Pingentes triangulares e em forma de lágrima feitos de material ósseo de preguiça gigante, polidos, esculpidos e perfurados, só podiam ser obra de artesanato humano, ainda que primitivo, concluíram os cientistas. Os fios que os suportavam há muito que desapareceram, mas o desgaste que provocaram no osso ficou marcado nos orifícios.

Os adornos foram encontrados no abrigo de Santa Elina, na Serra de Araras, no centro do Brasil. A camada onde se encontravam formou-se entre há 25 e 27 mil anos. Os resultados foram publicados num artigo científico, na quarta-feira, na revista Proceedings of the Royal Society B.

Idade do Gelo. Estudo revela que primeiras populações da América eram chinesas

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A descoberta destas três peças feitas a partir de osteodermas (depósitos ósseos na pele) de animais que viveram na Idade do Gelo (neste caso, Glossotherium phoenesis) vem reforçar a ideia de que os humanos ocuparam as Américas durante o último máximo glacial — quando a camada de gelo continental chegou ao seu pico, há 19.000 a 26.500 anos.

Em maio deste ano, um grupo de cientistas já tinha revelado a migração de populações da região agora ocupada pela China para as Américas durante a Idade do Gelo, mas os trabalhos que colocam os humanos no continente têm sido contestados, persistindo o cetismo em relação a uma ocupação que tenha ocorrido há mais de 16 mil anos.

Uma observação cuidadosa e microscópica permitiu que a equipa internacional descartasse que as marcas encontradas nos artefactos tivessem sido causadas por animais ou por outros agentes de erosão, que não o trabalho intencional de artesãos humanos.

O que a equipa de Thais R. Pansani, investigadora na Universidade Federal de São Carlos (São Paulo, Brasil) e primeira autora do artigo, não consegue dizer é se os osteodermas pertencem às preguiças gigantes cujos esqueletos foram encontrados no local, em Santa Elina, ou se foram trazidos de outro sítio. Também não sabem porque é que só foram encontrados três, mas sugerem que podem ter sido perdidos ou descartados por estarem partidos, uma vez que os humanos normalmente levavam os objetos pessoais quando deixavam os acampamentos.