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Hollywood: cem anos de um letreiro que dava um filme

Este artigo tem mais de 6 meses

Foi construído há um século para vender casas de um novo complexo imobiliário. Entretanto, foi vandalizado, comprado às letras e usado como cenário de protestos. Sempre a servir de anúncio de cinema.

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Em 1997 a atriz Michelle Yeoh sobrevoo as letras. A imagem foi captada a partir de um helicóptero quando foi lançado “007 — O Amanhã Nunca Morre”, no qual a atriz era a Bond Girl

Getty Images

Em 1997 a atriz Michelle Yeoh sobrevoo as letras. A imagem foi captada a partir de um helicóptero quando foi lançado “007 — O Amanhã Nunca Morre”, no qual a atriz era a Bond Girl

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Há 100 anos, quando o letreiro de Hollywood foi erguido na encosta do Monte Lee, na Califórnia, tinha mais quatro letras. O objetivo era que durasse apenas um ano e meio, para promover um novo empreendimento imobiliário de luxo, “Hollywoodland”, do editor do Los Angeles Times, Harry Chandler. Na altura, terá custado 21 mil dólares (cerca de 19 mil euros) e a operação de transporte foi complicada, com homens a carregarem letras montanha acima, por “íngremes encostas” e “estradas de terra”, lê-se no site da Hollywood Sign Trust, a associação que preserva o letreiro.

Até então, o sinal era uma novidade. Não só pelo tamanho das letras (13 metros de altura e 9 de largura), como pelo aparato, com luzes que piscavam para chamar a atenção durante a noite. Ao todo, eram 4 mil lâmpadas de 20 watts a iluminar letras à vez. Primeiro as de “Holly”, depois “wood” e por fim “land”, num efeito “verdadeiramente espectacular”, afirma o site da associação.

As quatro letras de “land” seriam retiradas mais de duas décadas depois, no final dos anos 40.

Com a crise de 1929, o empreendimento de luxo Hollywoodland revelara-se um “fracasso”, escreve o jornal britânico The Guardian, e o letreiro passou a ser propriedade da cidade de Los Angeles e não de um investidor privado.

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A própria placa também já revelava sinais de desgaste. De acordo com o Los Angeles Times, em 1944 o “H” foi derrubado pelo vento e em Setembro de 1949, a letra foi reconstruída pela Câmara de Comércio de Hollywood. Nessa altura, o “land” caiu definitivamente.

Na verdade, a letra “H” parecia já estar assombrada há algum tempo. Se ao longo dos anos a placa se tinha tornado o símbolo do glamour da indústria cinematográfica de Hollywood, por outro lado também representava o seu lado negro, como comprova a história da “Rapariga do Letreiro”, como lhe chamaram os jornais da altura.

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O letreiro original, que anunciava a venda de unidades de um complexo imobiliário que era então recém construído

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Em 1932, Peg Entwistle, uma atriz britânica com êxito na Broadway, fez as malas a caminho de Hollywood na esperança de fazer também sucesso no grande ecrã. Mudou-se de Nova Iorque para casa do tio na Califórnia, “praticamente na sombra do letreiro de Hollywood”, diz o site oficial da placa.

A 18 de setembro de 1932, escalou a pé o Monte Lee e, aproveitando as escadas de serviço, subiu ao topo da letra “H” e saltou. Tinha 24 anos. Não são claras as razões do suicídio, mas o site da Hollywood Sign Trust relaciona-o com a rejeição do meio. Como ela, “a maioria dos milhares de aspirantes a estrelas que chegavam a Hollywood eram rejeitados friamente”, lê-se.

O episódio tornou-se simbólico e inspirou cenas de filmes e canções como a mais recente “Lust for Life”, de Lana del Rey e The Weeknd, lançada em 2017. No videoclipe, os dois músicos juntam-se no topo do “H” do letreiro e a letra da canção pode ser vista como uma referência ao suicídio.

O sinal começava definitivamente a perder o brilho. E não apenas no sentido figurado. A partir dos anos 30, com os custos excessivos de manutenção e, mais tarde, o impacto da Segunda Guerra Mundial, as luzes apagaram-se.

Um artigo de 2022 do Los Angeles Times aprofunda o mito da iluminação do letreiro, uma das maiores “desilusões” dos turistas que visitam Hollywood nos dias de hoje, explicam.

O problema é das “representações falsas” do letreiro na cultura pop, concluem, dando como exemplo um dos cenários do programa de Jimmy Kimmel ou o filme de 2012 “Rock of Ages”, ambos com o letreiro iluminado: “É uma mentira”.

No mesmo artigo, Jeff Zarrinnam, responsável pela Hollywood Sign Trust, revela que o letreiro já foi iluminado algumas vezes, a pedido, e voltar a iluminá-lo esporadicamente é uma questão “controversa”, que está a ser estudada pela associação, tendo em conta o impacto, por exemplo, no trânsito ou na vida animal.

A associação Hollywood Sign Trust foi criada no fim dos anos 70, quando o letreiro atravessava outra fase de decadência e costumava ser vandalizado ou alvo de piadas com frequência.

Em 1976, Danny Finegood, um estudante de artes da Universidade da Califórnia, subiu a colina e modificou as letras do letreiro, de maneira a formarem a palavra “Hollyweed” (uma referência à legalização da marijuana). A propósito da visita a Los Angeles do Papa João Paulo II, Finegood mudou as letras para “Holywood” (um jogo de palavras com “holy”, sagrado), diz o “The Guardian”.

Dois anos depois da brincadeira, era fundada a associação de preservação do letreiro, com o objetivo de conseguir dinheiro para a sua reconstrução completa. Figuras como Hugh Hefner, Andy Williams, Alice Cooper ou Gene Autry ajudaram a angariar fundos. Os Fleetwood Mac chegaram a prometer um concerto solidário, entretanto cancelado pelos “residentes locais”, diz o site da associação.

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O letreiro como é conhecido e visível hoje, ao lado de uma das muitas acções de protesto que o usaram como suporte

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Hugh Hefner deu uma festa em honra do letreiro na sua Mansão Playboy e cada letra foi simbolicamente leiloada por 27.700 dólares (perto de 25 mil euros). Alice Cooper terá comprado a letra “O”, “em homenagem a Groucho Marx”, lê-se no site do Hollywood Sign. O cantor country Gene Autry patrocinou uma letra “L” e Andy Williams comprou o “W”.

Em agosto de 1978, o antigo letreiro foi removido e durante três meses não houve qualquer placa. O novo sinal foi feito com 194 toneladas de cimento, esmalte e aço e reinaugurado nesse ano.

Por ocasião dos 100 anos do letreiro (a data certa é incerta, mas pensa-se que terá sido erguido em julho de 1923), vários jornais e revistas destacaram a sua importância no imaginário de Hollywood com fotografias.

Uma das mais partilhadas nos últimos tempos é na verdade de 1997, com a atriz Michelle Yeoh a sobrevoar as letras. A imagem, tirada de um helicóptero quando foi lançado “007 — O Amanhã Nunca Morre”, no qual a atriz era a Bond Girl, foi publicada num artigo de capa da National Geographic e ressurgiu este ano, por ocasião dos Óscares (Yeoh ganhou o de Melhor Atriz).

Outra fotografia famosa é a de P-22, “o gato de Hollywood”, como lhe chama o Público ou o ”Brad Pitt dos pumas”, diz o The Guardian. O animal foi fotografado em 2013 no Parque Griffith, com o letreiro em pano de fundo e tornou-se um símbolo da resistência da vida selvagem num contexto urbano. O ano passado foi eutanasiado depois de ter sido encontrado ferido, provavelmente depois de ser atropelado.

Os festejos do centenário do letreiro começaram também o ano passado com uma nova pintura das letras que foi transmitida em streaming para quem quisesse acompanhar – durou oito semanas. Em janeiro de 2023, os responsáveis anunciaram que, a propósito do centenário iria ser criado um centro de visitantes com um museu, cinema e infraestruturas para turistas — não há data de inauguração e ainda estão a recolher donativos.

No site do letreiro há informações sobre os melhores trilhos e miradouros para observá-lo, a pé, em caminhadas que podem durar perto de 3 horas, ou de carro, num dos melhores sítios para fotografias.

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