O grupo VITA, o organismo criado pela Igreja Católica em Portugal para acompanhar vítimas de abusos sexuais de menores no contexto eclesiástico, vai começar esta semana a enviar às dioceses e institutos religiosos os dados referentes aos 23 casos que foram comunicados ao grupo ao longo das últimas semanas, confirmou ao Observador a psicóloga Rute Agulhas, coordenadora do grupo.

Segundo Rute Agulhas, vão começar a ser enviados esta semana os dados referentes a 23 casos comunicados ao grupo, que foi criado em abril deste ano por decisão da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), na sequência do trabalho da comissão independente liderada pelo psiquiatra Pedro Strecht, que estudou o fenómeno dos abusos na Igreja em Portugal desde a década de 1950 até à atualidade.

“No primeiro mês de funcionamento, o Grupo VITA recebeu pedidos de ajuda por parte de 23 vítimas de violência sexual, sendo que, para muitas delas, foi a primeira vez que relataram a experiência abusiva que vivenciaram. Falamos de sobreviventes que guardaram segredo e se mantiveram em silêncio durante décadas. Na sua maioria, estas pessoas residem no norte do país. Apenas um número residual de sobreviventes opta por manter o seu anonimato, o que entendemos também como um sinal de confiança”, disse Rute Agulhas ao Observador.

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A psicóloga salientou que, para já, é “prematuro” quantificar o número de suspeitos em causa: quantos são sacerdotes, quantos estão ainda vivos e quantos estão no ativo. “Segue-se agora uma fase de sinalização das situações à Igreja e aos institutos religiosos, para que sejam iniciados os respetivos processos de averiguação canónicos. Algumas situações serão também reportadas ao Ministério Público”, disse ainda.

“O Grupo VITA tem vindo a efetuar atendimentos online e presenciais com as vítimas, no sentido de avaliar as suas necessidades. Algumas serão encaminhadas para apoio psicológico, outras para apoio psiquiátrico. Em algumas, ainda, foram identificadas necessidades compatíveis com um apoio social”, acrescentou.

“O Grupo VITA tem já constituída uma Bolsa de Profissionais, Psicólogos e Psiquiatras, que começam a receber uma formação inicial no dia 17 de julho. Se, inicialmente, existiam ainda alguns territórios a descoberto sem profissionais disponíveis, esta é hoje uma situação que está já ultrapassada”, destacou Rute Agulhas.

Artigo corrigido às 21h13 com declarações de Rute Agulhas ao Observador