Rex Heuermann, suspeito dos assassínios em Gilgo Beach, em Long Island (no estado de Nova Iorque), foi presente em tribunal esta terça-feira e declarou-se inocente. O homem de 59 anos está acusado da morte de três mulheres e é o principal suspeito da morte de uma quarta (mas ainda não existe acusação sobre este último caso).

A acusação entregou 2.500 documentos e centenas de horas de vídeos de vigilância da casa e escritório do arquiteto, pai de duas crianças. Os advogados do suspeito dizem estar preparados para defender o cliente em tribunal. A próxima audição pré-julgamento será no dia 27 de setembro.

Na zona de Gilgo Beach foram encontrados outros seis corpos, mas a polícia não disse se estarão relacionados com o mesmo caso, noticia a revista Time. Também não existe ligação aparente entre Rex Heuermann e os quatro assassínios em Atlantic City, no estado de Nova Jérsia, de acordo com o promotor de justiça de Atlantic City, William Reynolds, citado pela ABC News.

Pelo menos 10 corpos encontrados em Gilgo Beach

O primeiro corpo a ser encontrado foi o de Melissa Barthelemy, de 24 anos, no dia 11 de dezembro de 2010. Dois dias depois, a polícia encontrou os outros três corpos: Amber Lynn Costello, de 27 anos, e Megan Waterman, de 22 anos, incluídas na acusação; e Maureen Brainard-Barnes, a vítima de 25 anos que não faz parte desta acusação. Meses mais tarde, a polícia encontrou outros seis corpos de vítimas — incluindo uma mulher e a filha de dois anos, e um homem asiático — que podem ter desaparecido mais de uma dezena de anos antes, refere a polícia de Suffolk.

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As três vítimas na acusação foram dadas como desaparecidas entre julho de 2009 e setembro de 2010, Maureen Brainard-Barnes antes, em julho de 2007. Os casos foram relacionados porque todos tinham em comum serem prostitutas — tal como outras três vítimas encontradas mais tarde —, estarem na casa dos 20 anos e terem desaparecido depois de saírem com um cliente. Ainda mais importante, foram todas encontradas com os tornozelos amarrados e embrulhadas com um material tipo serrapilheira.

Arquiteto, casado, pacato e pai de dois filhos. Suspeito de assassinar até 11 pessoas em 2010 e 2011 detido em Long Island

Em fevereiro de 2022, foi criado um grupo de trabalho para Investigação dos Homicídios de Gilgo Beach, pela Polícia de Suffolk, que a partir de uma testemunha chegou ao suspeito que foi preso em Manhattan a 13 de julho. Algo que poderia ter acontecido anos mais cedo não fossem as falhas na investigação, a corrupção e o facto de o comissário de Suffolk, James Burke, se ter recusado a trabalhar com o FBI, conta o jornal The New York Times.

Um testemunho importante que não tinha sido investigado

A testemunha viu um carro no local no dia do desaparecimento de uma das vítimas que corresponde à viatura que o arquiteto tinha na altura. Depois, os investigadores verificaram que o ADN dele corresponde ao de um cabelo encontrado numa das vítimas e também que todas elas receberam chamadas de locais próximos da casa do suspeito em Massapequa Park e do escritório em Manhattan, reporta a Time.

Nos 12 dias de buscas, a casa de Rex Heuermann ficou irreconhecível a julgar pelos testemunhos da mulher, que pediu o divórcio depois da detenção e que afirma não ter desconfiado de nada, noticia a CNN. Ali, a polícia encontrou 279 armas e 90 licenças de porte de arma e recolheu uma grande quantidade de material para análise. Uma retroescavadora revolveu o quintal da casa, mas nada de significativo foi encontrado, noticia o jornal The Intelligencer – New York Magazine.

Não saberemos exatamente o que temos durante algum tempo, tendo em conta o volume absoluto de provas que foi recolhido”, disse Ray Tierney, promotor do condado de Suffolk.

Outro das descobertas dos investigadores foi uma conta de email falsa que o suspeito usava para procurar conteúdos pornográficos violentos com crianças e mulheres a serem violadas, noticia o jornal The New York Times.

Homicídios de prostitutas ainda por resolver

Quatro mulheres foram encontradas num vale de drenagem à saída de Atlantic City em 2006. Algumas notícias após a detenção de Rex Heuermann apontavam para uma relação com estes casos, mas o promotor de justiça disse que não tinha sido encontrada ligação. O caso do “Estrangulador de Leste” (“Eastbound Strangler”) envolveu mais de 100 detetives e promotores de justiça numa fase inicial, mas continua sem resolução.

A Associated Press procurou fazer lista dos casos de homicídios de prostitutas que continuam por resolver nos Estados Unidos, mas o FBI recusa dar essa informação. Entre estes crimes, estão nove mulheres mortas nas autoestradas de Massachusetts, 11 mortas no Novo México, oito nas fazendas de lagostins e pântanos do Louisiana, fora outras mortes de profissionais do sexo em Chicago, New Haven, Connecticut, Ohio, entre outros locais.

Phoenix Calida, que trabalhou como prostituta em Chicago, diz que a polícia não se interessa verdadeiramente por estes homicídios e que os criminosos sabem como estas mulheres são vulneráveis. “Sentimos que a única maneira de sermos lembradas é quando apanharem o assassino em série que nos matou, então farão cinco filmes sobre ele e ninguém se lembrará do nosso nome”, disse a promotora da iniciativa Sex Workers Outreach Project, citada pela AP.

A agência de notícias lembra ainda o caso de Gary Ridgway, o assassino de Green River, que matou 49 profissionais do sexo e se deu como culpado no tribunal em 2003. O homicida disse que tinha escolhido prostitutas porque ninguém iria dar por falta delas: “Podia matar quantas quisesse sem ser apanhado”.