Coriscos há seis anos, confirma.

“Há pessoas que não são presidentes do Governo e faltam mais do que ele. Faz um esforço enorme e nem é de faltar muito”, revela. Quando entram nos ensaios, conta, “não existe o dr. Bolieiro, não existia o presidente da câmara e não existe o presidente do Governo, é um marchante como outro”.

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“Ele é muito atinado. Costuma dizer que não sabe dançar, mas sabe marchar. É uma pessoa muito humilde”, salienta. As festas Sanjoaninas, que começaram na quinta-feira, prolongam-se até 02 de julho, com música, gastronomia, tauromaquia, desporto e exposições, entre outras atividades.

“São uma das grandes festas dos Açores, senão mesmo a maior, que têm também um impacto nacional muito interessante“, descreve o marchante, que também é presidente do Governo Regional.