Quase uma centena de pessoas foram detidas no Peru no sábado, em protestos, que coincidiram com feriados nacionais, contra a Presidente interina, Dina Boluarte, e exigindo justiça para os mortos em manifestações, noticiou este domingo a imprensa internacional.

O advogado José Balarazo, em declarações à televisão TeleSur, disse que foram detidos manifestantes na capital peruana, Lima, mas também nas regiões de Moquegua, Puno, Arequipa e Chiclayo.

Muitos dos detidos encontram-se nas esquadras de Lima, nomeadamente em Petit Thouars, Alfonso Ugarte e Cotabambas, entre outras, embora vários dos detidos tenham sido libertados graças ao trabalho da Coordenadoria Nacional dos Direitos Humanos.

Balarazo destacou que a repressão é dirigida contra os líderes do protesto, no âmbito de uma estratégia de criminalização da mobilização.

Representantes do aparelho judiciário e das forças de segurança vão às casas dos líderes das manifestações com supostos procuradores e agentes policiais e informam as famílias que os seus familiares produzem projéteis e foguetes, entre outras acusações que usam para intimidar, segundo o advogado.

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Trata-se de denúncias “arbitrárias e sem acusações”, de acordo com Balarazo, que exigiu a libertação dos detidos e o respeito pelos direitos humanos.

Alguns dos detidos em Lima estão internados em hospitais, nomeadamente pessoas que foram baleadas na sexta-feira e outras que foram atingidas pelo gás lacrimogéneo lançado no sábado na praça Dois de Maio. Balarazo alertou que o Estado democrático está “sequestrado” e que houve uma mudança de regime constitucional no país. “Estamos a viver praticamente o sequestro do Estado democrático e do respeito pelos Direitos Humanos”, destacou.

Um grupo de manifestantes reuniu-se sábado em frente à sede da Divisão de Assuntos Sociais, no bairro de Rímac, em Lima, para exigir a libertação do jornalista, professor universitário e documentalista Kenty Aguirre, bem como do líder da coordenadora de organizações do bairro Lima Norte, Raúl Tinco, ambos detidos na sexta-feira.

O jornal Muqui Vermelho noticiou o envio de um grande contingente da polícia para cercar os manifestantes, mas também que a pressão levou à libertação de Tinco durante a noite.

Um dos afetados pelas acusações da polícia na sexta-feira na praça Dois de Maio, o líder da Central Unida de Luta (CNUL) Germán Altamirano, indicou que “a brutalidade da polícia obedece a ordens recebidas do Executivo, do Congresso e dos militares comandantes”, numa estratégia para ameaçar os manifestantes.

Altamirano lembrou que o atual presidente do Congresso, Alejandro Soto, tem 55 investigações judiciais abertas e alertou que os protestos continuarão até a renúncia do Congresso e de Boluarte, que classificou como usurpadora e traidora.

Por ocasião da destituição e prisão do ex-Presidente Pedro Castillo em 07 de dezembro de 2022, milhares de pessoas saíram às ruas para protestar contra as novas autoridades encabeçadas por Dina Boluarte.

Boluarte, eleita vice-presidente na candidatura de Castillo, assumiu de seguida a chefia do Estado e de imediato confrontou-se com amplos protestos e que têm assinalado os seus oito meses de mandato, com um balanço de pelo menos 77 mortos, na sua maioria civis.

Na sexta-feira, Dina Boluarte pediu perdão em nome do Estado, durante o seu discurso no Congresso pelo dia da Independência, aos familiares das vítimas dos protestos antigovernamentais iniciados no final do ano passado.

No seu discurso, Boluarte assegurou que “não houve vencedores nem vencidos” durante as manifestações que se prolongaram até março.