Pouco mais de 24 horas em Bruxelas chegaram para que Rui Rocha apresentasse uma Iniciativa Liberal com a ambição de ser a “voz liberal do sul da Europa” e para perceber que o partido é reconhecido como um “caso de sucesso” do liberalismo entre os parceiros. Pelo menos aos olhos do líder liberal que deixa a capital da União Europeia com a “convicção reforçada” e com a ambição revista: “Vamos fazer tudo para que sejam eleitos dois eurodeputados.”

O objetivo eleitoral da IL para as eleições europeias está traçados na moção estratégica que elegeu Rui Rocha e apontam para a “eleição do primeiro eurodeputado liberal”. Porém, o presidente da IL sai de Bruxelas crente de que é possível fazer melhor e de que a “ambição” permite apontar para o dobro nas eleições de 2024. E usa um dos chavões do partido nos tempos do deputado único para o justificar: “Se um deputado faz tanta diferença, imagine-se dois.” Independentemente do resultado, Rocha está crente de que a IL “consegue mesmo fazer a diferença com uma pequena representação como fez no Parlamento português” quando elegeu João Cotrim Figueiredo — um dos nomes apontados como possíveis candidatos à corrida eleitoral.

Com o tema das europeias atirado para depois das eleições da Madeira, Rui Rocha assegura que o partido está “focado” nas regionais e que só após os resultados no arquipélago haverá foco para começar o “processo interno que leva às questões das listas, dos programas e das ideias” que os liberais pretendem levar para o Parlamento Europeu — altura em que se juntarão ao Renew Europe em caso de conseguirem representação.

Carlos Guimarães Pinto: “João Cotrim Figueiredo é um bom candidato da IL às Europeias”

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Uma estreia com sabor a empurrão

O presidente da Iniciativa Liberal participou na cimeira do grupo dos liberais no Parlamento Europeu, Renew Europe, e preparou o espaço do partido português com olhos nas eleições europeias de 2024. “Saio com a convicção reforçada de que vamos ter boas notícias. Aliás, disse-lhes que a IL traria boas notícias do sul da Europa”, conta ao Observador no momento em que se preparava para regressar a Portugal.

Esteve reunido com alguns dos mais altos cargos de organizações liberais na Europa, tais como o presidente do Renew Europe, Stéphane Séjourné, e Malik Azmani, vice-presidente tanto do grupo como do ALDE Party, e na cimeira esteve com alguns dos nomes mais influentes da atual política europeia como Emmanuel Macron, Charles Michel e Margrethe Vestager. Depois de pouco mais de um dia em Bruxelas rodeado de altas personalidades da política europeia traz uma certeza: “Há uma grande demonstração de interesse em conhecer o caso de sucesso da Iniciativa Liberal, em perceber como é que fizemos, o que fizemos, como é que podemos ajudar a replicar esse exemplo noutros países onde os partidos liberais se querem afirmar.”

Segundo o líder liberal, o Renew Europe não só mostrou disponibilidade para apoiar a IL neste caminho até ao Parlamento Europeu, como deu a garantia de que partilharia o exemplo dos liberais portugueses junto de partidos que procuram afirmar-se nos seus países e o destaque vai mesmo para o “modelo de comunicação” que foi usado pela IL.

“É muito importante para nós ver que o Renew Europe partilha dessa ambição, que tem essa avaliação muito positiva do trabalho que estamos a fazer, que tem essa confiança na eleição e que estão totalmente disponíveis para colaborar e promover essa candidatura”, reitera Rocha.

Mais do que isso, a IL ficou também de apresentar um conjunto de propostas e “dois ou três” eventos para receber o Renew Europe e os partidos parceiros em Portugal, só após o primeiro desafio que tem em mãos: as eleições na Madeira. Na reunião ficaram definidos os temas sobre os quais os liberais se vão debruçar: pequenas e médias empresas (PME) e economia verde, um dos assuntos em que a IL vai investir a curto prazo, com a ideia de que “é possível continuar a promover o crescimento, mas ao mesmo tempo manter e promover a sustentabilidade”.

O populismo na reunião dos liberais

A questão dos populismos foi analisada na reunião em que Rui Rocha marcou presença e, ainda que não tenha havido apontar de dedos a partidos ou países, o líder da IL sublinha a conclusão: “Os partidos liberais na Europa combatem tanto melhor essa deriva populista e de extremismo quanto mais fiéis forem às suas ideias. Não devemos ceder à tentação de copiar porque a cópia é sempre pior  do que o original e não é isso que queremos para a Europa.”

Rocha considera fundamental que se continuem a “afirmar os valores da liberdade, do mercado e da dignidade humana” por crer que “quanto mais de reforçar esse património dos partidos liberais melhor se combaterão os populistas”.

No mesmo sentido, os líderes liberais examinaram a situação da guerra na Ucrânia e sublinharam que para “defender a Ucrânia é também preciso não ceder a esses populismos porque muitos deles acabam por ter uma visão do mundo muito mais próxima de Putin”.

No dia em que deslocou de Bruxelas para regressar a Portugal, Rui Rocha trouxe na bagagem mais ambição, uma convicção reforçada e a consciência de que tem nas mãos a oportunidade de consolidar a IL após um crescimento exponencial nas últimas legislativas — sendo que um bom resultado pode também reforçar a sua liderança dentro do partido para uma possível recandidatura ao cargo em 2025 (se o calendário se mantiver inalterado).

O foco atual está na Madeira, mas a IL está obrigada a apostar forte nas Europeias, principalmente com o intuito de aproveitar um PSD que não tem descolado das sondagens.  Numa entrevista ao Observador durante a Convenção da IL, João Cotrim Figueiredo não recusou a ideia e deixou a porta aberta dependendo das necessidades do partido: “Se depender de mim, não. Se o partido precisar muito, não excluo.”