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A Argentina parece recusar-se a viver um sonho. Na quarta participação em Mundiais, as sul-americanas ainda procuravam a primeira vitória na competição. Num país de Messis e Maradonas, a alviceleste tem dificuldades em encontrar referências no feminino, muito embora a evolução continue.

“Em relação ao último Mundial, a maior diferença é a preparação que tivemos”, referiu a internacional argentina Aldana Cometti. “Sentimo-nos mais preparadas. Tivemos mais jogos particulares do que da última vez. Sentimo-nos mais competitivas”. A jogadora do Madrid CFF explicou que as condições da equipa melhoraram desde 2019. “Fomos para França com uma equipa médica de duas pessoas. Hoje, é uma equipa médica de seis pessoas. Triplicámos isso. É uma grande conquista para nós termos tantos funcionários numa equipa médica. Foi parte da nossa luta e do que a federação também está a promover para o crescimento do futebol feminino”.

A seleção treinada por Germán Portanova, com o empate diante da África do Sul, deixou escapar a hipótese de triunfar pela primeira vez num Mundial. Ainda assim, garantiu a hipótese de discutir, no grupo G, o apuramento para o oitavos de final. Pela frente, estava a já apurada Suécia que se tem destacado pela maneira como aproveita as situações de bola parada para capitalizar a vantagem física face às adversárias.

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Fridolina Rolfö, internacional sueca, no fim do jogo contra a Itália, em que a vitória ficou garantida com três golos na sequência de pontapés de canto, expôs a confiança que a equipa sente no jogo aéreo. “Sabemos o quão boas somos em lances de bola parada e mostrámos isso mesmo”. Ainda assim, o selecionador argentino garantiu que não havia espaço para surpresas. “Nada nos surpreende. Desde que soubemos que íamos defrontar a Suécia, temos vindo a preparar-nos para enfrentar este jogo da melhor forma. Obviamente, são jogadoras altas”, lançou Germán Portanova. “Vamos tentar conseguir defender essas bolas da melhor forma”.

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Em Hamilton, na Nova Zelândia, a Argentina evitou sofrer dessa forma, mas vacilou noutros aspeto. A primeira parte não teve golos. Embora a Suécia adotasse uma postura agressiva, pressionando alto a Argentina, não era capaz de recuperar a bola em zona subida. Esse aspeto permitia que a alviceleste conseguisse sair com frequência para o ataque, o que dava margem às sul-americana para respirarem. 

Na segunda parte, a Suécia, mantendo o mesmo volume ofensivo, continuou sem criar muitas oportunidades. No entanto, foi mais eficaz. Aos 66 minutos, Sofia Jakobsson cruzou para Rebecka Blomqvist (66′) fazer o primeiro golo. Elin Rubensson (90′), de grande penalidade, selou a vitória por 2-0. Peter Gerhardsson nem precisou de recorrer a Fridolina Rolfö para garantir o triunfo que confirmou o favoritismo. A Argentina voltou a sair de um Mundial sem vencer.

A pérola

  • A primeira titularidade de Rebecka Blomqvist num Mundial soou a recompensa. Aos 22 anos, a jogadora do Wolfsburg enfrentou um cancro nos ovários. “É impossível explicar, mas o mais difícil de tudo é a incerteza”, explicou em 2020 ao jornal sueco Expressen. “Senti impotência, não tinha hipótese de influenciar o que ia acontecer. É a doença que decide”. O problema foi detetado a tempo de evitar que se agravasse e Blomqvist não precisou de tratamentos. Agora, com 26 anos e reabilitada, foi ela quem teve uma palavra a dizer no jogo com a Argentina.

O joker

  • Apenas duas jogadoras (Amanda Ilestedt e Magdalena Eriksson) repetiram a titularidade na Suécia em relação ao jogo com a Itália. Hanna Bennison foi uma das novidades no meio-campo. Mostrou muita capacidade técnica para manobrar a bola em espaços reduzidos. Desbloqueou o lance do golo inaugural da Suécia com uma rotação de elevado grau de dificuldade no espaço entre linhas.

A sentença

  • A Suécia jogava apenas para saber se terminava em primeiro ou em segundo no grupo G, sendo que, devido ao saldo de golos em comparação com a Itália, a única equipa que podia ameaçar a liderança, era quase impossível que as nórdicas não conseguissem o melhor lugar de qualificação para os oitavos. A seleção sueca acabou mesmo por ficar no posto mais alto do grupo. Assim, na primeira ronda a eliminar, o Mundial co-organizado por Austrália e Nova Zelândia vai ter um Suécia-Estados Unidos, jogo digno de final. A Argentina fica pelo caminho, terminando em quarto lugar.

A mentira

  • Seria fácil pensar que a Suécia pudesse abordar os pontapés de canto de uma forma diferente de modo a tentar surpreender as adversárias. A verdade é que a superioridade das nórdicas é tanta que mesmo que a Argentina soubesse que o selecionador sueco, Peter Gerhardsson, ia dar indicações às suas jogadoras para se concentrarem na pequena área, seria muito difícil contrariar essa abordagem. A Suécia não foi tão eficaz como contra a Itália, mas, mesmo assim, causou sempre muito desconforto nos esquemas táticos.