O que tem em comum uma lata de coca-cola a ser esmagada com um martelo ou um elefante apoiado num pé sob o peso de 100 animais com o mesmo peso? Estas foram algumas das analogias usadas para explicar aos passageiros do Titan o efeito destrutivo que a elevada pressão no fundo do Oceano poderia ter no submersível. A morte devido à implosão do equipamento seria imediata, de “forma macabra”, resumiu Bill Price ao New York Times, que em 2021 fez uma viagem com a OceanGate a bordo do Titan.

Semanas depois da implosão catastrófica que provocou a morte dos cinco passageiros que seguiam a bordo do Titan — Stockton Rush, Hamish Harding, Paul-Henry Nargeolet, Shahzada e Sulaiman Dawood — Price revelou ao jornal norte-americano que os riscos da viagem não lhes foram ocultados. Há dois anos o próprio foi testemunha das dificuldades que podiam surgir no decorrer do percurso para ver os destroços do Titanic, a mais de 3.800 metros de profundidade.

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Bill Price, reformado de uma empresa de negócios de viagem no estado norte-americana, seguiu viagem a bordo do Titan em duas ocasiões — uma aventura que custa 250 mil dólares (225 mil euros). A primeira não teve os resultados esperados e teve de ser interrompida durante a descida porque o submersível perdeu o sistema de propulsão de um lado do equipamento. As dificuldades não se ficaram por aí e também tiveram problemas no mecanismo que permite largar pesos para ajudar o submersível a regressar à superfície.

Apesar do percalço, no dia seguinte o Titan voltou a mergulhar para levar os passageiros, incluindo Price, até ao Titanic. Desta vez a tentativa foi bem sucedida e foi possível ver os destroços do histórico navio britânico.

“Eu reconhecia que a nossa viagem podia terminar com uma implosão”, disse também ao New York Times Alan Stern, cientista norte-americano que viajou no Titan em julho do ano passado. “O Titan viajou dezenas de vezes — nem sempre até ao Titanic — e para mim isso era uma indicação empírica de que estavam a organizar uma operação segura”, explicou.

A OceanGate fez manchetes pela forma inovadora de conduzir as expedições, mas o nível de segurança das viagens foi posto em causa mais do que uma vez, tanto por especialistas da área como por aqueles que estiveram prestes a embarcar nos seus submersíveis. Em 2018, uma equipa de 38 peritos escreveu uma carta ao CEO da empresa, Stockton Rush, em que alertava que as expedições ao Titanic podiam ter desde problemas pequenos a “catastróficos”.

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Figuras como o argumentista Mike Reiss e o jornalista David Pogue, que já foram ao fundo do mar com o Titan, chegaram a descrever a experiência como problemática. “Não há apoio, não há cápsula de fuga. É chegar à superfície ou morrer”, disse Pogue numa entrevista à BBC.

Após o desastre no Oceano Atlântico, a OceanGate suspendeu todas as operações comerciais e de exploração. Os passageiros assinaram um contrato que isenta a empresa de qualquer responsabilidade, incluindo em caso de morte, mas as famílias dos cinco homens que perderam a vida ainda podem vir a processar a empresa se forem detetados problemas de segurança escondidos.

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