Em atualização

Mais uma reunião tensa da bancada parlamentar social-democrata. A oposição interna a Luís Montenegro acusou a atual direção do PSD de “desvalorizar” a investigação do Ministério Público à gestão de Rui Rio e exigiu que o partido tivesse uma posição de força perante uma situação considerada “muito grave”, que coloca em causa, argumentam, o “sistema democrático, a autonomia dos partidos e a própria democracia”. Apesar de criticado, Miranda Sarmento recebeu voto de confiança para levar tema a conferência de líderes e, à saída, defendeu que as críticas internas não tinham fundamento. “A nossa reação foi bastante contundente.”

Ainda assim, foram muitos os sociais-democratas que aproveitaram a reunião da bancada parlamentar, pedida de forma potestativa e à revelia da vontade de Joaquim Miranda Sarmento, para desafiar o partido a chamar Lucília Gago ao Parlamento para que preste todos os esclarecimentos necessários – isto se a Procuradora-Geral da República continuar sem se pronunciar sobre as suspeitas que incidem sobre o PSD e sobre as buscas que foram conduzidas na quarta-feira, 12 de julho. Aos jornalistas, o líder parlamentar admitiu que a direção do partido vai estudar essa hipótese e tomará a decisão na reunião da comissão permanente nacional desta quarta-feira.

Voltando ao filme da reunião da bancanda. Segundo apurou o Observador, junto de fontes presentes no encontro, uma das intervenções mais veementes foi a de Adão e Silva, antigo líder parlamentar da era-Rio. “A situação é gravíssima e o PSD faz muito mal em desvalorizar. Foi infame o que fizeram com Rui Rio, uma espécie de auto de fé. [Mas] o grupo parlamentar é visado e está no centro do furacão criado pelo Ministério Público”, sublinhou o social-democrata

Paulo Mota Pinto, também ele ex-líder parlamentar e antecessor de Miranda Sarmento no cargo, classificou a questão de gravíssima e condenou a primeira reação da direção social-democrata. “Apesar de sermos a vítima, estamos a encolher-nos. Não podemos ter receio do Ministério Público”, insistiu o deputado, pressionando Miranda Sarmento a aproveitar a conferência de líderes convocada para esta quarta-feira para apoiar Augusto Santos Silva e no pedido de esclarecimentos a Lucília Gago. Caso continuem a faltar explicações sobre o que está verdadeiramente em causa, Mota Pinto, tal como outros deputados que se pronunciaram antes e depois dele, entende que a PGR deve ser chamada ao Parlamento.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

André Coelho Lima, antigo vice-presidente do PSD durante o reinado de Rui Rio, juntou-se ao coro de indignação que varreu parte do grupo parlamentar social-democrata. Para Coelho Lima, o comunicado da direção do partido tentou isolar Rui Rio – quando as práticas imputadas à presidência anterior continuam a existir aos dias de hoje – a reação de Miranda Sarmento “foi tardia” e exigia-se muito mais ao líder parlamentar. “Tudo isto nos envolve, enquanto deputados e grupo parlamentar. Esta reunião devia ter sido convocada pelo líder parlamentar. Não podemos fazer de conta que não é nada connosco”, insurgiu-se Coelho Lima.

António Maló de Abreu, outro dos mais próximos apoiantes de Rui Rio, fez uma das intervenções mais duras. “A situação é muito grave. Não delego ao líder parlamentar a minha liberdade e os meus princípios. Eu hoje não confio na Justiça”, começou por dizer, desafiando Miranda Sarmento a dar um sinal inequívoco  de “solidariedade” para com o grupo parlamentar e pressionando para que se ouça a procuradora-geral da República. “Temos de levantar as calças.”

A capa do Diário de Notícias – onde se lê “Montenegro desvaloriza caso das investigações às contas de Rui Rio” – foi algumas vezes citada durante a reunião da bancada parlamentar. Maria Emília Apolinário chegou acusar a direção do partido de não dar importância à gravidade da situação. “O PSD não nos defendeu a nós, enquanto grupo parlamentar. O presidente do PSD não pode desvalorizar o que aconteceu”, alegou.

A defesa de Miranda Sarmento

Na ausência de Luís Montenegro, que não se fez representar nesta reunião da bancada, Joaquim Miranda Sarmento foi o alvo das maiores críticas. O líder do grupo parlamentar garantiu que o partido não estava a desvalorizar o caso, condenou o facto de os deputados se terem precipitado na convocação desta reunião e assegurou que ela existiria de todo o modo.

À saída, em declarações aos jornalistas, Miranda Sarmento disse não se rever de “maneira nenhuma” nas críticas dos seus pares, lembrando que o partido e os seus dirigentes condenaram desde o primeiro momento e por diversas formas — incluindo uma carta oficial dirigida à PGR — a “desproporção dos meios” utilizados nas operações de buscas e a “intrusão da Justiça para lá daquilo que é o caso que está a ser investigado”. “A nossa condenação foi bastante contundente. Não creio que tenhamos falhado, nem no tempo, nem no modo”, disse.

Apesar do tom inicial da reunião da bancada parlamentar, os ânimos acabaram por serenar de alguma forma, com alguns deputados, como Carlos Eduardo Reis, outro homem de Rui Rio, a darem um voto de confiança para que Miranda Sarmento encontre a melhor solução na conferência de líderes desta quarta-feira. Outras fontes ouvidas pelo Observador garantem que houve sinais de união entre deputados e que o partido saiu mais coeso depois da reunião.

Hugo Carneiro, o maior visado nesta investigação a par de Rui Rio, uma vez que era o secretário-geral adjunto à altura dos factos, também interveio no início da reunião da bancada parlamentar, deixando claro que recebeu todo o apoio e solidariedade de Miranda Sarmento.

O social-democrata aproveitou, de resto, para anunciar que vai colaborar com a Justiça e revelou alguns detalhes sobre as buscas que foram conduzidas em sua casa em Lisboa, como o facto de ter tido seis inspetores armados, acompanhados por três procuradores, que tem provas de que foi recolhida mais informação que não está relacionada com a nomeação de funcionários e que não lhe foi prestado qualquer esclarecimento sobre tal facto.

Na casa de Carneiro, no Porto, foi ainda apreendido um computador portátil que pertence à Assembleia da República, que permitirá o acesso à rede interna do Parlamento e que tem documentos das comissões de inquérito em que o deputado participou — facto que já foi comunicado ao presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva.